Casa de São Pedro de Alverca com orçamento chumbado e processos em tribunal

A Casa de São Pedro de Alverca vive momentos conturbados. A actual direcção, liderada por José Manuel Peixeiro, está de saída após o chumbo do orçamento para 2023 e não vai chegar ao final do mandato. Também a semana passada foram movidos três processos contra a instituição, o que não caiu bem junto dos funcionários.
A Casa de São Pedro de Alverca, uma das maiores instituições de apoio a idosos no concelho de Vila Franca de Xira, vive momentos difíceis. A actual direcção, liderada por José Manuel Peixeiro, está de saída da instituição após o chumbo do orçamento para 2023 na assembleia-geral realizada a 24 de Novembro do ano passado. José Manuel Peixeiro, tesoureiro durante quatro anos e presidente do lar há dois, explica a O MIRANTE que entendeu não ter condições para continuar e por isso decidiu não apresentar outro orçamento. Com o presidente sai também a restante direcção, que em dois anos de mandato viu falecer uma tesoureira e mais recentemente o vice-presidente António Vargas.
A Casa de São Pedro alberga 111 utentes: 21 provenientes das vagas da Segurança Social e 90 da instituição, e tem uma lista de espera longa. O valor máximo mensal pago por cada idoso é de 1.050 euros sendo o valor variável conforme os rendimentos. Só no quadro a instituição tem 120 funcionários, fora enfermeiros e médico. José Manuel Peixeiro garante que o total das receitas não supera os custos. “O orçamento é de dois milhões e 700 mil euros por ano. Não chega para gerir o lar, que é uma empresa média”. Dadas as dificuldades financeiras a direcção decidiu dispensar três técnicos em Janeiro de 2021: os médicos Vítor Amaral e Luís Pinto e a directora técnica Carla Lopes, que manifestou vontade de sair do cargo.
A semana passada a instituição foi confrontada pelo Ministério Público de Vila Franca de Xira com a abertura de um inquérito na sequência da queixa apresentada na PSP de Alverca pela ex-fisioterapeuta do lar, Marina Simões. Segundo a própria, em declarações à TSF, existiam casos de maus-tratos na instituição em que trabalhou durante sete anos. José Manuel Peixeiro já respondeu no Tribunal de Trabalho de Vila Franca de Xira e alega que as queixas da ex-trabalhadora são infundadas.
“A Marina criou um clima de instabilidade na Casa de São Pedro e não respeitou a hierarquia da instituição. Não respeitava o médico Vítor Amaral nem a directora Carla Lopes. As queixas de maus tratos não têm razão de ser, foi tudo empolado. É verdade que a proibi de entrar aqui depois da queixa apresentada no Ministério Público”, conta o ainda presidente da direcção.
A ex-funcionária pediu a demissão através de carta no dia 22 de Setembro de 2021 e a actual direcção tomou posse a 5 de Janeiro de 2021. José Manuel Peixeiro aceitou a demissão e diz não entender o motivo da fisioterapeuta reclamar uma indemnização. Para além deste processo, que ainda está a decorrer, entraram em tribunal mais dois. Um deles alega maus tratos a um idoso que esteve no lar de 2013 a 22 de Novembro de 2021. Outro alega maus tratos por causa de um hematoma num braço de um utente. José Manuel Peixeiro nega as acusações e garante que os idosos são bem tratados.
Funcionárias incrédulas
com as queixas
Na visita feita por O MIRANTE à Casa de São Pedro as funcionárias disseram estar tristes e ofendidas com as acusações que vieram a público. Uma das auxiliares, com trinta anos de casa, garante que todos os utentes são bem tratados e que nunca assistiu a maus tratos. A funcionária lamenta a má imagem que estes casos geram e relata que familiares de utentes, que estão em Angola e na Madeira, já se mostraram preocupados.
Outra auxiliar diz que também foi confrontada no café por cidadãos e diz ser triste falarem mal do local onde trabalha. Catarina Figueira, enfermeira a meio tempo na instituição desde 2018, garante nunca ter assistido a maus tratos. “Temos uma agenda onde os tratamentos estão todos marcados e estamos sempre disponíveis para falar com as famílias. Já sabia da existência dos conflitos com a fisioterapeuta mas foi com surpresa que vi a notícia vir a público e nas redes sociais”, lamenta.
A directora técnica actual, Marília Cardoso, entrou para a instituição a 7 de Abril de 2022, através de um processo externo de recrutamento, por isso não se pronuncia sobre os factos ocorridos anteriormente, mas comenta que desde que trabalha no lar nunca assistiu a nenhuma situação fora do comum.
Eleições com duas listas a concurso
A Casa de São Pedro de Alverca vai a eleições no dia 3 de Março. A disputar a direcção de 2023 a 2026 estão duas listas. António Ilhéu Baguinho encabeça a lista “Saber Servir”, que como candidato à vice-presidência tem Luís Gomes Coelho. Ainda nesta lista constam nomes que saem da actual direcção a começar pelo presidente da assembleia-geral, Afonso Costa. A lista B é encabeçada por João Martins, com Carla Ferrer Ribeiro como candidata a vice-presidente. Para a mesa da assembleia-geral lidera a lista Helena Tomaz.