Sociedade | 04-04-2023 07:00

Doentes com alta sem casa e sem família ocupam camas nos hospitais da região

Doentes com alta sem casa e sem família ocupam camas nos hospitais da região
Nos últimos dois anos aumentou o número de doentes internados nos hospitais da região por não terem para onde ir

Nos últimos dois anos aumentou o número de doentes internados com protelamento de alta nos hospitais da região. As principais razões devem-se à falta de apoio familiar e de número de vagas em IPSS.

O impacto da permanência de casos sociais em hospitais reflecte-se na ocupação de camas, que poderiam estar ocupadas com doentes a necessitar de cuidados hospitalares.

Actualmente estão internados com protelamento de alta 14 doentes no Hospital Distrital de Santarém (HDS) e 10 nas três unidades do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT), em Abrantes, Torres Novas e Tomar. 18 dos doentes são considerados casos sociais e aguardam institucionalização em ERPI – Estrutura Residencial Para Idosos. Se se comparar os números de 2021 e 2022 confirma-se que houve um aumento do número de casos que, tendo alta médica, continuam internados nos hospitais por não terem para onde ir. Se no caso do HDS o número caiu de 7 para 6 doentes entre 2021 e 2022, no CHMT o número de doentes aumentou de 79 para 96. Os dados foram fornecidos a O MIRANTE pelas duas instituições hospitalares.
No HDS estão internados dois tipos de casos sociais; os que têm falta de recursos económicos para suportar custos institucionais, falta de suporte familiar, incapacidade para decisão dos próprios, entre outros factores, e os casos dos doentes referenciados à Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCC) e que por complexidade de cuidados de reintegração em segurança, ou por falta de suporte de terceiros, permanecem no hospital até serem admitidos nas UCC. No CHMT, por exemplo, está um doente internado nestas condições desde Novembro de 2022. A instituição explica que, tal como na maioria das situações, os pacientes têm idade avançada, com diversas co-morbilidades associadas, apresentando um estado de fragilidade e dependência, muitas vezes vivendo sozinhos, com uma crescente necessidade ao nível de cuidados pessoais, sociais e de saúde.

Vazio jurídico e vagas limitadas
Na opinião do HDS a questão principal para a existência desta realidade prende-se com o facto de haver um vazio jurídico sobre a responsabilização da família para com o doente. “Perante esta realidade, e naturalmente tendo de garantir a saída dos doentes em segurança, impõe-se aguardar a efectivação dos apoios que necessitam”, nomeadamente a existência de vagas em ERPI. O CHMT vinca que “a demora está sempre associada às vagas limitadas, determinadas pela insuficiência de equipamentos sociais face ao crescente aumento da população idosa”. O impacto desta realidade, adiantam, reflecte-se sobretudo na ocupação de camas de enfermaria, que poderiam estar ocupadas por doentes a necessitar de cuidados hospitalares.
O CHMT detalha os efeitos negativos: “os casos sociais adicionam pressão, desviam recursos e exigem uma gestão muito rigorosa das vagas limitadas de internamento em momentos de maior procura, como no Inverno”, refere.
O MIRANTE quis saber que soluções têm estado em cima da mesa e já foram debatidas pelos conselhos de administração das instituições, de forma a diminuir o impacto negativo desta realidade. O HDS refere que é importante uma maior participação das entidades competentes ao nível do trabalho com as famílias dos pacientes no sentido de garantir um apoio mais efectivo. Salienta ainda a importância de uma maior disponibilidade de camas nas tipologias de convalescença e média duração e reabilitação, bem como de vagas reservadas em ERPI no distrito de Santarém.
O CHMT explica que tem feito uma gestão dinâmica das suas enfermarias de internamento e dos recursos para dar resposta a maiores picos de procura. Avança que estão a ser negociadas “parcerias com o sector social da região do Médio Tejo, para contratualização de camas de internamento e convalescença com privados, aumentando, dessa forma, a capacidade de internamento da instituição em momentos de maior procura”.

Existem actualmente 46 doentes internados no Hospital de Vila Franca de Xira sem necessidade

Vive há 600 dias no Hospital de Vila Franca de Xira

Existem actualmente 46 doentes internados no Hospital de Vila Franca de Xira sem necessidade. Duas dezenas são considerados casos sociais.

O Hospital de Vila Franca de Xira confirma a O MIRANTE que também sofre de uma realidade que afecta as restantes unidades hospitalares da região. Existem, neste momento, 46 utentes internados no hospital sem necessidade de lá estarem, com alta clínica há mais de 72 horas e em situação de protelamento da alta por não terem onde ficar. Destes, duas dezenas são considerados casos sociais, estando 15 pessoas já referenciadas pelo hospital ao Instituto de Segurança Social de Lisboa e cinco ao Ministério Público. Os restantes utentes, segundo o hospital, aguardam resposta da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, de comunidades terapêuticas e familiares.
Em Vila Franca de Xira o utente com maior tempo em internamento social está ao cuidado do hospital há 600 dias, sem encontrar resposta no exterior. “Os internamentos sociais resultam de variadíssimos factores, entre os quais a perda de autonomia dos utentes agravada, em alguns casos, por inexistência de cuidadores e, também, pelo abandono das suas famílias”, explica o hospital. A unidade de saúde diz realizar a referenciação destes casos à Segurança Social e Ministério Público tendo em vista a diligenciação junto de várias entidades e lares para conseguir a libertação de camas para utentes que de facto necessitam de cuidados de saúde.

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