Sociedade | 09-04-2023 21:00

Ligação entre ensino e empresas da região tem sido muito deficiente

Ligação entre ensino e empresas da região tem sido muito deficiente
O debate juntou empresários, personalidades da área do ensino e autarcas

Cada vez é mais difícil às empresas da região recrutar mão de obra qualificada e interessada.

Essa constatação foi deixada por dois empresários da zona de Alcanede durante um debate que envolveu também personalidades ligadas ao ensino. “Algum dia não temos pessoas para carregar num botão”, desabafou o administrador de uma indústria. O presidente do Politécnico de Santarém admitiu que há ainda muito trabalho a fazer na melhoria da articulação entre escolas e empresas.

Há um longo caminho a percorrer no sentido de uma ligação mais profícua entre o sistema de ensino e o meio empresarial e isso ficou bem evidente num debate realizado na empresa Fravizel, na freguesia de Alcanede, onde o dono da casa, Eliseu Frazão, foi uma das vozes que acentuou essa realidade. O triunvirato pais/escolas/empresas não tem funcionado e a actividade económica ressente-se, debatendo-se com falta de mão de obra qualificada e/ou interessada em aprender. “Todos são importantes nessa engrenagem e fazem todos falta”, afirmou o empresário.
Reconhecendo a importância que os recursos humanos têm no desempenho das empresas - “porque não se fazem coisas certas com as pessoas erradas - Eliseu Frazão disse que a ligação entre ensino e empresas “tem sido muito deficiente”, revelando que muitos jovens que chegam à sua empresa estão “muito mal preparados para o mercado de trabalho”. “Gostava que viessem para aqui fazer os estágios e soubessem o que queriam. Precisamos de pessoas que façam acontecer e se os pais e as escolas não fizerem a sua parte nada funciona”, acentuou, ressalvando também que tem “captado pessoas boas” e com vontade de aprender. “Se os ensinarem a gostar de alguma coisa, nós tratamos do resto”, enfatizou.
Francisco Luís, do grupo Mocapor, dedicado à extracção e transformação de rocha ornamental, constatou que na área em que trabalha necessitam de mão de obra muito especializada e, que saiba, só o Politécnico de Leiria tem um curso vocacionado para esse sector. “Não há ensino na área da transformação da pedra, temos que pegar naqueles que têm vontade de aprender e depois capacitá-los, mas é cada vez mais difícil encontrar pessoas”, desabafou o empresário, acrescentando que “algum dia não temos pessoas para carregar num botão”.

O preconceito em relação ao ensino profissional

Do outro lado da ‘barricada’, o presidente do Politécnico de Santarém, João Moutão, admitiu que há ainda muito trabalho a fazer na melhoria da articulação entre ensino e empresas. “Temos como objectivo melhorar desse ponto de vista, noutros territórios esse trabalho está mais adiantado”, assumiu, destacando que iniciativas como aquela em que estava a participar deviam ser mais frequentes.
Filipa Martinho administradora do ISLA Santarém, salientou que ainda continua a existir algum preconceito quanto ao ingresso no ensino profissional por parte dos jovens e que cabe aos pais terem um papel na desmontagem dessa ideia. José Avelino, director do Centro de Formação de Professores da Lezíria do Tejo, concorda que o ensino profissional não deve ser visto como um parente pobre do sistema e que a ligação do ensino às empresas é uma questão falada há décadas. “Estarmos aqui a discuti-la já é alguma coisa”, declarou, reconhecendo que há um longo caminho a percorrer.
A mesa redonda, realizada na tarde de 30 de Março, no âmbito da primeira edição da InTER-EDUCA - Feira da Educação e Empreendedorismo, organizada pela Câmara de Santarém, teve como tema “A Educação como parceira do desenvolvimento da Economia Local”. A conversa foi moderada por Vânia Horta, chefe da Divisão de Educação e Juventude da Câmara de Santarém. O vice-presidente da Câmara de Santarém, João Teixeira Leite, e Rui Pires, presidente da FAPOESTEJO, abriram os trabalhos.

Eliseu Frazão (segundo à direita) comandou uma visita guiada às instalações da Fravizel

Feira da Educação e Empreendedorismo é para continuar

A primeira edição da InTER-EDUCA - Feira da Educação e Empreendedorismo, organizada pela Câmara de Santarém, começou com uma visita à empresa Fravizel, na Zona de Desenvolvimento Económico de Alcanede, no dia 30 de Março, em que os convidados puderam conhecer a actividade desenvolvida naquela unidade industrial.
A InTER-EDUCA decorreu até sábado, 1 de Abril, na Casa do Campino, em Santarém, tendo contado com mais palestras e outras actividades. Segundo o vice-presidente da Câmara de Santarém, a primeira edição da InTER-EDUCA teve como objectivo, durante três dias, mostrar não só aos jovens como à comunidade as ofertas formativas de diversas instituições públicas e privadas. “Desde o Instituto Politécnico de Santarém ao ISLA Santarém, às escolas profissionais e aos agrupamentos de escolas do concelho, ao CENFIM, com diversos stands que mostram que de facto, em termos de Educação, temos muito para oferecer para quem escolher o concelho de Santarém para fazer a sua formação académica”, afirmou João Leite, que quer dar continuidade à iniciativa.

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