Jovem com esquizofrenia foge das urgências do Hospital de VFX
Mãe de jovem com esquizofrenia queixa-se que os médicos do Hospital de Vila Franca de Xira desvalorizaram a gravidade da doença da filha.
A jovem de 22 anos foi deixada sozinha numa sala e fugiu da unidade de saúde tendo sido encontrada junto à estação de comboios de Vila Franca de Xira.
Helena Ribeiro, de Alverca, não se vai esquecer tão cedo da tormenta que passou na primeira semana de Março nas urgências do Hospital de Vila Franca de Xira (HVFX), onde deu entrada duas vezes em dois dias com a filha que sofre de esquizofrenia e estava com uma infecção renal e não conseguiu ser atendida. Escreveu uma queixa no livro de reclamações e conta a história a O MIRANTE para tentar alertar a comunidade de que alguma coisa tem de ser feita para melhorar o funcionamento daquela unidade de saúde. Helena Ribeiro é ajudante de lar mas está de baixa a recuperar de uma depressão. Vive sozinha e sustenta três filhos, um de três anos, outro de dez e uma filha que tem 22 anos e sofre de esquizofrenia e tendências suicidas. A jovem já esteve internada várias vezes na psiquiatria do hospital e tudo corria bem enquanto a gestão da unidade de saúde era feita pela José de Mello Saúde. Desde que entrou a gestão pública, lembra Helena Ribeiro, ainda estão para encontrar um psicólogo que possa seguir e manter a terapia que a filha precisa.
No dia 6 de Março, pela hora de almoço, a jovem desmaiou enquanto estava no supermercado com a mãe e foi enviada de ambulância para o HVFX com fortes dores no peito e desorientação. Na triagem deram-lhe uma pulseira amarela e colocaram-na num cadeirão numa sala de observação onde a mãe não pôde entrar. “Ela estava muito agitada e completamente desorientada. Expliquei o que se passava à enfermeira da triagem e disse-lhe que sofria de esquizofrenia e encaminharam-me para um médico muito arrogante que não deu grande importância”, recorda Helena Ribeiro.
Foi durante esse período que a jovem se levantou e fugiu do hospital sem que ninguém desse conta. Assustada, a mãe gritou para que a ajudassem a encontrá-la mas ninguém deu o primeiro passo. “Passei-me naquele hospital”, confessa. Só quando ligou para a Polícia é que conseguiu ter ajuda, já a filha tinha apanhado um autocarro e estava na estação de comboios quando os polícias a encontraram. “Quando ela tem pensamentos suicidas a primeira coisa que faz é ir para a linha. Um polícia acalmou-a. Foram excelentes, fizeram o trabalho de psicólogos, que era o que o hospital devia ter feito. Ficaram vários polícias com ela para não fugir e como se mostrou muito agitada e não queria voltar para o hospital regressámos a casa”, recorda.
“As pessoas passam horas nas urgências”
No dia seguinte, de manhã, Helena Ribeiro foi ao Centro de Saúde do Bom Sucesso onde a filha foi vista pela médica de família que a medicou para a infecção renal. A médica escreveu uma carta aos médicos do hospital avisando que a jovem precisava de ser seguida e que devia ficar internada sem mais demoras. Seguindo o conselho da médica, Helena Ribeiro voltou a levar a jovem para as urgências, onde desmaiou várias vezes. “Meteram-na numa maca, levaram-na e ficou sozinha lá dentro, sem auxiliar nem ninguém junto dela”, recorda.
Mãe e filha estiveram à espera nas urgências das 16h00 às 21h00 até a jovem começar a ficar novamente desesperada, agitada e descompensada. “Estavam lá pessoas, algumas idosas, à espera desde as 11h00”, recorda. Cansada da falta de resposta Helena exigiu o livro de reclamações. Enquanto escrevia a reclamação a filha levantou-se da maca e voltou a sair do hospital recusando regressar. “Tive de ir embora à procura dela outra vez, sozinha”, desabafa.
O que tem valido a Helena é o apoio da família e alguns amigos. “Hoje é a minha filha amanhã acontecerá a outra pessoa. É preciso que olhem para aquele hospital, vejam o que está a acontecer e façam alguma coisa. As pessoas passam horas nas urgências, não há ninguém a dar apoio, a oferecer água ou um pouco de comida, nada. Se vamos para um hospital público é porque não temos condições de ir para um privado e porque estamos doentes”, critica.
As explicações do hospital
A O MIRANTE o hospital evoca a lei de protecção de dados para não responder ao caso. Apesar de Helena Ribeiro mostrar a reclamação que fez o hospital diz não ter existido qualquer registo de entrada no serviço de urgência com o nome da filha naqueles dias. Garante que o acesso dos acompanhantes às salas de observação é garantido pelo hospital, salvo quando por critérios clínicos ou de organização do serviço esse acesso é restringido.
Já sobre os tempos de espera nas urgências, nos dias 6 e 7 de Março, a unidade de saúde explica que isso se deveu a uma elevada afluência, superior a 400 utentes por dia. Já o serviço de psiquiatria do hospital funciona entre as 08h00 e as 20h00, período após o qual os doentes são encaminhados para o hospital de referência para acompanhar essas situações.