Cidade de Santarém precisa de ser mais amiga dos estudantes
Falta de transportes, de habitação e de espaços próprios para estudantes foram alguns dos temas debatidos numa conferencia realizada no Politécnico de Santarém a propósito do Dia Nacional do Estudante. Presidente da câmara respondeu às queixas dos alunos e concordou que “Santarém é uma cidade fechada” e precisa de mudar de mentalidade.
Juba é natural de Setúbal e todos os dias faz mais de quatro horas de viagem para assistir às aulas na Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico de Santarém (IPS). Escolheu a instituição pela oferta formativa e confessa que pensava que ia estudar para uma cidade rural, mas três anos depois mudou de opinião, pelo menos em alguns aspectos. Numa conferência organizada pela Federação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico (FNAEESP), que se realizou a 24 de Março, a jovem estudante revelou que não faz intenções de permanecer na cidade depois de concluir os estudos porque há muitos aspectos que precisam de ser melhorados e que são pouco atractivos para alguém que vai entrar no mercado de trabalho e começar a construir uma vida. Na sua opinião, há falta de habitação e a que existe tem custos elevados ou poucas condições; os transportes públicos são escassos para alguém que precisa de se deslocar fora de horas porque ficou a trabalhar ou estudar até tarde; também nomeou o facto de não existirem espaços próprios na cidade para que um estudante ou trabalhador possa estar até mais tarde, dando o exemplo da Biblioteca Municipal de Santarém que fecha às 18h00. “Por muito que esta minha experiência de três anos tenha sido boa, não faço questão de aqui ficar. Santarém precisa de ter outra oferta e mais serviços que cativem os jovens a fixar-se”, disse.
Ricardo Gonçalves, presidente do município, foi um dos oradores da iniciativa e participou activamente no debate, respondendo de forma objectiva às preocupações dos estudantes. O autarca concorda com a ideia de que Santarém precisa de ser mais amiga dos jovens e dos estudantes. “A cidade de Santarém é muito fechada. Precisa de mudar de mentalidade para que os jovens queiram cá viver. Chateia-me que digam que o centro histórico está morto, mas se fizerem lá uma festa ou algo do género até mais tarde, no outro dia temos os vizinhos a queixarem-se do barulho”, afirma, acrescentando: “tem que haver respeito, mas é urgente mudar de mentalidade. Vocês estão cá e gastam dinheiro cá. Merecem mais carinho das pessoas”, vincou. Sobre a falta de transportes e habitação o autarca revelou que o município está a fazer os possíveis para colmatar as lacunas. “A Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo está a trabalhar para ter um serviço de transportes privado para satisfazer a necessidades e dar mais respostas”, anunciou.
Mais de cinco mil alunos no IPS
A conferência realizou-se com base no tema “Atrair jovens para cidades perto das grandes áreas metropolitanas”. O debate teve a assistência de cerca de duas dezenas de alunos, quase todos naturais de outros concelhos. Apenas cinco estudantes, quando questionados pelo presidente do IPS, João Moutão, levantaram o braço para dizer que gostavam de ficar a viver na cidade. O presidente destacou a qualidade de vida que existe na região ribatejana, em comparação com os grandes centros urbanos, no entanto, frisou que os jovens só se fixam se houver emprego. “Esta região tem todas as potencialidades. Tem de haver empresas que criem postos de trabalho qualificados. Para isso tem de existir uma articulação entre todas as entidades”, referiu. João Moutão reafirmou o orgulho por o IPS ter mais de cinco mil alunos. Um dos aspectos negativos sublinhado por George Camacho, director da Escola Superior de Educação, é a falta de camas disponíveis. O dirigente anunciou que brevemente o IPS vai ter disponíveis cerca de mil camas, salientando que ainda assim é um número muito reduzido para o expectável.
Por cada 100 jovens há 206 idosos em Santarém
O presidente da Câmara Municipal de Santarém aproveitou a conferência para deixar alguns dados aos estudantes, de forma a cativá-los a permanecerem no concelho depois de concluírem os estudos. Para Ricardo Gonçalves o concelho de Santarém vai ser um dos que mais vais crescer nas próximas três décadas, mesmo se não se concretizar a construção do novo aeroporto na região. Um dos problemas que o autarca destacou é a falta de mão-de-obra qualificada para as empresas. O presidente refere que, nas visitas que realiza a empresas, quase todas se queixam de não conseguirem contratar pessoal qualificado. Numa altura em que o município está a apostar forte na Zona de Desenvolvimento Económico de Pernes e Alcanede, Ricardo Gonçalves deixou o desafio para as instituições de ensino apostarem na formação dos estudantes em áreas de logística, por exemplo. O presidente revelou também que a taxa de exportação em Santarém aumentou 30% nos últimos anos e que o concelho é o 29º, em 308, que melhor média salarial tem.
Ricardo Gonçalves sublinhou, pelo lado negativo, o facto de Portugal ser o quinto país mais envelhecido do mundo e que, no concelho de Santarém, por cada 100 jovens há 206 idosos. “Há falta de pessoas para trabalhar, mas há emprego. O problema é que os jovens querem ir-se embora. Devia haver incentivos fiscais para os fixar porque nenhum jovem quer ficar num país onde há tanto imposto e taxa para pagar”, defendeu.