Sociedade | 19-06-2023 15:00

“Se imaginasse que ia ter cancro nos pulmões nunca tinha fumado”

“Se imaginasse que ia ter cancro nos pulmões nunca tinha fumado”
António José Costa foi diagnosticado com cancro do pulmão nove anos depois de ter deixado de fumar

António José Costa, camionista de Almeirim, fumava entre 60 a 70 cigarros por dia. Deixou o vício de um dia para o outro. Nove anos depois apareceu-lhe um cancro.

No dia em que deixou de fumar a sua cabeça andava a mil por causa dos problemas financeiros da empresa de transportes que tinha criado. O stress era tanto que durante duas horas e meia depois de ter saído de Quarteira e até chegar a Almeirim, onde reside, fumou 16 cigarros. Uma média de um cigarro a cada 10 minutos. Na altura fumava tabaco aquecido, mas naquele dia a máquina não tinha bateria e socorreu-se do maço de tabaco convencional que andava há algum tempo no camião. O estado de espírito de António José Costa era de fugir de tudo o que apoquentava. Chegou a casa e disse à mulher que não fumava mais. E cumpriu. Quando soube que tinha cancro do pulmão não fumava há nove anos.
Foi no dia 31 de Maio de 2022 que tomou consciência que a vida é um fio frágil e que os excessos têm consequências. O diagnóstico chegou depois de oito horas nas urgências do Hospital de Santarém. Entrou às 18h00 com dores num braço cada vez mais fortes. O radiologista que lhe fez o raio X tinha andado com ele no Colégio Andaluz em Santarém. Escola onde precisamente começou a fumar aos 13 anos às escondidas do pai, a quem roubou cigarros. O segredo durou pouco mais de um ano. O pai, também camionista, apanhou-o de cigarro entre os dedos na oficina de uma empresa de transportes em Moscavide, onde tinha começado a trabalhar como aprendiz de mecânica.
António José Costa, 59 anos, ainda perguntou ao amigo se tinha alguma coisa nos pulmões, mas o radiologista desviou a conversa. A médica preparou-o para a luta contra o cancro que começou no Hospital de Santarém, onde continua os tratamentos com elogios à forma como tem sido acompanhado. Há pouco tempo começou a haver alguma esperança para quem fumava 60 cigarros por dia, às vezes três maços e meio. O cancro teve uma pequena redução. Foram seis meses de quimioterapia, uma vez por semana, nove horas por sessão. Mais 45 sessões de radioterapia. Agora está a fazer imunoterapia, para ajudar o sistema imunológico a eliminar ou atrasar o crescimento das células cancerígenas.
Foi quando trabalhou por conta própria e teve a TransAlmeirim que mais stress teve e mais fumou. Não há um motivo para ter começado a fumar. Nem para ter fumado tanto. “Era porque sim, por vício. Às vezes estava com um cigarro aceso e já estava a acender outro”. Mas de uma coisa agora tem consciência: “se soubesse o que sei hoje nunca tinha pegado num cigarro”. E não é só por causa da doença. É também pela forma como se sente. Agora, mesmo fragilizado pelo cancro, sente o corpo menos cansado do que quando fumava. Durante as nove horas de tratamento de quimioterapia muita coisa passa pela cabeça. “Pensa-se na vida, na neta… pensa-se muito”.
Pouco tempo após iniciar os tratamentos, António José Costa foi fazer exames ao Centro Clínico Champalimaud, através do Hospital de Santarém, para ver se o cancro se tinha espalhado. Chegou a marcar uma consulta na mesma instituição para ter uma segunda opinião. O que lhe disseram foi que “o que estava a fazer em Santarém é o mesmo que faziam lá”.

Andou dois anos ao volante de camiões sem carta válida
António José Costa, para os amigos “Pantofe”, tem uma vida de trabalho. Depois de sair do serviço militar obrigatório agarrou-se ao volante de um camião em 1986. Fez a primeira viagem para Inglaterra sem carta. Tinha a carta militar de pesados, mas não era válida na vida civil porque a parte da mecânica não era reconhecida. Andou nos transportes internacionais durante dois anos sem uma carta válida a conduzir para a Suíça e Inglaterra até fazer o exame de mecânica. Cada viagem que fazia a Inglaterra ganhava 25 contos (cerca 115 euros) a somar aos 70 contos (323 euros) que tinha de ordenado base. Uma pequena fortuna para a época. Passou por três empresas de transportes antes de começar a trabalhar por conta própria. Ser empresário foi a pior decisão da sua vida a seguir a ter começado a fumar.

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