Burocracia impede médico reformado de dar consultas gratuitas em Mouriscas
José Correia disponibilizou-se para dar consultas grátis em Mouriscas, freguesia do concelho de Abrantes que perdeu a única médica de família no final do ano passado. Vereadora com o pelouro da Saúde garante que o município tem mantido conversações com o clínico aposentado e que está em cima da mesa a implementação do projecto Bata Branca.
O médico aposentado José Correia disponibilizou-se para dar consultas gratuitas, uma tarde por semana, na extensão de saúde de Mouriscas, concelho de Abrantes, com o intuito de resolver as situações “mais urgentes” numa freguesia que perdeu a única médica de família no final do ano passado. A intenção é boa e tem entusiasmado utentes e autarcas locais, mas a concretizar-se não será, possivelmente, nas condições nem tão rápido quanto o clínico especialista em Cardiologia e Medicina Interna, de 74 anos, desejaria.
Segundo a vereadora na Câmara de Abrantes responsável pelo pelouro da Saúde, Raquel Olhicas, a autarquia tem estado em conversações com o clínico aposentado, mas para que este possa exercer é necessário cumprir os trâmites legais. “Não podemos chegar e abrir um consultório sem que esteja acreditado pela Entidade Reguladora de Saúde e tem que haver seguro. Não é só chegar e oferecer os préstimos, há contornos legais que temos que cumprir, referiu a O MIRANTE, sublinhando que o médico em causa, por ter mais de 65 anos e não ter especialidade em Medicina Geral e Familiar, não pode trabalhar integrado no regime de prestação de serviços.
A vereadora, que integra o executivo presidido por Manuel Valamatos, acrescentou ainda que a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo quer desenvolver em Mouriscas o projecto Bata Branca, modelo que visa contribuir para melhorias no acesso da população sem médico de família a cuidados de saúde primários através de protocolos entre Misericórdias/IPSS, ARS e câmaras municipais. Para o efeito, explicou, poderá vir a ser desenvolvido um protocolo com a Associação Comunitária de Apoio à Terceira Idade de Mouriscas.
José Correia, que exerceu em vários hospitais do país e foi da zona de Lisboa para residir em Mouriscas em Agosto do ano passado, confessa que sente algum desalento pela demora e incerteza da concretização da sua oferta. “Pareceu-me que era de uma simplicidade atroz, mas complicou-se e até hoje ainda não se resolveu. Aqui na freguesia vejo que há muitas pessoas idosas e carenciadas e que para conseguirem uma receita têm que ir a Abrantes. É complicado”, disse o antigo médico natural de Elvas a O MIRANTE.
Por causa do impasse, José Correia confessa que quando lhe chegar a proposta- “se vier” - não sabe se ainda estará disponível para dar consultas, até porque, reforça, a sua intenção era fazer atendimento aos utentes uma tarde por semana e de forma gratuita.
O tema foi assunto na última reunião do executivo da Câmara de Abrantes, levantado pelo vereador do movimento Alternativacom, Vasco Damas, que questionou se o presidente do município tinha conhecimento de um comunicado escrito pelo médico em causa que andava a circular nas redes sociais. Nessa publicação, escrita em Março, José Correia afirmava que tinha oferecido gratuitamente os seus serviços, mas que não tinham sido aceites. Manuel Valamatos, assim como Raquel Olhicas, afirmou desconhecer essa publicação.