Sociedade | 09-05-2023 12:00

Educar as crianças à palmada e puxão de orelhas é “acto abusivo” e “retrógrado”

Educar as crianças à palmada e puxão de orelhas é “acto abusivo” e “retrógrado”
Henrique Oliveira, Célia Madruga e Filipa Pimenta (psicólogos da escola); Dulce Rocha (presidente do Instituto de Apoio à Criança), Luísa Subtil e Rosa Teixeira (representantes da direcção da escola) e Irina Batista (associação de pais) numa foto de família antes da palestra “Nem mais uma palmada” na Escola Secundária de Benavente

Palestra “Nem mais uma palmada” realizada na Escola Secundária de Benavente alertou para a necessidade de prevenir os maus tratos na infância.

Presidente do Instituto de Apoio à Criança, Dulce Rocha, diz que é urgente acabar com a ideia que a boa educação é feita de uma bela chapada quando tem de ser.

Reprimir ou educar as crianças à palmada ou com puxões de orelhas é um acto abusivo e retrógrado que precisa de ser desmistificado para alterar mentalidades. A convicção veio a lume numa palestra promovida na Escola Secundária de Benavente na tarde de sexta-feira, 28 de Abril, no âmbito do mês da prevenção dos maus tratos na infância.
A principal palestrante, Dulce Rocha, presidente executiva do Instituto de Apoio à Criança (IAC), não hesitou em lembrar que a ideia de educar à estalada é um fenómeno que tarda em ser eliminado da sociedade portuguesa. “É errado dar palmadas. Não se aprende mais por ter uma educação restritiva e severa. Dar uma bofetada numa criança não a disciplina em nada. Ela não fica mais obediente, pelo contrário, só tem efeitos negativos. A criança que é violentada, mesmo que as pessoas considerem que é um castigo leve, geralmente é uma criança humilhada, insegura, menos curiosa e que está muitas vezes numa situação de hipervigilância”, explica a responsável a O MIRANTE.
Dulce Rocha, que já foi presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco e procuradora do Ministério Público, lembra que a sintomatologia apresentada por crianças que sofrem lesões graves é muito semelhante à que apresentam crianças educadas de forma mais severa. “Há a segregação forte de cortisol (hormona do stress) e essas crianças apresentam níveis superiores de inflamação. Isso é resultado de vários estudos incluindo um português, coordenado por Henrique Barros e feito a cinco mil crianças e que chegou a conclusões que nem ele esperava”, revela.

Para algumas crianças a sala de aula é o seu refúgio
Na sua palestra em Benavente a responsável diz não ter dúvidas que educar as crianças à base de estalos ou outras formas de abuso físico é severamente prejudicial para o seu futuro. “Gera não apenas a baixa auto-estima, insegurança e sentimentos suicidas, ansiedades e depressão, como há também uma ligação forte a problemas de nível físico”, alerta. A presidente do IAC lembra que muito tem sido feito para acabar com o abuso físico das crianças mas avisa que Portugal está adormecido sobre o problema. “É importante consciencializar as pessoas para isso. Está na hora de exigir uma grande campanha governamental sobre este assunto”, apela.
A cultura de desresponsabilização dos agressores, um sistema judicial que não protege as vítimas e a normalização da violência continuam a ser outros problemas identificados que dificultam a protecção e a prevenção de maus tratos na infância. Na Escola Secundária de Benavente estão três psicólogos e professores atentos a comportamentos dos jovens que possam indiciar perigo. “Para algumas destas crianças a sala de aula é o seu conforto e o seu refúgio e por isso temos de nos assegurar que se sentem bem aqui”, lembrou Rosa Teixeira, da direcção da escola.

É importante denunciar

No debate realizado no final da palestra a mãe de uma jovem deu o seu testemunho para alertar para a necessidade de nunca se deixar de denunciar situações suspeitas às autoridades policiais, no caso, à GNR. A filha, menor, começou a ser alvo de assédio de um homem em Benavente que a chegou a perseguir até às aulas de música. Valeu a atitude da mãe, que rapidamente identificou o homem e o denunciou na GNR, permitindo que os militares o abordassem e o caso fosse acompanhado. Estatisticamente, as raparigas são quem mais denuncia e releva os abusos sexuais ou tentativas e abordagens de eventuais predadores. “Os rapazes escondem mais. Nisso as raparigas têm mais facilidade de falar”, garante Dulce Rocha.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo