Governo deixa Cegada de Alverca sem dinheiro para serviço público cultural
Director artístico da companhia confirma que sem apoios a actividade vai ficar bastante reduzida. O Cegada é uma das 13 estruturas artísticas que na última semana colocou o Estado em tribunal por não concordar com a forma como os apoios foram distribuídos.
A Companhia de Teatro Cegada, de Alverca, uma das duas companhias de teatro profissionais do concelho de Vila Franca de Xira, ficou excluída dos apoios da Direcção-Geral das Artes para o próximo biénio e com isso a actividade de serviço público à comunidade está em risco. A informação é confirmada a O MIRANTE pelo director artístico da companhia, Rui Dionísio.
O Cegada foi também uma das 13 estruturas artísticas que entregaram, no dia 8 de Março, uma providência cautelar no Tribunal Administrativo de Lisboa que visa impugnar os resultados dos concursos do programa de apoio sustentado para o próximo biénio da Direcção-Geral das Artes (DGArtes). As entidades, que fazem parte do chamado “Grupo de Estruturas Lesadas pelo Ministério da Cultura”, num total de 18, contestam o facto do ministro da Cultura ter aumentado a dotação disponível para os concursos quadrienais e não mexer nos bienais, já depois de conhecer as candidaturas apresentadas o que, consideram, viola os princípios da imparcialidade.
O Cegada de Alverca, explica Rui Dionísio, candidatou-se ao programa bienal por se encontrar na Área Metropolitana de Lisboa e ter de enfrentar candidaturas de estruturas de maior dimensão como o Teatro da Comuna, o Teatro Aberto ou o Teatro Experimental de Cascais. Teve uma pontuação de 79,2% no concurso bienal, insuficiente para conseguir o apoio. “Curiosamente, com o aumento da dotação dos concursos quadrienais houve estruturas com pontuações inferiores à nossa que conseguiram ter os apoios. Se soubéssemos desse reforço da verba antecipadamente teríamos concorrido aos quadrienais”, considera o responsável a O MIRANTE.
As companhias que colocaram a acção em tribunal consideram que os pressupostos do concurso foram alterados a meio do jogo, em benefício exclusivo de quem se apresentou aos apoios quadrienais e em prejuízo das estruturas que avançaram para os bienais, como o caso do Cegada. Sobre a acção, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, ainda não se pronunciou. O grupo de companhias lesadas acredita que com um reforço a rondar os 2 milhões e 400 mil euros nos apoios bienais será possível rectificar o erro e dar às companhias acesso a mais dois anos de apoio.
O Cegada emprega quatro pessoas a tempo inteiro e conta com a colaboração de outros cinco actores no serviço educativo. Beneficiava de um apoio total de 250 mil euros, dos quais a Câmara de Vila Franca de Xira comparticipava com 36 mil euros. Rui Dionísio diz que, à data de hoje, é impossível prever o futuro mas que há uma certeza: sem dinheiro do Governo não haverá a continuidade da programação que até aqui tem sido uma referência a nível nacional. “Os números falam por si sobre o que será a redução do serviço público de cultura”, lamenta Rui Dionísio.
Câmara está a acompanhar a situação
O assunto veio a lume na última reunião de câmara de Vila Franca de Xira pela voz do vereador David Pato Ferreira, da coligação Nova Geração (PSD/PPM/MPT), que quis saber que diligências tem tomado a autarquia para resolver o problema e se está disponível para suportar a continuidade da prática artística no teatro estúdio Ildefonso Valério.
Fernando Paulo Ferreira, presidente do município, não se comprometeu. “O Cegada assinou um contrato-programa connosco que o distingue dos restantes grupos no nosso concelho e no plano de actividades e orçamento para este ano está previsto um aumento do valor desse programa”, explicou o autarca socialista, acrescentando que estão a tentar encontrar outras formas de apoio à companhia, “algumas até de carácter privado”.