Sociedade | 15-05-2023 18:00

Expansão da Linha do Norte em Vila Franca de Xira vai mexer na paisagem urbana

Expansão da Linha do Norte em Vila Franca de Xira vai mexer na paisagem urbana
Vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, deu a conhecer as ideias da empresa pública para o que o futuro reserva em Alhandra e VFX

A empresa pública Infraestruturas de Portugal apresentou as primeiras ideias para conseguir quadruplicar a Linha do Norte no apertado traçado entre Alhandra e Vila Franca de Xira e o cenário promete mudar por completo a face das duas localidades. A Estação de Alhandra pode ser demolida e a de VFX desactivada prevendo-se também o abate de 160 árvores.

Quadruplicar a Linha do Norte no apertado traçado entre Alverca e Vila Franca de Xira vai obrigar a demolir a estação de Alhandra (e a construir uma nova) e a desactivar a emblemática estação de Vila Franca de Xira e substituí-la por uma nova estação a construir mais a norte. O antigo edifício, pelo seu património azulejar, seria transformado num espaço museológico ou multiusos por parte da câmara municipal.
Estas são duas das ideias em cima da mesa no estudo preliminar apresentado na sexta-feira, 5 de Maio, pela Infraestruturas de Portugal (IP) em reunião de câmara extraordinária de VFX, onde se ficou a saber que poderão vir a ser expropriadas e demolidas perto de uma dezena de habitações, o abate de pelo menos 160 árvores - a maioria ao longo da Avenida Afonso de Albuquerque, em Alhandra - e a destruição de boa parte do jardim Constantino Palha, em Vila Franca de Xira, sobretudo na parte que hoje existe junto da linha de comboio. Para compensar o abate das árvores a IP estima vir a plantar duas mil ao longo do percurso.
Em Alhandra, além da demolição da estação e da construção de uma nova, está prevista a construção de uma nova rotunda na Estrada Nacional 10. Em VFX a ideia é construir uma nova estação, moderna, na zona do interface rodoviário e deslocalizar a passagem superior pedonal que hoje existe para norte. A passagem de nível do cais é para desaparecer trocada por uma solução ainda em avaliação.
A IP diz ter estudado a criação de uma passagem rodoviária inferior, limitada a automóveis ligeiros, que impedia a passagem de carros de bombeiros. A outra ideia em cima da mesa visa criar um canal rodoviário de acesso pela zona do jardim, somente para cargas e descargas e acesso de viaturas de socorro, obrigando à expropriação e demolição de três edifícios na zona do cais. Complementarmente, seria criada uma passagem superior pedonal junto da praça de toiros, que poderia colocar em causa a realização das populares esperas de toiros.
Na Rua 1º de Dezembro, em VFX, a IP manifestou também a intenção de expropriar e demolir os edifícios junto à passagem de nível, onde se encontra a actual sede do CDS-PP, para eliminar a curva apertada ali existente e criar uma nova passagem superior pedonal, pouco mais de cem metros a norte da actualmente existente.

Enterrar a linha não é possível
Carlos Fernandes, vice-presidente da IP, e Manuel Gil, engenheiro responsável pelo projecto, garantem que não será possível enterrar as duas novas linhas no canal existente. “Enterrar obrigava a ter um túnel com 7,5 metros de altura abaixo da quota actual e isso coloca um problema grave. Não temos espaço para construir ao lado do traçado existente e qualquer solução teria de ser no actual canal. Isso obrigaria a interromper a linha e todo o serviço durante a construção da obra. Não podemos interromper a Linha do Norte em nenhum momento. É o eixo vertebral do sistema ferroviário nacional”, explica Carlos Fernandes.
Já a solução de criar uma passagem superior ao longo do actual canal também foi descartada por causar “impactos medonhos” a nível visual na cidade. “Estamos a falar de comboios a circular ao nível de um segundo andar e isso seria como uma parede”, referem os responsáveis.
Este é apenas o estudo prévio para a solução a implementar, dada a conhecer para que os cidadãos possam dar contributos para melhorar a proposta, que pode ser consultada no site do município. Só depois haverá lugar ao projecto de execução, submissão para Avaliação de Impacto Ambiental e nova consulta pública. Se tudo correr como previsto a empreitada deverá ser lançada no início de 2025 e as obras arrancarem no final desse ano.
Os presidentes de junta de Alhandra e Vila Franca de Xira já se mostraram preocupados com os cenários apresentados e pediram uma reunião com os técnicos para se inteirarem em pleno do que está em cima da mesa. “O futuro exige mudanças e capacidade para nos adaptarmos ao futuro. O concelho não quererá travar o progresso. Mas levei uma banhada de informação. Estou arrepiado, ver 160 árvores abatidas, isso tem de ser mitigado. Tirando essa barreira natural, o que a vai substituir? Não gostaria de ver paredes de acrílico e muros brancos”, avisou Mário Cantiga, presidente da junta de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz.
O presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira, lembrou que este é apenas o momento de partida e não de chegada do projecto e que muito poderá ainda ser alterado ou melhorado.

Alverca-Castanheira é o troço mais estrangulado

A Linha do Norte tem 336 km e é frequentada por 730 comboios diariamente, cerca de 44% de todos os comboios que circulam em Portugal. A nível nacional o troço entre Alverca e Castanheira do Ribatejo é o mais estrangulado do país, sem capacidade de crescer e atravessado diariamente por mais de 75 comboios em cada via. A IP acredita que construir uma linha de traçado alternativo apenas para a alta velocidade iria causar “impactos fortíssimos” no território e impediria o crescimento do serviço regional e urbano. Depois de pronta a quadruplicação da linha os comboios de alta velocidade não circularão entre Alverca e Castanheira a velocidades superiores a 200 km/h.

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