Sociedade | 12-06-2023 15:00

População de Arrifana contesta encerramento da única mercearia por decisão da junta

População de Arrifana contesta encerramento da única mercearia por decisão da junta
Mercearia é utilizada pela população, maioritariamente idosa, para a compra de bens essenciais e como espaço de convívio

Moradores da aldeia de Arrifana, na sua maioria idosos, não se conformam com a decisão da Junta de Freguesia de Manique do Intendente, Vila Nova de São Pedro e Maçussa em encerrar o único estabelecimento da aldeia onde podem comprar bens essenciais. Enquanto responsável pela gestão do espaço a autarquia justifica-se com contas de electricidade avultadas e diz que o estabelecimento está a ser utilizado para outros fins.

A população de Arrifana, no concelho de Azambuja, está revoltada com o encerramento da única mercearia da aldeia, onde diariamente avia os bens essenciais de que necessita, como pão, leite, carne e peixe congelado. A decisão partiu da Junta de Freguesia de Manique do Intendente, Vila Nova de São Pedro e Maçussa que fez chegar à gerente da mercearia uma carta onde refere que, por deliberação do executivo, o contrato de arrendamento, que cessa a 1 de Julho, não será renovado alegando que o espaço está a ser utilizado para outros fins que não os inicialmente previstos nomeadamente para a venda de cafés e bebidas alcoólicas ao balcão.
A Mercearia da Aldeia abriu portas há quase um ano, pela mão de Isabel Calvário e com a concordância e apoio da junta de freguesia depois do único espaço do género em Arrifana ter fechado portas. “Há muita gente a precisar deste espaço. Estamos a falar de pessoas idosas que não têm como se dirigir a outros sítios para fazer compras. Indigno-me por todos aqueles que precisam disto”, refere a O MIRANTE Eugénia Pião, de 66 anos. Um sentimento partilhado por Joaquim Marcelino que entende o serviço prestado pela mercearia como fundamental para a população maioritariamente idosa e a residir numa aldeia onde os transportes públicos são escassos. “Infelizmente nesta terra cortam tudo o que vem para aqui. Não há aqui nada, acho muito mal”, vinca na conversa presenciada por Benvinda Costa que apesar das debilidades motoras caminha mais de um quilómetro pela aldeia para fazer compras na mercearia, onde aproveita para afugentar a solidão à conversa com a vizinhança que ali se junta.


As justificações da junta
A União de Freguesias, que entretanto emitiu um comunicado à população, refere que o projecto apresentado por Isabel Calvário foi bem acolhido por esta autarquia uma vez que a povoação tinha “ficado sem a única mercearia existente” e que a população, “maioritariamente idosa, tem dificuldade em se deslocar a outros locais por falta de transporte público”. No entanto, lê-se na carta registada endereçada à gerente do estabelecimento que esta “decidiu alterar o objectivo principal, transformando a mercearia em café com venda de bebidas alcoólicas, comida confeccionada” e instalando publicidade luminosa e várias arcas frigoríficas que originaram “um consumo de electricidade excessivo”, passando a factura de electricidade de 20 ou 40 euros para 200 euros mensais. É ainda referido que eram realizados eventos no espaço sem o conhecimento da junta.
Em declarações a O MIRANTE, o presidente da junta de freguesia, Avelino Correia, acrescenta que o executivo entende que desta forma os fregueses estão a ser prejudicados em detrimento de uma pessoa que paga uma renda baixa pelo estabelecimento (50 euros mensais) e que a autarquia não pode estar a suportar gastos com electricidade tão avultados. Reconhecendo que o serviço de mercearia faz falta à população e que está disponível para, juntamente com o executivo, tentar chegar a um acordo com Isabel Calvário, o autarca lamenta que no dia em que se dirigiu a Isabel Calvário, na mercearia, para lhe falar sobre o consumo de electricidade esta não se tenha mostrado receptiva nem tenha voltado a contactar a junta de freguesia nesse sentido.
Por sua vez, Isabel Calvário rejeita praticamente todas as irregularidades que lhe são apontadas, à excepção da venda de cafés e bebidas alcoólicas ao balcão algo que, garante, acontece desde que abriu portas e com o conhecimento do presidente de junta. Situação que é confirmada a O MIRANTE pelo próprio. Já sobre a confecção de refeições, a responsável pela mercearia, natural de Arrifana a residir no Cartaxo, contrapõe dizendo que não tem “forma de cozinhar” na pequena mercearia e que o único evento que fez foi mascarar idosos no Carnaval.
Quanto ao aumento de consumo de electricidade a comerciante alega que ficou acordado que, por o contador ser comum a todo o mercado, o valor que lhe correspondia seria acertado, mas tal nunca aconteceu até pela altura do Natal ser confrontada pelo presidente de junta sobre um valor muito avultado. “Não me trouxe provas e diz que recusei pagar. Não recusei porque nunca vi carta nenhuma de electricidade”, afirma.

Abertura de novo café-restaurante apontado como “verdadeira causa”

Na localidade há quem aponte como “verdadeira causa” por trás desta decisão inesperada da junta de freguesia a recente abertura de um café e restaurante, já que até então nunca tinha havido problema com a venda de cafés e bebidas ao balcão e na esplanada da mercearia. “Quando não havia mais nenhum sítio para beber café ninguém reclamou. Não sei se foi por abrir um novo café que aconteceu isto”, diz Isabel Calvário, realçando que investiu dinheiro no negócio que pode ter de abandonar em breve.
Sobre este assunto o presidente da junta refere ao nosso jornal que, de facto, considera-se existir “uma concorrência desleal” uma vez que esse novo estabelecimento está licenciado para o propósito que serve, ao contrário da Mercearia da Aldeia que por estar localizada no mercado está obrigada a cumprir com o seu regulamento que determina que o espaço é destinado exclusivamente para venda de produtos alimentares. Para ser cafetaria, sustenta Avelino Correia, teria que estar licenciada como tal.

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