Sociedade | 27-06-2023 12:00

Dadores de sangue que já sentiram a importância do gesto que salva vidas

Dadores de sangue que já sentiram a importância do gesto que salva vidas
Jorge Félix foi atropelado para conseguir salvar um cego que atravessava a rua

Jorge Félix sofreu um atropelamento grave que o deixou sete dias em coma.

Uma transfusão de sangue salvou a vida a este dador da Póvoa de Santa Iria. Duarte Almeida dá sangue há mais de 20 anos em Pernes totalizando 82 dádivas. Percebeu a real importância da atitude quando a sua mãe precisou de uma transfusão. Os bancos de sangue estão estáveis mas todos os dias são precisos mais dadores e mais dádivas regulares, alertou a presidente do Instituto Português do Sangue, a propósito do Dia Mundial do Dador de Sangue.

Dia 1 de Maio de 1999: Jorge Félix preparava-se para ir a uma reunião de trabalho quando viu uma pessoa cega a atravessar a rua fora da passadeira. Vendo um carro a aproximar-se a alta velocidade e sem dar sinal de redução da marcha para parar no semáforo vermelho não hesitou e atirou-se para a estrada. Foi a tempo de salvar o peão invisual do choque mas acabou por ser ele atropelado. O seu corpo foi projectado tendo ficado com os braços, pernas e cabeça fracturados. Esteve um mês internado e três anos de baixa a recuperar.
O veículo que o atropelou era conduzido por um condutor que estava alcoolizado. “Deram-me como morto no local”, recorda a O MIRANTE, o segurança no Centro de Saúde de Alverca do Ribatejo e bombeiro voluntário na corporação da Póvoa de Santa Iria. Foi transportado para o hospital, esteve sete dias em coma e submetido a várias cirurgias. Mas o que lhe salvou a vida foi uma transfusão de sangue que recebeu na hora. “Se não fosse esse sangue tinha morrido. Isso só provou a importância de ser dador”, recorda Jorge Félix, explicando que como estava fora da passadeira e o condutor não parou no vermelho os estragos acabaram por ser divididos não tendo havido lugar a qualquer indemnização.
Dar sangue, sublinha, faz a diferença todos os dias nos hospitais e, enquanto bombeiro, Jorge Félix não tem dúvidas: dar sangue salva vidas. “Só tenho a agradecer toda a ajuda dos dadores de sangue. As pessoas não imaginam a diferença que fazem na vida das pessoas”, conta. Durante 25 anos está impedido de dar sangue mas já foi aos dadores da Póvoa de Santa Iria, onde habitualmente fazia as dádivas, perceber quando é que poderá voltar a doar. “Tenho 55 anos, ainda vou a tempo de salvar mais pessoas”, diz o bombeiro que está habituado a ver muitos acidentes “arrepiantes e complicados”, em particular atropelamentos ferroviários.
Casado e pai de duas filhas - uma delas bombeira na Póvoa de Santa Iria - diz que a vida é feita de sonhos e quer aproveitar a segunda oportunidade que a transfusão de sangue lhe deu. Vai subir este Verão as escadas do santuário de Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego, e conta fazer o mesmo no santuário do Bom Jesus de Braga, envergando a farda de bombeiro. Também vai saltar de pára-quedas em breve.

Duarte Almeida doou sangue mais de 80 vezes
Duarte Almeida começou a dar sangue aos 25 anos depois de andar dois anos a ser desafiado por Artur Costa, um dos fundadores do Grupo de Dadores de Sangue de Pernes e padrinho da sua esposa. Numa manhã de domingo, após mais uma insistência, aceitou o desafio e passou a ser, como costuma dizer, um voluntário à força.
Desde então, de três em três meses, passou a cumprir o que diz ser o seu dever cívico e, aos 49 anos, conta já com 82 dádivas efectuadas. Continua a fazê-lo por saber que aquele gesto simples irá ajudar alguém que precisa de uma transfusão ou, até mesmo, salvar uma vida. Foi o caso da sua mãe que, quatro anos depois de ele se ter tornado dador, precisou de levar transfusões. “Acabou por falecer, mas foram três ou quatro pessoas que tiveram que dar sangue para os médicos a tentarem salvar e isso é muito valioso”, sublinha o recepcionista de hotel.
Na sua família, apenas a filha e os sogros não dão sangue por não terem idade para tal. Esposa, filho e cunhados todos são dadores de sangue, o que o deixa orgulhoso por ter a consciência que são necessárias mais de mil unidades de sangue por dia em todo o país. “O meu filho já desafiou vários amigos e apenas dois aceitaram. Acho que os mais novos não estão despertos para a importância e necessidade de dar sangue. A agulha pode assustar mas não é nada de especial”, reflecte, acrescentando que qualquer pessoa pode precisar de uma transfusão de sangue pelo menos uma vez na vida.

Duarte Almeida já deu sangue mais de 80 vezes e diz que fazê-lo é uma missão

Bancos de sangue estão estáveis mas são necessárias mais dádivas

Os meses de Verão são aqueles em que as reservas de sangue estão mais baixas porque as pessoas vão de férias. Mas é nesta estação do ano que, por norma, há mais acidentes rodoviários o que pode significar a necessidade de mais transfusões. Recentemente, a propósito do Dia Mundial do Dador de Sangue, assinalado a 14 de Junho, a presidente do Instituto Português do Sangue, Maria Antónia Escoval, afirmou que, neste momento, a situação é estável, mas defendeu serem precisos mais dadores regulares, que têm de ter entre 18 e 65 anos e pesar 50 ou mais quilos.
“Precisamos todos os dias de mais dadores e de mais dádivas porque o que nos aconteceu, nomeadamente em 2022, foi que tivemos mais dadores, mas esses dadores deram menos vezes e, portanto, precisamos que o dador fique fidelizado e que regularmente faça a sua dádiva”, afirmou, salientando que, para garantir a sustentabilidade da transfusão, o mais importante é uma dádiva regular e continuada para evitar a sazonalidade, já que o sangue tem um prazo de validade de 42 dias para os concentrados linfocitários e cinco a sete dias para as plaquetas.

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