Dia dos Enfermeiros: Dois testemunhos de profissionais da enfermagem na região
Pedro Lopes é um enfermeiro entre mulheres no bloco de partos do Hospital de Vila Franca de Xira. Fátima Esteves desempenha funções no Hospital Distrital de Santarém desde que concluiu o curso de Enfermagem. O reconhecimento dos utentes conforta-os, mas não lhes devolve as horas a mais e os impasses na actualização salarial e progressão das carreiras. Dois testemunhos a propósito do Dia Internacional da Enfermagem, que se assinala esta sexta-feira, 12 de Maio.
A alegria de ajudar a nascer uma nova vida motivou Pedro Lopes a trabalhar como enfermeiro no bloco de partos do Hospital de Vila Franca de Xira (HVFX). Tremia como varas verdes quando realizou o primeiro parto, no antigo Hospital Reynaldo dos Santos, em Vila Franca de Xira. Na altura, durante a noite, só ficava um enfermeiro no bloco de partos com uma auxiliar e outro enfermeiro na ginecologia. Com a ajuda da equipa superou a primeira experiência e só no primeiro ano ajudou a nascer 232 bebés. A partir daí deixou de contar.
Pedro Lopes não é aumentado desde 2009 e ganha o mesmo salário que os enfermeiros que não tiraram a especialidade. “Os decisores políticos não sabem o que um enfermeiro faz, atribuem um número. As pessoas deixam de ser pessoas e passam a ser números. As decisões são tomadas através de uma tabela de Excel”.
O enfermeiro relata que a falta de pessoal já vem desde o antigo hospital de VFX. Amenizou quando o grupo José de Mello Saúde estava a gerir o HVFX em regime de parceria público-privada (PPP), porque havia mais pessoal no bloco de partos, pois eram permitidas contratações a recibos verdes e os profissionais de saúde faziam mais horas em regime de prestação de serviços. Mesmo assim, no último ano a gerir o HVFX, a PPP não conseguiu contratar nenhum enfermeiro efectivo para o bloco de partos. Lamenta a falta de empatia da própria sociedade que se reflecte nas idas às urgências do hospital, mas reconhece que “ninguém gosta de estar horas sentado numa cadeira” e que esse facto “é fruto da falta de pessoal e decisões políticas”.
Reconhecimento é o melhor que se leva da profissão
Fátima Esteves é enfermeira há 38 anos e confessa que a morte de pacientes é e será sempre um momento marcante com o qual lida na sua profissão. Não raras vezes houve utentes que esperaram que iniciasse o turno para morrerem. “Quando me viram disseram 'já chegaste, já posso partir mais descansada'. É sempre difícil perder alguém, mesmo um paciente porque criamos laços”, conta a enfermeira de 60 anos e trabalha no Hospital Distrital de Santarém.
Mas ser enfermeiro é também, muitas vezes, ter de desempenhar o papel de psicólogo de serviço para aqueles que precisam de desabafar. Ser um ombro amigo ao mesmo tempo que se é profissional. “Tenho antigos pacientes que passam pelo meu serviço para me apresentarem os filhos ou netos. Uma vez fui convidada para ir a um baile com doentes de Ortopedia. E fui. Isto é o melhor que se leva desta profissão”, confessa a enfermeira que perdeu a conta às noites de Natal e dias de Ano Novo que passou nos corredores do hospital.
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