Em Azambuja desfilou-se com as vestes de antigamente para valorizar os trajes do Ribatejo
Azambuja foi palco de um desfile pioneiro que juntou mais de três centenas de elementos de trinta ranchos da região. O primeiro Desfile do Traje Ribatejano teve como objectivo a valorização dos trajes típicos e o modo de os usar pelas populações ribatejanas.
Azambuja recuou aos tempos antigos, no domingo, 23 de Abril, durante o primeiro Desfile do Traje Ribatejano que juntou perto de 30 ranchos da região ribatejana. Mais de três centenas de pessoas, trajadas a preceito, desfilaram com destino à Praça do Município, onde se deu o ponto alto do evento, com a caracterização dos trajes e muitos aplausos à mistura. Minervina Zambujo e Firmino Constantino, vestidos com traje domingueiro, desfilaram em representação da Associação Cultural e Etnográfica Gentes de Almeirim seguindo a procissão do grupo com ofertas ao santo padroeiro. A mulher, de 72 anos, com lenço à cabeça, blusa florida e saia comprida com avental, exibia as jóias em ouro. Já o marido, de 86 anos, empunhava uma vela com mais de um metro de comprimento, envergando um fato monocromático constituído por colete e jaqueta, além do barrete à cabeça e uma camisa branca de linho.
Além de ser o elemento mais velho e o presidente da assembleia-geral da associação, Firmino Constantino também participa no rancho e na Escola de Folclore de Almeirim, e confessa que o que mais o entusiasma é “representar e cantar”. Fez-se cedo agricultor e no momento em que desfila pelas ruas da vila de Azambuja não esquece os dias passados na poda e a lavrar terras enquanto lidava com os arreios e conduzia duas mulas. “A pobreza de hoje é diferente, dantes as pessoas tinham mais vivacidade, davam mais valor às coisas, eram mais amigas e partilhavam mais”.
A iniciativa, organizada pela Câmara de Azambuja, juntas de freguesia de Azambuja e de Vale do Paraíso, Rancho Folclórico Ceifeiras e Campinos de Azambuja e Rancho Folclórico Danças e Cantares de Vale do Paraíso, com o apoio da Federação do Folclore Português, pretendeu valorizar e mostrar a diversidade do traje ribatejano. “Quando falamos dos trajes ribatejanos só nos lembramos dos trajes da ceifeira, do campino, mas o Ribatejo é mais do que isso, tem uma mostra etnográfica enorme e já estava na altura de trazê-la cá para fora”, disse a O MIRANTE o presidente da Junta de Azambuja, André Salema, aproveitando para lançar o desafio para que outras localidades acolham o evento.
Tanto André Salema como o presidente da Junta de Vale do Paraíso, Sérgio Alexandre, cuja família esteve ligada ao cultivo e produção de vinho, fizeram questão de participar activamente no desfile, ostentando trajes domingueiros. Para o autarca de Vale do Paraíso, o melhor do desfile foi “ver as bancadas cheias e ouvir os aplausos”, prova de que o evento cativou a plateia.
Também Carminda da Lavandeira, de 78 anos, fez questão de participar no desfile, em representação do Rancho Folclórico da Golegã, para o qual entrou em 2000, ano em que se reformou. Não o fez antes, conta, porque a vida de restauração não lhe permitia ter tempo livre. O traje escolhido foi o de vendedora de castanhas da Feira Nacional do Cavalo, na Golegã, caracterizado por uma bata comprida aos quadrados, um lenço à cabeça e um xaile. Carminda começou a trabalhar aos nove anos e a sua caneta foi a enxada, numa infância dedicada à monda de trigo, à apanha das favas e ao varejar das azeitonas. Não teve oportunidade de frequentar a escola, mas hoje orgulha-se de ensinar aos mais novos os cantares, os valores e as tradições do Rancho e das gentes da Golegã.