Falar de suicídio para prevenir a sua ocorrência ainda é considerado tabu
Roberto Caldas é voluntário no projecto Acolher Viver e está a pedalar pelo país com a iniciativa Bike for Life. Esteve no Instituto Politécnico de Santarém onde realizou uma conferência para alertar para a problemática do suicídio, uma das principais causas de morte nos mais jovens.
Roberto Caldas, voluntário do projecto Acolher Viver, criado em 2021, considera que as pessoas devem cuidar da sua saúde mental e, se necessário, procurar ajuda médica. Roberto Caldas está a pedalar pelo país com a iniciativa Bike for Life, tendo traçado como objectivo alertar para a necessidade de se falar de suicídio e ajudar a prevenir a ocorrência da uma das principais causas de morte nos jovens.
Com 54 anos, o atleta que vive em Guimarães esteve no auditório da Escola Superior de Gestão do Instituto Politécnico de Santarém, a 7 de Junho, para falar sobre o tema. Segundo dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos, 23% dos jovens portugueses já teve pensamentos ou actos suicidas. Além disso, o suicídio é a segunda causa de morte no mundo na faixa etária entre os 10 e os 24 anos, sendo que entre os 15 e os 29 anos é a faixa etária mais afectada em todo o mundo. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde) há cerca de 703 mil casos por ano de suicídio, ou tentativa, no mundo. Em Portugal, em 2020, foram registados 945 casos.
Roberto Caldas considera ser fundamental falar sobre o assunto que ainda é considerado tabu no país. “Infelizmente ainda se pensa muito que só quem está maluco é que vai ao psiquiatra ou ao psicólogo. Não pode haver ideia mais errada. Quem sabe que precisa de ajuda recorre a estes especialistas para cuidarem da sua saúde mental que é tão importante como a saúde física”, sublinha.
Natural de Porto Alegre, no sul do Brasil, Roberto Caldas vive há cerca de ano e meio em Portugal. O projecto Acolher Viver foi criado por voluntários residentes na Europa. O empresário chegou a fazer uma viagem de bicicleta da Alemanha até Portugal e foi parando pelo caminho. Recorda-se de se ter cruzado com uma senhora idosa que tinha perdido vários familiares nos incêndios de Verão e a sua propriedade rural ter sido bastante afectada. “O olhar da senhora estava morto, era possível sentir a sua dor e até a sua resignação pelo que estava a acontecer. Conversei com ela e acho que foi muito positivo. O objectivo destas viagens também mostrar a importância de falarmos com alguém, mesmo que seja desconhecido, sobre o que estamos a sentir, as nossas tristezas. Só falar já ajuda a ver o problema de outro ponto de vista”, conclui.
A vice-presidente do Politécnico de Santarém, Sónia Seixas, explicou a O MIRANTE a importância de aderir a este tipo de parcerias. “Aceitamos todos os desafios que nos permitam informar a nossa comunidade educativa. E tudo o que tenha a ver com saúde mental e prevenção do suicídio preocupa-nos e interessa-nos”, referiu. Desde o ano passado que o IPS reforçou a sua equipa de psicólogos para apoiar os alunos que apresentem maiores vulnerabilidades e ansiedade. “Estamos muito atentos aos nossos alunos e aos seus problemas. É normal quando chegam ao ensino superior sentirem-se inquietos, sozinhos ou ansiosos. Precisam de ajuda e a nossa equipa está cá para os apoiar”, realça Sónia Seixas.