Sociedade | 01-04-2023 21:00

Manuel Rafael dedicou uma vida ao trabalho que começou aos 11 anos para ajudar a família

Manuel Rafael dedicou uma vida ao trabalho que começou aos 11 anos para ajudar a família
Manuel Rafael, de 91 anos, mantém aberto o café Belmira, o ponto de encontro das pessoas do Carvalheiro, concelho de Alcanena

Aos 91 anos Manuel Rafael ainda se mantém à frente do Café Belmira, na aldeia de Carvalheiro, concelho de Alcanena.

O pequeno estabelecimento, ponto de encontro das pessoas da terra, mereceu destaque na passada semana por ter sido palco de uma reunião de câmara descentralizada. Apesar da idade o dono do café faz questão de abrir o espaço todos os dias para estar entretido e não ficar fechado em casa.

O pacato Café Belmira, na aldeia do Carvalheiro, entrou para a história do poder local do concelho de Alcanena por ter sido palco de uma reunião descentralizada do executivo municipal, situação rara - quiçá inédita - não só por aquelas bandas como no território nacional. Atrás do balcão estava Manuel Silvério Rafael, 91 anos, homem pouco dado às coisas da política que assistiu pela primeira vez aos trabalhos de uma reunião de câmara enquanto aviava cervejas e cafés aos clientes que foram entrando na tarde desse dia 20 de Março.
Manuel Silvério Rafael nasceu e cresceu no Carvalheiro, freguesia de Louriceira, e é o proprietário do único café da localidade e, por isso, ponto de encontro das pessoas da aldeia, porque não existe nenhuma colectividade no activo. Dois dias depois da sessão camarária no seu café, O MIRANTE foi ao encontro do nonagenário para conhecer a sua história. Sozinho, vestido de escuro e de poucas falas Manuel Rafael não esconde mágoa e tristeza pelo falecimento da esposa no ano passado. Foram quase 70 anos de casamento e era ela quem tomava conta da mercearia que fechou desde que a senhora adoeceu, alguns meses antes de morrer.
Apoiado numa muleta e encostado ao balcão, Manuel Rafael recorda os tempos de infância. Foi para a escola aos oito anos e saiu após concluir a terceira classe. O mais velho de quatro irmãos teve que ir trabalhar para a agricultura e a guardar gado para ajudar no sustento familiar. A quarta classe terminou-a na tropa. Aos 19 anos assentou praça em Abrantes onde fez a recruta. Depois esteve um ano em Setúbal.

O antigo barbeiro hoje
só se dedica ao café
Na cidade do Sado aprendeu o ofício de barbeiro e quando regressou ao Carvalheiro, um ano depois, tornou-se o barbeiro das redondezas. A barbearia funcionava num espaço dentro do café, que hoje está fechado. Apesar da insistência, Manuel Valério optou por não mostrar a barbearia por estar fechada há muitos anos. “Está desarrumada e com muito pó”, diz.
Com dois filhos, Manuel Rafael não sabe se estes vão dar continuidade ao negócio da família. Do mini conjunto comercial que juntava mercearia, barbearia e café já só resta este último, onde se mantém entretido para não estar fechado em casa. O pequeno estabelecimento, que já era do seu sogro, teve também em tempos telefone público, de que restam ainda as memórias físicas. A televisão só tem os quatro canais de canal aberto.
Sem ligações à política, Manuel Rafael aceitou ceder o espaço para realização da sessão camarária assim que lhe falaram nessa possibilidade. Foi na tarde de 20 de Março que o espaço se tornou o palco improvável do debate político concelhio. Durante a sessão alguns clientes foram chegando para beber um café ou uma cerveja não disfarçando a surpresa pelo aparato no local, habitualmente pacato. Num canto do café foram colocadas as mesas onde o executivo reuniu. Em frente ao balcão foram dispostas as cadeiras e as mesas arredadas para que, quem quisesse, assistir pudesse fazê-lo mais comodamente. Foi um dia diferente na longa história de vida de Manuel Rafael.

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