Depressão vai ser a principal doença mental nos próximos anos
Fase mais perigosa para o suicídio é na adolescência, entre os 14 e os 20 anos. Existe um grande desfasamento entre a realidade dos jovens e a realidade social e há mais atitudes impulsivas por isso os pais devem estar atentos.
Psicólogo Carlos Céu e Silva afirma que o ser humano está condenado a ser, cada vez mais, altamente solitário e a depressão daqui por alguns anos vai ser a principal doença mental.
O suicídio na adolescência aumentou muito nos últimos anos sendo actualmente a segunda causa de morte entre os jovens. A informação foi dada pelo psicólogo clínico Carlos Céu e Silva, que participou na sessão “Como explicar a morte às crianças e o suicídio na adolescência”, que decorreu na noite de sexta-feira, 21 de Abril, na Biblioteca Municipal de Alpiarça.
“O ser humano está condenado a ser, cada vez mais, altamente solitário e a depressão vai dominar; daqui por alguns anos vai ser a principal doença mental. A depressão nem sempre tem cura e a fase mais perigosa para o suicídio é na adolescência, entre os 14 e os 20 anos. Existe um grande desfasamento entre a realidade dos jovens e a realidade social e há mais atitudes impulsivas por isso os pais devem estar atentos”, explicou o médico, acrescentando que a sociedade está cada vez mais ansiosa.
Carlos Céu e Silva esclarece que o suicídio é um acto impulsivo mas existe sempre uma história por trás. Ninguém desiste de viver de um momento para o outro, afirma. “É normal termos momentos de tristeza, não somos todos sempre felizes a toda a hora. Temos que aprender a lidar com a tristeza. Não podemos medicar a tristeza. Além disso, o suicídio está sempre ligado à depressão. Uma pessoa que tenta suicidar-se pode ir até à 16ª tentativa até conseguir, embora haja quem consiga fazê-lo à primeira tentativa. A cada 40 segundos há uma pessoa que se suicida no mundo. Quem se suicida ama a vida mas não gosta muito de si”, sublinha.
“Infelizmente não se investe na saúde mental em Portugal”
O psicólogo deu o exemplo de um jovem paciente que todas as semanas se auto-mutila, com cortes no corpo, por ter desejo de aprovação desde criança e estar num estado depressivo há muito tempo. “Infelizmente não se investe na saúde mental em Portugal e desvaloriza-se a situação. Há falta de psicólogos no Serviço Nacional de Saúde e pensarmos que nas escolas existe um psicólogo para uma média de 600 alunos é ofensivo para a escola e para os pais. É fundamental haver maiores apoios para a saúde mental e só se começou a falar mais abertamente sobre o assunto depois da pandemia”, criticou.
Carlos Céu e Silva alertou a plateia, composta sobretudo por pais, para terem atenção quando um jovem é demasiado alegre uma vez que a felicidade pode esconder uma depressão. O médico referiu também que a taxa de tentativas de suicídio é muito elevada nos jovens quando entram na universidade. “Os pais acabam por se sentir culpados pelo que aconteceu ao filho e é uma situação muito injusta porque nenhum pai empurra um filho para o suicídio. É um luto para a vida toda. Podem viver a vida na mesma mas nunca mais são as mesmas pessoas”, lamenta.
O psicólogo explicou que quando alguém famoso se suicida há um aumento de quase 10% nos suicídios nos dias seguintes. “As pessoas pensam que se aquela pessoa tinha tudo, sucesso e uma carreira brilhante e apesar disso se matou, muitos vão ter coragem para imitar. É por isso que alertamos a comunicação social para não valorizar o suicídio nas notícias para não haver imitações”, esclareceu.
Deve dizer-se a verdade às crianças sobre a morte
Em relação à forma como se deve falar da morte às crianças Carlos Céu e Silva afirma que os pais e família devem descomplicar e o importante é dizer a verdade. Aos três anos de idade não faz sentido explicar a morte porque a criança não entende. A partir dos sete, oito anos a criança já tem percepção e tudo o que se lhe diz fica na memória. “Tenho uma paciente que foi pela primeira vez a um funeral aos 30 anos. Pergunto-me que tipo de maturidade emocional terá esta pessoa. Não está, com certeza, preparada para os problemas que vão surgir na vida”, afirma.
“Estamos a criar robôs humanos”
O psicólogo clínico alerta para o perigo do TikTok ou da internet. “O telemóvel dá a resposta imediata a tudo, o que faz com que, sobretudo os jovens, que são os mais dependentes das novas tecnologias, não criem pensamento. O TikTok, por exemplo, está a danificar a parte cerebral porque não lhes dá tempo para pensar, o que é fundamental. É muito importante ler porque desenvolve a parte cerebral e cognitiva. Ao lermos faz com que criemos imagens no nosso cérebro. Estamos a criar robôs humanos, o que é um perigo para a Humanidade”, criticou.