Ângelo Tiago socorre vítimas e evita tragédia no aparatoso acidente de Azeitada
O motorista de reboques Ângelo Tiago, do concelho de Salvaterra de Magos, accionou o socorro, falou com as vítimas, evitou que o gasóleo e óleo a arder causassem uma tragédia e ainda facilitou o envio de meios pesados para removerem os dois camiões que colidiram em Azeitada, Almeirim. O local do acidente, em que estiveram envolvidos mais três ligeiros, parecia um cenário de guerra onde quem visse as imagens não acreditava que ninguém tivesse morrido.
Ângelo Tiago vinha a pensar que no fim-de-semana na viagem do Algarve para a Califórnia, lugar do concelho de Salvaterra de Magos, onde reside, tinha dito à mulher que nunca tinha assistido a um acidente quando de repente dois camiões e três carros se envolvem num aparatoso desastre 20 ou 30 metros à frente dos seus olhos em Azeitada, Almeirim. O motorista de reboques, habituado a transportar veículos destruídos em colisões, desta vez foi uma espécie de bombeiro ao accionar o socorro, dar indicações sobre os feridos para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes, cortar a estrada e sobretudo evitar uma tragédia quando a zona impregnada de óleo e gasóleo começou a arder.
O funcionário da oficina de mecânica e serviço de reboques Hélder Tiago, genro do dono da empresa, sentiu o coração a querer saltar do peito quando vê à sua frente uma nuvem de gasóleo pelo ar. Um carro que fazia uma ultrapassagem na Nacional 118 acabara de embater no depósito de combustível do pesado que seguia em direcção a Almeirim. O camião descontrola-se e ceifa parte da cabine de outro camião que seguia a uma distância de dois carros à frente do reboque de Ângelo Tiago que tinha acabado um serviço e dirigia-se a casa onde a filha, com varicela, esperava os seus mimos. Calculava chegar pouco depois das 18h00 daquele 25 de Maio. Saiu do acidente com um carro acidentado no reboque eram 22h30.
Ultrapassou dois carros. Ainda lhe apitaram pensando que estava louco. Atravessou o reboque na estrada para garantir a segurança no local de acidente. Verificou que outros dois ligeiros estavam desfeitos, um deles debaixo do reboque que seguia à sua frente. O condutor de um dos camiões era o que inspirava mais cuidados. Sem formação de bombeiro, o motorista de reboques, de 32 anos, com carta de condução há 14, foi falando com as vítimas, perguntou se havia extintores nos camiões e foi buscar um à traseira de um dos pesados acidentados quando a zona começou a arder. Estava a tentar estancar um segundo reacendimento quando chegaram os primeiros bombeiros.
Quando os bombeiros começaram a socorrer as vítimas Ângelo Tiago agilizou o accionamento dos meios para retirarem os veículos acidentados. Sobretudo para os pesados que exigem reboques de grandes dimensões, que se deslocaram de Alenquer, e uma grua. Nessa altura teve tempo para pensar por que motivo quando estava a ajudar as pessoas havia gente mais preocupada em tirar fotos do acidente. “Achei que era um dever cívico enquanto cidadão e profissional e pensava que podia ser também uma das vítimas se a distância a que seguia do camião fosse menor”, conta, realçando que pensar que estava melhor que os outros o fez ter a calma necessária.
Quem visse o cenário cheio de destroços pela estrada e muita chapa retorcida pensaria que havia vários mortos. Apenas um motorista do pesado ficou com ferimentos graves, mas livre de perigo. “Parecia um cenário de guerra de um filme”. Se não tivesse facilitado a deslocação dos meios para remover os pesados, acredita, a estrada teria estado cortada ao trânsito muito para além das 4h00 quando a via ficou limpa.
“Não me senti o herói do dia. Senti que fiz a boa acção do dia e se um dia me acontecer alguma coisa que alguém também possa fazer algo por mim”, diz Ângelo Tiago no dia seguinte ao acidente na oficina em Várzea Fresca, Foros de Salvaterra, pronto para ser chamado para ir buscar algum carro avariado ou acidentado. “Fiz o que achei que devia e não era para ficar bem na fotografia porque numa situação daquelas não dá para pensar em mais nada senão socorrer as pessoas”, desabafa o motorista de reboques que não espera por reconhecimentos mesmo que os colegas digam que Deus o vai recompensar.