Sociedade | 23-04-2023 12:00

Abatida a árvore que causou uma das maiores guerras políticas de Almeirim

Abatida a árvore que causou uma das maiores guerras políticas de Almeirim
Tília tinha uma história singular em Almeirim. fotoDR

A tília centenária do cemitério de Almeirim teve de ser cortada porque estava a colocar em causa a segurança depois de não ter resistido a uma luta de mais de dois anos contra um fungo.

Era a única árvore classificada na área urbana de Almeirim, mas a sua classificação, a um mês das autárquicas, fica marcada por três anos de uma guerra que tirou a maioria socialista do sério.

“Voto a favor e faço votos que a tília consiga resistir à emoção”. A declaração é do vice-presidente da Câmara de Almeirim em 2006, Francisco Maurício, já falecido, e o tom jocoso era o sinal de uma das maiores guerras políticas no município que havia de durar cerca de três anos e que teve como mote a classificação da tília centenária no cemitério de Almeirim. A tília resistiu à emoção quase 17 anos, mas sucumbiu a um fungo que obrigou ao seu abate no dia 12 de Abril. Acabou por estar classificada apenas 14 anos, depois de a então maioria socialista liderada por Sousa Gomes, também já falecido, ter calado a vereadora opositora defensora da tília, a comunista verde Manuela Cunha, a cerca de um mês das eleições autárquicas de Outubro de 2009.
A tília foi um tema recorrente da vereadora da CDU (coligação do PCP e Os Verdes) em quase todas as reuniões camarárias. O assunto também era levado à assembleia municipal pela bancada da mesma coligação por que foi eleita Manuela Cunha. A autarca já andava a inquietar a maioria socialista, mas foi o tema da classificação da árvore a “tirar do sério” os socialistas. Francisco Maurício dizia na reunião do executivo de 3 de Julho de 2006, numa declaração de voto, que votava a favor da proposta de classificação para não dar a oportunidade a Manuela Cunha de o ir acusar para os jornais.
Nessa altura o actual presidente da câmara, Pedro Ribeiro, era vereador e dizia num tom entre o irritado e o desprezo que se o assunto não fosse aprovado a vereadora iria fazer um comunicado a acusar o executivo socialista de segundas intenções. A guerra foi-se agudizando ao ponto do então presidente da autarquia, conhecido por ter alguma calma, ter perdido a cabeça por mais que uma vez ao ponto de gritar à vereadora para se calar, ou de ter abandonado reuniões deixando Manuela Cunha a falar sozinha.
Antes da proposta da vereadora na câmara, já o grupo da CDU na assembleia municipal tinha proposto a aprovação de uma recomendação à câmara no sentido de que a tília fosse classificada. Decidiu-se fazer baixar a proposta a uma comissão que iria avaliar a situação. A opção não agradou a Manuela Cunha que na reunião de câmara seguinte disse que lhe custava que fossem os dinheiros públicos a pagar mais uma senha de presença ao Manuel Luís Bárbara (eleito do PS na assembleia) para em comissão especializada vir a conhecer a tília.
O enfraquecimento da tília começou a manifestar-se com a queda de um ramo de grandes dimensões em Junho de 2019 e que obrigou ao encerramento do cemitério por razões de segurança durante alguns dias. A árvore começou então a ser acompanhada pelos técnicos do Técnicos do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e por especialistas do Instituto Superior de Agronomia. A Junta de Freguesia de Almeirim, que tem a gestão do cemitério, pagou entretanto desde essa altura cerca de dois mil euros em podas correctivas. A tília chegava a mostrar sinais de melhorias após essas intervenções, mas o certo é que o fundo, diz o presidente da junta, Joaquim Catalão, estava a comê-la por dentro.
No lugar da tília vão agora ser colocadas umas faixas para fazer sombra a quem vai aos funerais, mas a intenção é colocar uma nova árvore no mesmo local. A junta retirou cinco varas da velha árvore para tentar que enraízem nos viveiros da junta. Se pegarem então será plantada uma filha da tília da polémica.

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