Munícipe foi à assembleia da Chamusca fazer política sobre assuntos na ordem do dia
Na última sessão da Assembleia Municipal da Chamusca nenhum líder de bancada pediu esclarecimentos a Paulo Queimado ou a Joaquim José Garrido sobre negócios que envolvem mais de 50 mil euros na edição de dois livros. A munícipe Isabel dos Santos fez o trabalho de casa e substituiu-se aos políticos da oposição questionando os dois autarcas arguidos.
O ambiente político na Chamusca está a ferro e fogo depois dos presidentes da câmara e o da assembleia municipal terem sido constituídos arguidos. Estranhamente, na última sessão de assembleia municipal os deputados da oposição pouparam os dois autarcas, Paulo Queimado e Joaquim José Garrido, que são suspeitos de, ao longo dos últimos três anos, terem feito negócios que envolvem mais de 50 mil euros na edição de dois livros. Ao longo de mais de uma hora de debate, nenhum líder de bancada pediu esclarecimentos porque, aparentemente, o assunto foi falado em reunião privada com os líderes de bancada e ter-se-á chegado a acordo com o presidente da assembleia municipal para não abordar o tema de forma a não melindrar a “honra” dos autarcas arguidos.
O plano saiu furado, uma vez que no período de intervenção do público a munícipe Isabel dos Santos fez o trabalho de casa e substituiu-se aos políticos fazendo algumas das questões que poderiam ter feito. A sessão já ia com mais de duas horas de duração, perto da meia-noite de 21 de Abril, quando a munícipe se levantou para se dirigir ao presidente da câmara e colocar-lhe duas questões, uma relacionada com a edição da “Carta Arqueológica do Concelho da Chamusca”, um livro que terá sido impresso na gráfica de Joaquim José Garrido, em Alpiarça, e que custou mais de 40 mil euros em duas edições. “Quem teve a ideia e organizou esse livro?”, questionou. O presidente da câmara explicou que, entre outros motivos, a ideia do livro é valorizar o património cultural da Chamusca e foi pensada em conjunto com Mário “Pisco”, um chamusquense apaixonado por arqueologia que faleceu há cerca de cinco anos.
A última pergunta foi a que criou mais ruído no salão nobre dos Paços do Concelho, uma vez que foi dirigida ao presidente da assembleia municipal e tornou pública uma situação que deixou Joaquim José Garrido com um certo embaraço. “O documento que recebi hoje foi-me enviado pelo presidente da assembleia municipal ou pelo amigo Joaquim Garrido”, perguntou. O documento a que, mais tarde, O MIRANTE teve acesso, e que foi enviado pelo presidente da assembleia a vários munícipes, diz respeito a um parecer da CCDR do Centro sobre o facto de um membro da assembleia municipal poder prestar serviços ao município onde foi eleito. Joaquim Garrido respondeu à munícipe afirmando, entre outras coisas, que a “população tem o direito de fiscalizar” a actividade autárquica, mas não tem o direito “de ser o primeiro inquisidor (…) e de queimar na praça pública”. Isabel dos Santos respondeu afirmando: “não sou juiz, e tenho as minhas ideias formadas”, disse.
Má gestão dos dinheiros públicos
O presidente da Câmara Municipal da Chamusca admitiu em reunião de executivo municipal, a 21 de Abril, que foi constituído arguido por causa dos negócios com o presidente da assembleia municipal. Algumas horas depois da sessão camarária, a concelhia do PS da Chamusca confirmou que Joaquim José Garrido também é arguido, num caso que também os dois filhos do líder da assembleia municipal da Chamusca. Uma vez que os eleitos da assembleia municipal reuniram três dias depois, era expectável que pedissem esclarecimentos ao presidente do órgão, que tem como principal função fiscalizar as actividades do município, mas isso não aconteceu. Embora O MIRANTE esteja a acompanhar o caso há mais de um ano, e tenha publicado várias notícias dando conta de negócios entre os dois autarcas arguidos, esta foi a única vez que o assunto foi debatido durante uma reunião de executivo, que decorreu um dia depois da TVI ter emitido uma reportagem de investigação, no “Exclusivo” de Sandra Felgueiras, sobre as contratações polémicas do município, criticando a forma como os dinheiros públicos têm sido geridos durante a presidência de Paulo Queimado.