Cimpor abre portas à população para explicar como minimiza impactos ambientais
Fábrica de Alhandra abriu portas à comunidade para mostrar como trabalha e os esforços que faz para conter a propagação de poeiras na vila. Um esforço por vezes inglório numa zona ventosa. Fábrica vai receber novos investimentos para se modernizar.
A fábrica da Cimpor de Alhandra produz anualmente dois milhões e 800 mil toneladas de cimento, a maioria para exportação, e por isso já instalou mais de 200 filtros de manga em várias partes da produção da fábrica para conter ou minimizar impactos da sua laboração. A fuga ocasional de poeiras é a maior luta que a empresa tem no dia-a-dia, garante a O MIRANTE o director da fábrica, Carlos Melo.
“As pessoas associam os problemas às chaminés mas não são o problema. Aí têm filtros de manga e equipamentos a medir constantemente os valores do que está a sair das chaminés e temos de cumprir com a lei. O problema é muitas vezes a poeira fugitiva dos pontos de transferência”, explica o responsável. Para ajudar a comunidade a perceber como é fabricado o cimento e que esforços a Cimpor tem feito para minimizar os impactos, a fábrica abriu as portas à comunidade na última semana.
Basta a porta de um armazém ficar aberta alguns minutos ou passar um camião com mais velocidade que o recomendado para que se levantem pequenas poeiras nos dias de mais vento. O futuro passa por automatizar o funcionamento de alguns armazéns que possam gerar maiores poeiras. Num deles já foi criado um braço robô comandado através de uma central que evita a entrada e saída constante de pessoas e veículos. Uma forma simples, mas cara, de conter as poeiras.
“Somos uma indústria e por vezes há imponderáveis e situações que saem do nosso controlo por muita preocupação que tenhamos em conter. Andamos sempre à caça de deficiências ou problemas que possam surgir mas basta um big bag (saco com 1.500 quilos de cimento) rasgar-se no momento do transporte para termos um problema”, reconhece o responsável. O director da fábrica não concorda que as gentes da vila tenham de se habituar à ideia da fábrica gerar poeiras mas reconhece que se algumas fugirem é quase impossível contê-las. Duas varredoras em contínuo dentro da fábrica tentam assegurar que as ruas estão limpas todos os dias. “Temos consciência que qualquer pó pode ser deslocado pelo vento e acabar no centro da vila. É um esforço diário e continuo para o evitar. Até porque não faz sentido, o que queremos é não sujar nem incomodar ninguém”, garante o responsável.
Patente inovadora no país
Em breve a produção de clínquer, uma matéria necessária para fabricar cimento, poderá ser feita na fábrica da Cimpor em Alhandra sem recorrer a combustíveis fósseis. A empresa patenteou um método que já está a ser testado em laboratório com resultados promissores e que pode bem vir a revolucionar a forma de produzir este material e, consequentemente, os impactos que a sua produção pode causar na comunidade próxima da fábrica.
A novidade foi deixada a O MIRANTE durante a semana de portas abertas que a fábrica promoveu e onde recebeu a visita de mais de duas mil pessoas nos dois primeiros dias da iniciativa. “É ainda um projecto-piloto mas que tem pernas para andar e poderá ser o futuro da produção de clínquer”, explica Carlos Melo, lembrando que actualmente para produzir esse material é preciso recorrer à queima de coque de petróleo e resíduos de várias matérias (como pneus, resíduos de automóveis em fim de vida, resíduos de fábricas, agricultura e de construção civil) para obter os 1.450 graus de temperatura necessária à obtenção daquele material.
Obra de 19 milhões até ao fim do ano
A fábrica de cimento de Alhandra é a mais antiga do país, tendo sido fundada em 1894 por decreto do rei Carlos I e a vila foi crescendo em redor. Chegou a ter o maior forno do mundo em 1960 e conta hoje com duas linhas de produção de cimento. Tem 144 trabalhadores directos e 150 indirectos. O objectivo é ter a fábrica de Alhandra neutra em emissões de carbono até 2050, recorrendo a parques solares (um já instalado) e através do investimento de 19 milhões de euros num novo sistema de recuperação de gases quentes de um dos fornos para geração de energia eléctrica. “Os trabalhos já estão adjudicados e a obra avança este ano”, garante o responsável. Também na calha está a modernização de toda a linha 7 da fábrica, que inclui o forno actualmente existente e cujo investimento rondará os 100 milhões de euros.