Como se vive com a doença bipolar
Os aspectos e implicações sociológicas da doença foram estudados por José Garrucho Martins, natural de Alpiarça, doutorado em sociologia e investigador da Universidade Nova de Lisboa.
A expressão “esse é bipolar” vulgarizou-se, mas até podemos parecer todos mais ou menos loucos, ou ter alteração de humor, que isso não quer dizer nada numa doença que é grave, com riscos sociais e para o próprio desde a condução à sexualidade, passando pela gestão do dinheiro. A virilidade é um dos factores que mais interfere no controlo dos bipolares. Há doentes que conseguem desestruturar uma família, arruinar o património, entrar no mundo das drogas ou chegar ao ponto de suicídio.
Não sendo correcto associar benefícios a uma doença, há uma ligação entre produtividade e criatividade ao estado maníaco de um bipolar, mas dizer que a genialidade faz parte da doença não passa de um mito. Os aspectos e implicações sociológicas da doença foram estudados por José Garrucho Martins, doutorado em sociologia e investigador da Universidade Nova de Lisboa. O académico, natural de Alpiarça, que acompanhou a vida de vários doentes, lança agora um livro com as conclusões do trabalho. A obra chama-se “As Noites e os Dias – Como se vive com a doença bipolar”, foi apresentado no XIII Congresso Português de Sociologia, em Coimbra, e vai ser lançado em Lisboa no dia 15 de Abril no Zénite bar-galeria às 17h00 seguido do concerto "Noite contra o Dia".
Aqui fica um excerto da entrevista, que pode ler na íntegra da edição semanal em papel desta quinta-feira:
É possível curar-se a bipolaridade?
Em princípio é uma doença crónica, uma doença de longa duração. Não é possível viver com bipolaridade sem medicação. Um dos problemas dos doentes na gestão da doença é em determinado período deixarem de tomar os medicamentos, os reguladores do humor. Quando isso acontece entram imediatamente em crise e essas crises são cada vez mais intensas e obrigam a hospitalização.
Qual é o motivo para deixarem de tomar a medicação sabendo que não o podem fazer?
Nos homens, umas das grandes razões está relacionada com a virilidade. Os medicamentos tornam os homens impotentes. Nas mulheres é a questão de engordarem, perderem cabelo. Quando começam a sentir-se ligeiramente melhores há tendência para deixarem a medicação.
A bipolaridade pode levar a situações sociologicamente dramáticas?
Em qualquer doença mental a gestão do quotidiano é muito importante. Desde que se consiga normalizar a vida do dia-a-dia sem grandes problemas a pessoa vive relativamente bem com a doença, aprende estratégias, tal como se tivesse diabetes ou um AVC. Como todas as doenças de longa duração não se curam, mas é possível tentar controlá-las.