Sociedade | 01-05-2023 15:23

Na região ainda há quem dê vida a profissões que já ninguém quer

Na região ainda há quem dê vida a profissões que já ninguém quer

Há profissões que estão a desaparecer, algumas com forte tradição na região ribatejana. A propósito do Dia do Trabalhador, O MIRANTE juntou um oleiro de Tomar e um cesteiro de Salvaterra de Magos que trabalham em ofícios seculares que deixaram há muito de atrair novos interessados. José Miguel Figueiredo e António Vidigal são a memória viva de um outro Ribatejo trabalhador.

Os livros nunca lhe despertaram grande interesse, já o trabalho com o barro cativou-o desde cedo. A escolha tomada há mais de quatro décadas não agradou à família de oleiros, mas José Miguel Figueiredo tomou-a “contra a vontade de toda a gente”. Aos 12 anos saiu da escola e aos 13 fez a sua primeira talha de barro na antiga olaria do pai. Nessa altura, em Asseiceira, freguesia do concelho de Tomar, olarias e cerâmicas era o que não faltava, fossem de maior dimensão ou improvisadas numa pequena divisão de uma qualquer casa de família. Todas se perderam. Hoje, José Miguel Figueiredo é o único talheiro no activo e proprietário da Casa das Talhas, a única olaria em funcionamento na terra do barro vermelho.

No interior do edifício centenário onde nos recebe, o tom avermelhado dos imponentes potes alinhados confunde-se com as tonalidades do chão que pisamos e que foi, com o passar dos anos, assumindo as cores do barro. A dimensão do espaço comprova como noutros tempos foram muitas as mãos a moldar e a levar a cozer os potes, os púcaros para a resina, as talhas, os talhões e a loiça de uso doméstico. “Cheguei a ter 10 pessoas aqui a trabalhar, mas a China inundou o mundo inteiro”, afirma. Ao fundo passa, num andar quase impercetível entre um aglomerado de tijolos burro perfilados, o único funcionário que o acompanha nas lides.

O cesteiro que aos 75 anos não troca o vime por uma conversa de café

À sombra no quintal, sentado numa cadeira, António Vidigal vai entrelaçando o vime para construir uma cesta. Antes, já as varas de vimeiro estiveram mergulhadas num tanque de água durante uma hora. É um truque para não partirem. O fundo das cestas é o mais difícil de fazer, sobretudo quando são redondos, o que obriga a que tenha que pôr o vime debaixo dos pés e dobrado para baixo, explica o cesteiro de 75 anos, que não troca o ofício por uma conversa de café. “Quando lá vou não me demoro. Prefiro ficar em casa a fazer cestas que adoro”. conta.

Natural do Granho, concelho de Salvaterra de Magos, António Vidigal é um dos últimos cesteiros da região e lamenta não haver quem queira aprender a arte que lhe foi ensinada pelo seu pai.

*Reportagem completa na próxima edição semanal de O MIRANTE

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