Sociedade | 17-05-2023 07:00

Programação cultural inspira polémica na Câmara de Santarém

Programação cultural inspira polémica na Câmara de Santarém
A imagem de Otelo Saraiva de Carvalho numa exposição sobre o 25 de Abril abriu caminho a uma acesa discussão na Câmara de Santarém

Otelo Saraiva de Carvalho e o humorista Diogo Faro foram motivo de clivagem entre direita e esquerda na última reunião de câmara de Santarém.

O vereador com o pelouro da Cultura, o socialista Nuno Domingos, foi criticado por algumas opções tomadas que assumiu em nome da liberdade para tomar decisões. E o presidente defendeu que tem que haver iniciativas para todos os gostos.

A colocação de uma imagem de Otelo Saraiva de Carvalho numa exposição de fotografias sobre o 25 de Abril patente no Jardim da República, em Santarém, e a contratação, pelo município escalabitano, do humorista e activista Diogo Faro para uma palestra na Escola Superior de Educação mereceram repúdio por parte do vereador do Chega na Câmara de Santarém e motivaram um aceso debate na reunião do executivo de 8 de Maio entre direita e esquerda.
Pedro Frazão classificou como “uma aberração” a colocação de um imagem de Otelo numa exposição de fotografia sobre o 25 de Abril organizada pelo município, apontando-o como “lacaio da União Soviética”, “terrorista” e líder das Forças Populares 25 de Abril (FP-25), organização responsável por assaltos e diversos atentados mortais na década de 1980. O autarca do Chega questionou o presidente da câmara e a bancada do PSD se não tinham “vergonha” por verem uma fotografia de Otelo exposta ao lado de imagens de personalidades como o antigo primeiro-ministro Sá Carneiro, “um homem de bem e fundador do PPD-PSD”.
O ataque à programação cultural, da responsabilidade do vereador socialista Nuno Domingos, não se ficou por aí. Também a contratação do humorista e activista Diogo Faro foi repudiada pelo Chega, “com a agravante de ser pago com dinheiros públicos”. Pedro Frazão diz não perceber como é que a câmara da capital do Ribatejo e do mundo rural paga a alguém que “é uma pessoa no mínimo desequilibrada”, “defensora da liberdade da ideologia de género”, anti-taurina e contra a caça, questionando quanto é que o município desembolsou para Diogo Faro participar numa palestra na Escola Superior de Educação de Santarém (ESES). Nuno Domingos respondeu que não tinha o valor de memória mas que teriam sido “algumas centenas de euros”. Mas sublinhou que zela pelo dinheiro público como zela pelo seu.
Diogo Gomes junta-se à festa
O vereador do PSD Diogo Gomes juntou-se ao debate defendendo que a câmara “deve informar os artistas que querem vir a Santarém que somos um executivo pró-taurino, que apoia a caça, e perguntar-lhes se o dinheiro que vão receber deste município é dinheiro manchado ou se é dinheiro com algum timbre com o qual possam não se identificar”. Após ter referido que não se fizessem “leituras enviesadas” de que estaria a apoiar o vereador do Chega, Diogo Gomes reconheceu que esse “discurso da imposição do género e da sexualidade dos jovens” o incomoda, tal como o “incomodam bastante estes pseudo-activistas que fazem da radicalização o seu modo de vida”.
Diogo Gomes terminou com um recado indirecto ao vereador da Cultura: “Se calhar temos que olhar mais para a nossa programação. Eu próprio fiz agora esse exercício em cinco minutos e começo a perceber que temos aqui uma agenda: nós somos Santarém, somos a terra da liberdade e estamos abertos a tudo... agora, tem que haver um equilíbrio. E começo a ver que há aqui um desequilíbrio relativamente à nossa programação. Ainda no dia 3 houve mais uma vez um evento promovido pelo município sobre igualdade de género, sobre LGBT. Não tenho nada contra, mas tem que haver equilíbrio...”.

Cultura para todos os gostos
Nuno Domingos explicou que a razão para a vinda de Diogo Faro resultou de uma opção sua consubstanciada na liberdade que tem para decidir enquanto responsável político. “Não somos todos toureiros. E há uns que são aficionados mas têm também outros gostos... A nossa comunidade é plural”, vincou o autarca, esclarecendo que Diogo Faro esteve em Santarém para moderar uma palestra que decorreu de forma agradável e não para proferir discursos de ódio. “O senhor tem todo o direito a ter a sua opinião e eu tenho direito a ter a minha, que é claramente discordante da sua”, disse o socialista dirigindo-se ao eleito do Chega.
Quanto à imagem de Otelo, Nuno Domingos contextualizou dizendo que a exposição é sobre figuras do 25 de Abril, golpe militar de que Otelo foi o coordenador das operações e figura incontornável. Também o presidente Ricardo Gonçalves (PSD) realçou esse facto, defendeu que a programação cultural deve abranger todos os públicos e garantiu que o município continuará a apoiar a cultura e as tradições ribatejanas como é o caso das duas corridas de toiros agendadas para Junho.

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