Famílias contestam aumento das mensalidades no lar da Misericórdia de Benavente

Familiares receberam informação por carta e sentem-se revoltados com a decisão da Misericórdia de Benavente. Provedor justifica aumento em Janeiro com o aumento do custo de vida, depois da instituição ter ficado com o apoio extraordinário pago aos idosos em Outubro.
Os idosos do lar da Santa Casa da Misericórdia de Benavente foram obrigados a dar à instituição o apoio extraordinário pago pelo Governo aos pensionistas no final do ano passado e, além disso, foram confrontados com novo aumento no início deste ano. Os familiares foram informados através de carta ou email e dizem não compreender o motivo para um aumento que está a pesar nos seus orçamentos, uma vez que as pensões dos idosos não cobrem a totalidade da mensalidade.
A O MIRANTE, Sílvia Brardo refere que em Fevereiro do ano passado a sua mãe, utente da instituição, pagava 658 euros, tendo passado a pagar 729 em Outubro, aumento mensal justificado pelo recebimento de valor adicional recebido pelos utentes reformados. “A nossa revolta é porque pensamos que este ano o aumento não ultrapassaria os 10 ou 15 euros mas recebemos uma carta para mais um aumento de 70 euros, passando a mensalidade para 792 euros”, explica, acrescentando que está numa situação de “desespero” por não conseguir suportar um valor tão elevado.
Além de Sílvia Brardo, uma outra pessoa, que pede para não ser identificada, confessa que teve que pedir ajuda a terceiros para conseguir cobrir o aumento da mensalidade do seu familiar e teme não conseguir continuar a suportar essa despesa. “Receamos que os ponham na rua”, sublinha, alertando que a maior parte dos familiares trabalham e não têm condições nem disponibilidade para cuidar dos seus idosos.
Contactado pelo nosso jornal, o provedor da Misericórdia de Benavente, Norte Jacinto, justifica o aumento da comparticipação dos utentes com a subida dos custos da alimentação, da energia e da actualização salarial dos funcionários (55 euros). No caso da energia, informou, houve uma subida de oito mil euros para 18 mil euros mensais e no ano passado foi registado um défice superior a 100 mil euros na área social.
Familiares aconselhados a pedir apoio à câmara
“Tivemos que fazer aumentos para que a instituição possa continuar a funcionar. É isso que estamos a pedir às famílias. Como o nosso custo por utente não estava apurado utilizamos o da Segurança Social”, afirma, assegurando que a decisão cumpre com a lei e que o custo por utente deste lar seria garantidamente superior ao valor base da Segurança Social. Sobre a possibilidade de quem não cumprir ter que abandonar a instituição o provedor diz: “Ninguém disse que as pessoas vão ser postas na rua. Somos uma Misericórdia, isso é por si uma garantia”. Mas não quer isso dizer, completou, que a instituição se pode “substituir às famílias” e suportar as mensalidades.
Norte Jacinto adiantou ainda que alertou o presidente da Câmara de Benavente para a situação difícil da instituição. Alguns familiares foram mesmo aconselhados por si a dirigirem-se aos serviços camarários e pedir ajuda, uma vez que há municípios, como é o caso de Cascais, que estão a dar esse apoio.
O MIRANTE contactou o presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho, que afirma que apesar de reconhecer o impacto do aumento do custo de vida nas instituições e de a autarquia estar a avaliar a situação, é “inaceitável” já haver familiares a dirigirem-se aos serviços da câmara. “É algo que não nos compete. A Câmara de Benavente é pequena, não a podemos comparar com Cascais ou Lisboa que têm receitas brutais”, disse, ressalvando que esse facto não impede que os casos possam ser avaliados.
Segurança Social contra aumentos para as famílias
Em Dezembro do ano passado o Ministério da Segurança Social admitiu que não queria que as Instituições Particulares de Solidariedade Social ficassem com o bónus de meia pensão atribuído aos utentes em Outubro, nem que as mensalidades das famílias com os lares subissem este ano. Foi por isso feita uma adenta ao acordo de actualização das verbas a transferir para as IPSS em 2023, mas estas não concordaram, obrigando a novas negociações. O MIRANTE questionou a Segurança Social sobre o ponto de situação, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.