Sociedade | 22-03-2023 12:00

Ruído da A1 tira o sono a moradores de nova urbanização em VFX

Ruído da A1 tira o sono a moradores de nova urbanização em VFX
Marta Silva e outros moradores do condomínio Villa Viva não conseguem ter uma boa noite de sono há mais de um ano

O sonho de oito dezenas de famílias transformou-se num pesadelo na nova urbanização Villa Viva, em Vila Franca de Xira. O promotor construiu e vendeu as casas sem que estivessem ainda colocadas as barreiras acústicas para isolar o ruído intenso da auto-estrada A1, a mais movimentada do país.

Há um ano que Marta Silva e a família não conseguem ter uma boa noite de sono na casa de sonho que compraram no condomínio Villa Viva, em Vila Franca de Xira, e que hoje, admite a moradora, transformou-se num pesadelo. Tudo porque o condomínio onde algumas casas custam mais de 350 mil euros tem como vizinha a mais movimentada auto-estrada do país (A1) onde o ruído do trânsito é constante. Ao contrário das zonas envolventes, na zona onde estão os prédios nunca foram colocadas barreiras acústicas pela concessionária, a Brisa, para minorar os inconvenientes para quem ali vive. Uma consequência do passado atribulado da urbanização (ver caixa).
Marta Silva, 42 anos, viveu em Lisboa nos últimos vinte anos e com a chegada de dois filhos a gestora de projectos decidiu que estava na hora de abrandar e escolher um local com melhor qualidade de vida. Em Maio do ano passado - depois da entrega da casa ter demorado um ano a mais que o previsto - mudou-se para Vila Franca de Xira depois de ver casas em vários locais da Área Metropolitana de Lisboa. Logo na primeira noite percebeu que ia ter dores de cabeça.
“Não conhecíamos a história da Bella Guarda mas lembrava-me de ver estes prédios devolutos quando passava na A1. Quando vimos a casa pela primeira vez perguntámos logo pelas barreiras acústicas mas o promotor prometeu-nos que iam ser colocadas. Elas foram a condição para comprarmos a casa”, lamenta a O MIRANTE.
Entretanto, com o tempo a passar e a aumentar a quantidade de vizinhos a queixarem-se do excesso de ruído o promotor e a Brisa desentenderam-se sobre quem é que deve colocar as barreiras. “Não temos silêncio suficiente para dormir. De dia o ruído é abafado mas de noite é terrível. Nem podemos estar na varanda”, lamenta Marta Silva. Vários moradores queixaram-se entretanto à câmara sobre a situação. “É triste que tenha demorado meses a vir uma resposta. Agora que sou eleitora neste município estou à espera de um bocadinho mais da minha câmara”, critica.

“Parece que estou sentado na A1”
Outro dos moradores, David Pato Ferreira, vereador do município, confirma ao nosso jornal as queixas dos restantes vizinhos. “Se tiver a janela aberta é como se estivesse sentado numa cadeira no meio da A1”, diz. Os moradores lamentam também não ter ainda acesso à totalidade do condomínio onde compraram casa, nomeadamente os parques infantis.
O MIRANTE contactou o promotor da obra e a Brisa mas não recebeu qualquer resposta. No entanto a Brisa, numa resposta a um morador a que o nosso jornal teve acesso, explicou que o licenciamento da edificação é posterior à entrada em exploração do sublanço de VFX, pelo que a responsabilidade para proceder à sua protecção acústica, de acordo com a legislação em vigor, “não deverá ser imputada à concessionária”.
Face às queixas, a Câmara de Vila Franca de Xira já veio garantir a O MIRANTE que não vão ser emitidos os alvarás de utilização dos apartamentos da segunda fase do empreendimento enquanto não forem implementadas pelo promotor, “com urgência”, as soluções que permitam mitigar os elevados níveis de ruído sentidos no local. “Nomeadamente com implementação das barreiras acústicas ou solução alternativa”, explica a câmara. Sem elas, avisa a câmara, não haverá licenças para os novos donos dos apartamentos.

Um dinossauro de betão

O condomínio Villa Viva é o novo rosto de um conjunto habitacional que os moradores da cidade conheciam há década e meia como “Bella Guarda” e que foi um monstro de betão abandonado que serviu de casa para uma dezena e meia de sem-abrigo. Em 2018 o fotojornalista vilafranquense Bruno Colaço chegou mesmo a ganhar a Bienal de Fotografia da cidade com um conjunto de fotos que ilustravam o dia-a-dia de quem vivia naqueles prédios abandonados.
A construção da Bella Guarda, recorde-se, foi deixada a meio devido à falência das construções Ramalho Couto S.A. aquando da crise financeira de 2008. O projecto inicial previa 75 habitações, estacionamentos em cave, piscina, campo de mini-golf, zonas verdes e parque infantil. O condomínio foi notícia ainda em 2013 quando a câmara equacionou adquirir o espaço para concentrar nele todos os seus serviços, o que não veio a acontecer. O destino do edifício acabou por ficar traçado em leilão, em 2018, quando foi comprado por um grupo brasileiro a um fundo imobiliário do grupo Montepio por um valor a rondar os cinco milhões de euros.

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