Sociedade | 18-04-2023 12:00

Musicoterapia faz a diferença na vida dos utentes do Centro Social de Muge

Musicoterapia faz a diferença na vida dos utentes do Centro Social de Muge
Utentes do Centro de Bem Estar Social de Muge, concelho de Salvaterra de Magos, sentem-se mais felizes nas aulas de Musicoterapia

Desde o ano passado que os utentes do Centro de Bem Estar Social de Muge têm musicoterapia, uma actividade que estimula a memória e a parte cognitiva de cada um.

As aulas são proporcionadas por Carla Rosa, psicóloga e musicoterapeuta, que faz voluntariado na instituição do concelho de Salvaterra de Magos.

Apoiada num andarilho, Jarquelina Antão, de 86 anos, senta-se numa cadeira no pátio do Centro de Bem Estar Social (CBES) de Muge. Conversa com O MIRANTE antes de começar mais uma aula de musicoterapia. Tem pena de nunca ter aprendido a escrever o seu nome; a vida dura de trabalho nunca lhe deu grandes hipóteses de cultivar outros hábitos, conta. Nasceu dentro do barco do seu pai à beira do Tejo, nas Faias, em Benfica do Ribatejo. Aos nove anos começou a trabalhar na agricultura, a apanhar favas e ajudou o pai a pescar sável no rio Tejo e a recolher as redes para dentro do barco. A residir em Muge desde os 20 anos vivia sozinha desde que o marido faleceu há cerca de ano e meio. A filha, que estava na Alemanha, veio morar para junto da mãe para acompanhá-la e tem outro filho que vive na Bélgica. A aula de musicoterapia, que decorre nas manhãs de segunda-feira, é um dos seus momentos preferidos da semana. “Gosto muito de música e sempre gostei de dançar. A música dá muita alegria. Acredito que somos todos mais felizes durante as aulas de música”, afirma Jarquelina Antão.
Sentado ao sol, Jaime Rabita, de 76 anos, explica à repórter que frequenta o centro de dia para não estar sozinho em casa. O mais velho de cinco irmãos começou a trabalhar aos nove anos na agricultura, na Casa Cadaval, em Muge. Assim que completou a terceira classe foi trabalhar para ajudar no sustento da casa. Completou a quarta classe na tropa. Esteve na Guerra do Ultramar dois anos, memórias que ainda o perturbam de vez em quando. Reformado há cerca de uma década, gosta de cantar e a musicoterapia é uma das suas actividades preferidas.

Estimular as emoções e a cognição
A musicoterapia é dada por Carla Rosa, psicóloga e musicoterapeuta. Na adolescência tocava viola com os amigos à volta da fogueira. Quando os filhos nasceram recuperou a guitarra para lhes cantar canções de embalar. Teve aulas de canto e passou a aplicar a música na sua profissão. “A musicoterapia é uma maneira directa de chegar à parte emocional e cognitiva. Os problemas de memória, que acontecem sobretudo nos mais velhos, combatem-se com música. A música estimula a atenção da pessoa e a memória”, explica Carla Rosa.
Durante a aula os utentes do CBES de Muge estão atentos à letra e música que Carla Rosa leva para a actividade. A “Cinderela”, de Carlos Paião, foi uma das que cantaram na manhã em que O MIRANTE passou em Muge. A psicóloga refere que as músicas e as letras remetem cada pessoa para um momento da sua vida. “Não cantamos apenas. Falamos da música, da letra e faz com que se lembrem das memórias de adolescência ou início da idade adulta. É bom recuperar essas memórias”, realça Carla Rosa. A psicóloga distribui pandeiretas e outros instrumentos para que todos a acompanhem no refrão. “Com os instrumentos estamos a estimular a capacidade de atenção e a parte motora. Cantar e tocar ao mesmo tempo é mais difícil por isso é um trabalho importante”, sublinha.

No CBES há grande proximidade com utentes

A directora técnica do CBES de Muge, Elisabete Nogueira, que acompanhou a reportagem de O MIRANTE, está no cargo desde Outubro do ano passado, altura em que começaram as actividades de musicoterapia. “Queremos que os utentes tenham actividades diferentes todos os dias para estarem activos e não passarem o dia sentados a ver televisão”, refere. A psicóloga Carla Rosa lançou o repto e aceitou ser voluntária uma vez por semana. Todos os utentes participam voluntariamente. “Sentimos os utentes mais felizes nesta actividade. É muito importante trabalhar o lado cognitivo, é uma forma de estimulação por isso arranjamos actividades todos os dias para que estejam ocupados”, sublinha Elisabete Nogueira.
O CBES de Muge tem as valências de centro de dia, apoio domiciliário, creche e jardim-de-infância. Após a pandemia de Covid-19 teve uma diminuição no número de utentes, que está a tentar recuperar. “A população da freguesia de Muge está envelhecida, mas a maior parte ainda não aceita vir para o centro de dia. Preferem ficar em casa sozinhos porque acham que o centro de dia é o final da vida e não é verdade. Aqui estão acompanhados e ganham anos de vida”, destaca a directora técnica, acrescentando existir uma grande proximidade com os utentes. “Somos como uma família”, conclui.

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