Oliveira de Casais de São Brás é um monumento com 3 milénios
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Com cerca de 3 mil anos de idade e 30 anos como árvore de interesse público, a oliveira vizinha da capela de Casais de São Brás, em Santarém, é um monumento vivo. Não tem a fama da sua congénere de Abrantes, mas ganhou recentemente reconhecimento e projecção através do concurso Árvore do Ano. A Câmara de Santarém vai distingui-la no próximo Dia Mundial da Árvore.
Assistiu à ascensão e queda de impérios e monarquias, foi testemunha das múltiplas ocupações que povos de outras latitudes fizeram das terras ibéricas até à fundação de Portugal e era já uma oliveira com estatuto ancestral quando alguns mitos da nossa História, como Viriato, D. Afonso Henriques, Vasco da Gama ou Luís de Camões protagonizaram os feitos que lhes deram um lugar na nossa galeria dos imortais. Calcula-se que a oliveira milenar localizada junto à capela de Casais de São Brás, um pequeno lugar do concelho de Santarém, tenha cerca de 3 mil anos. Em 2022 a sua pacata e longeva existência mereceu nomeação para o concurso Árvore do Ano, pela mão do município de Santarém. A votação online deu-lhe um 9º lugar que não envergonha.
Não sendo tão antiga, imponente e famosa como a Oliveira do Mouchão, no lugar de Cascalhos, no concelho de Abrantes, a oliveira de Casais de São Brás também é contemporânea dos faraós do antigo Egipto e considerada árvore de interesse público desde 24 de Agosto de 1993. Como reconhecimento por tudo isso a Câmara de Santarém irá distingui-la no Dia Mundial da Árvore, 21 de Março, com a colocação de uma placa informativa e interpretativa. Está também em avaliação a possível sinalização nas estradas de acesso para orientação de visitantes, informa o vereador da Câmara de Santarém, Nuno Russo, que tem os pelouros dos Espaços Verdes e Protecção Ambiental.
Esta relíquia vegetal nascida na Idade do Ferro tem sete metros de altura e apresenta um tronco dividido em três com raiz comum. “Os troncos são vigorosos, estão completamente retorcidos e são de grande efeito plástico, com inúmeras cavidades, que ramificam fazendo copa comum, ampla densa e muito frondosa”, lê-se na ficha técnica da oliveira de Casais de São Brás.
E como se chega à idade da oliveira? Nuno Russo explica: “Por comparação do perímetro medido na base (10,30m) com o da oliveira do Mouchão, em Abrantes (11,12m), cuja idade está avaliada em 3.350 anos, é possível admitir que a oliveira de Casais de São Brás tenha quase 3.000 anos podendo ser uma das árvores mais antigas do nosso país e uma testemunha da nossa história, desde o tempo dos Celtiberos ou do início da Idade do Ferro, o que lhe confere um extraordinário valor cultural, natural e genético”. Contudo, o município está a ponderar a realização de um processo de certificação de datação da idade da árvore.
Uma velhinha cheia de saúde
Apesar da idade o último relatório de vistoria à oliveira informa que a mesma aparenta ter o seu aspecto biofísico e vegetativo muito bom, apresentando-se bastante viçosa e sem sinais de pragas ou doenças continuando a ser explorada e a produzir fruto, esclarece Nuno Russo a O MIRANTE. A árvore foi alvo de vistoria em 1993, 2006, 2015 e, mais recentemente, em 2022, a pedido do município de Santarém.
“Verifica-se que o seu proprietário tem efectuado podas regulares de limpeza e para assegurar a produção, pelo que, aparentemente, não necessita de quaisquer outras intervenções de gestão e conservação”, acrescenta Nuno Russo. Para dar mais protecção a esse exemplar milenar a Câmara de Santarém, em acordo com o proprietário, pondera a instalação duma vedação simples em redor da árvore que impeça o estacionamento de viaturas e dissuada a passagem de pessoas, para se evitar a compactação do terreno.
Nuno Russo informa que o município pretende ter mais árvores classificadas no concelho e, entre elas, continuar a apresentar candidaturas ao Concurso Árvore Portuguesa, eventualmente incluindo novamente a oliveira milenar de Casais de São Brás.
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Mouriscas tem a oliveira mais antiga de Portugal
Localizada no lugar de Cascalhos, em Mouriscas, concelho de Abrantes, a oliveira que a população associa à época dos faraós do antigo Egipto é um ponto de visita muito procurado.
No concurso Árvore do Ano 2022 esteve outra representante do distrito de Santarém, a Oliveira do Mouchão, localizada no lugar de Cascalhos, em Mouriscas, concelho de Abrantes, que é já uma velha conhecida dos leitores de O MIRANTE. Ficou em 6º lugar. Um estudo realizado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro atestou que este exemplar tem 3.350 anos.
É a oliveira mais antiga de Portugal e uma das árvores mais velhas do mundo. A Oliveira do Mouchão, assim designada por ter sido local onde os pescadores reuniam antes de irem pescar para a pesqueira do Mouchão, no rio Tejo, tem um perímetro de base de cerca de onze metros. Está localizada em terrenos particulares mas é propriedade da Junta de Freguesia de Mouriscas.
Segundo reza a história, a Oliveira do Mouchão foi entregue, há muitas gerações, à igreja como forma de pagamento de promessa. A igreja, entretanto, ofereceu-a ou vendeu-a, não se sabe ao certo, a duas irmãs que viviam em Cascalhos. Quando a junta tomou conta da árvore fez dela um ponto turístico e de visita obrigatória. Nos últimos anos foi construído um muro à volta da oliveira, que realça a sua beleza e permite mantê-la em boas condições.
“A gruta natural que se forma no tronco já serviu para todo o tipo de actividades: manjedoura para os bois, abrigo para fugir ao mau tempo, lugar para os jovens brincarem, para os amantes namorarem às escondidas e até lugar para os homens da aldeia se reunirem a jogaram as cartas”, contou a O MIRANTE José Francisco, morador em Cascalhos, na reportagem publicada em Março de 2020.