Sociedade | 19-03-2023 21:00

A sociedade já está preparada para aceitar mulheres em cargos de liderança

A sociedade já está preparada para aceitar mulheres em cargos de liderança
Palestra organizada pela Câmara de Santarém juntou oito vozes no feminino no Dia Internacional da Mulher

As mulheres têm que se esforçar mais para chegar a lugares de topo mas essa realidade tem-se esbatido, tal como as diferenças salariais entre homens e mulheres.

A luta pela igualdade tem dado resultados na sociedade, embora ainda subsistam velhos estigmas e preconceitos. Palestra que assinalou o Dia Internacional da Mulher em Santarém juntou oito vozes que são exemplos de liderança no feminino.

Os estudos e as estatísticas demonstram que ainda existem diferenças salariais entre homens e mulheres em alguns sectores de actividade, embora o panorama esteja a mudar aos poucos. A ideia foi transmitida por Salomé Rafael, presidente do conselho de administração da Escola Profissional do Vale do Tejo e dirigente associativa. Salomé Rafael foi uma das participantes na palestra “O impacto das mulheres no mundo actual”, organizada pela Câmara de Santarém, que decorreu na manhã de 8 de Março, no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém.
A iniciativa pretendeu assinalar o Dia Internacional da Mulher e juntou oito mulheres de áreas diferentes de actividade. A directora de Relações Externas Centro/Sul da Mercadona, Ana Carreto, sublinhou a igualdade salarial que existe na empresa onde trabalha e garantiu que as pessoas são contratadas pelo seu mérito e não pelo seu género. Todas discordam do sistema de quotas que obriga à colocação de mulheres em listas na política. “As pessoas devem entrar num trabalho ou num cargo político ou associativo pelo seu mérito, valor e experiência e não por quotas. A sociedade já está preparada para aceitar mulheres em cargos de liderança”, destacou Salomé Rafael. A vereadora na Câmara de Santarém Carmen Antunes, concordou mas lamentou ser ainda difícil haver igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. A chefe de divisão na Câmara de Santarém, Vânia Horta, que também participou na palestra, defende uma mudança de paradigma e que quem contrata deve focar-se em pessoas e não em género masculino ou feminino.
A maternidade foi outro assunto debatido. Maria Potes Barbas recordou um episódio passado há 32 anos: Quando dava os primeiros passos na vida profissional e se preparava para assinar contrato como professora com o Instituto Politécnico de Santarém (IPS) descobriu que estava grávida. Assim como ela, também duas colegas de departamento estavam grávidas e os três bebés – todas meninas – iriam nascer em Janeiro do ano seguinte. Ficaram todas com receio porque teriam licença de maternidade na mesma altura. Foram surpreendidas quando contaram o que se passava ao director e este, além de as felicitar, reagiu muito bem e todas assinaram os contratos. Maria Potes Barbas é hoje investigadora do IPS.

Conciliar profissão e maternidade não é fácil
No entanto, esta é uma situação particular uma vez que a gravidez e a maternidade ainda fazem diferença na hora de contratar uma mulher, sobretudo no sector privado. Também Salomé Rafael elogiou o apoio do marido para cuidar do filho uma vez que não tinha suporte familiar que lhe facilitasse a vida profissional. Todas as convidadas concordaram que é difícil conciliar a vida profissional com a maternidade, devido à sua exigência sobretudo nos primeiros meses, mas com apoio familiar tudo se consegue. “A maternidade custa. São noites mal dormidas e a privação de sono é muito complicada. Admitirmos que nem tudo é perfeito é mais um passo para a normalização de ser mãe”, afirmou Vânia Horta.
A administradora delegada do ISLA Santarém, Filipa Martinho, referiu existirem mais mulheres no ensino superior e são tratadas de maneira igual. No entanto, ressalvou, a mulher continua a ter que se esforçar mais para vingar da mesma forma que um homem em funções de administração. Anabela Tereso, administradora do Valgrupo e proprietária da Quinta da Atela, contou parte do seu percurso profissional e como teve que ir à luta e aprender a gerir empresas. “Trabalhei tanto na empresa que não olhei para fora. Quando chegou o momento de ter que dirigir a empresa não sabia fazê-lo mas fui aprender e, com trabalho e determinação, tudo se consegue”, afirmou.
A deputada à Assembleia da República pelo PSD, Inês Barroso, que foi vice-presidente da Câmara de Santarém, considerou que a mulher é um agente de mudança que tenta afirmar-se pela qualidade que pode imprimir no trabalho que desenvolve, embora ainda existam muitos lugares do mundo onde a mulher ainda não tem voz. “Ainda existe um longo caminho a percorrer”, destacou. A palestra foi moderada pela jornalista Cecília Carmo.

A jornalista que passou por fã de futebolista

A palestra foi moderada pela jornalista Cecília Carmo que partilhou algumas histórias e confessou que como jornalista desportiva sentiu que teve que trabalhar muito mais para provar que percebia de futebol. Quando trabalhava no semanário Expresso foi destacada para ir ao Estádio de Alvalade entrevistar um jogador do Sporting. Marcou a entrevista por telefone e dirigiu-se para o estádio sozinha. Tinha pouco mais de 20 anos. Quando chegou à recepção apresentou-se mas não imaginavam que seria jornalista. “Não levei fotógrafo comigo porque existiam imensas fotos do jogador. Ele veio à porta e perguntou-me se queria um autógrafo. Tive que me impor e dizer quem era. A partir dali correu tudo bem mas fiquei irritada por o jogador pensar que eu era apenas uma fã”, recordou com um sorriso.

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