Sociedade | 22-02-2023 15:00

Doentes urgentes esperam 10 horas para serem atendidos no Hospital de Vila Franca de Xira

Doentes urgentes esperam 10 horas para serem atendidos no Hospital de Vila Franca de Xira
Paula Alexandra apresentou reclamação por escrito no Hospital de Vila Franca de Xira pelo tempo de espera. fotoDR

Triada com pulseira amarela Cidália Albuquerque esperou 10 horas até ser vista por um médico.

Na mesma situação estiveram outros doentes no serviço de urgência do Hospital de Vila Franca de Xira. Hospital fala em forte pressão devido à elevada afluência e assegura que não há falta de médicos no serviço de urgência.

Cidália Albuquerque, residente em Vialonga, deu entrada no Hospital de Vila Franca de Xira às 13h00 de sexta-feira, 10 de Fevereiro, com uma crise aguda de urticária. A mulher de 68 anos, que sofre de problemas respiratórios, foi triada com pulseira amarela (urgente) meia hora depois, mas teve que esperar 10 horas até ser observada por um médico. Saiu da urgência às 04h30 do dia seguinte. Este é um dos casos mais recentes a chamar à atenção para as dificuldades sentidas nas urgências da unidade hospitalar, onde a falta de médicos tem sido motivo de contestação por parte do Sindicato Independente dos Médicos.
“Foi um tempo de espera abismal”, que fez com que passadas seis horas após a entrada no serviço de urgência, a filha da utente, Paula Alexandra, pedisse uma reavaliação devido às dificuldades respiratórias que a utente começou a apresentar. “Após todas essas horas ainda tinha 22 pessoas à frente e às 21h00 tinha dez. Entre as 19h00 e as 21h00 só tinham chamado dois doentes”, desabafa a O MIRANTE, lamentando que a enfermeira de serviço tenha recusado reavaliar o estado de saúde da sua mãe que apresentava uma piora clínica. “Só o fez depois de eu pedir o livro de reclamações e pedir para falar com a enfermeira chefe”, explica.
Contactado por O MIRANTE, o hospital refere que o serviço de urgência geral “tem estado sob forte pressão, devido à grande afluência de utentes, com dias a ultrapassar os 400 atendimentos”, o que “tem impacto no tempo médio de espera que os profissionais de saúde tentam minimizar, seguindo escrupulosamente as prioridades clínicas existentes”. Especificamente sobre o dia 10 de Fevereiro, foram atendidos na urgência 401 utentes tendo estado ao serviço oito médicos de Medicina Interna, com reforço de nove médicos de Clínica Geral. A unidade acrescentou que “tempo médio de espera não reflecte as 10 horas”, estando quatro dias depois, na terça-feira, 14 de Fevereiro, para pulseiras amarelas num registo de menos de duas horas de espera.
Paula Alexandra deixou por escrito o seu descontentamento no livro de reclamações do hospital. “Não foi a primeira vez que o fiz. Este ano já fui três vezes à urgência [como acompanhante] e em todas o tempo de espera foi muito mau”, diz, partilhando que numa das vezes o seu namorado apresentava 41 graus de febre quando, seis horas após a entrada no hospital, foi chamado para ser visto por um médico. “Perguntou-lhe porque estava na sala de espera porque podia ter tido uma convulsão”. Uma situação que, garante, aconteceu a um utente que tinha sofrido um traumatismo craniano e ficou a aguardar a chamada na mesma sala. “O médico e a maca demoraram cinco minutos a chegar enquanto o senhor se contorcia. Gerou muita indignação”, conta.
O Sindicato Independente dos Médicos tem vindo a alertar para a falta de médicos no serviço de urgência externa no Hospital de Vila Franca de Xira e acusa a unidade de dar preferência à contratação de prestadores de serviços em vez de contratar médicos de Medicina Interna. Sobre este tema o hospital refere a O MIRANTE que “o serviço cumpre as dotações exigidas, com cinco médicos especialistas em Medicina Interna e reforço de médicos de Clínica Geral”.

“Discrepância abismal na qualidade” face ao passado recente
A saída do Grupo José de Mello Saúde do Hospital de Vila Franca de Xira em Maio de 2021, recorde-se, foi muito contestada e a piora na qualidade do serviço tem levado utentes e autarcas de concelhos servidos por aquela unidade a defender o regresso da gestão privada. Paula Alexandra é também uma das utentes que considera que tem havido uma quebra na qualidade do serviço prestado: “Venho de muitas experiências com o Grupo Mello e é notória, para alguém que como eu vai com regularidade a este hospital, uma discrepância abismal na qualidade, mesmo na triagem”, lamenta, ressalvando que não coloca culpas nos profissionais de saúde mas na gestão hospitalar. “Algo se passa porque ao nível do atendimento médico não há nada a apontar. Não sou daquelas pessoas que acha que os médicos estão sentados sem fazer nada com doentes à espera de serem atendidos”, reforça.

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