Sociedade | 09-07-2023 07:00

“O comboio de alta velocidade não passa sem sangue”

“O comboio de alta velocidade não passa sem sangue”
A mesma equipa da IP que apresentou o estudo em Vila Franca de Xira, liderada por Carlos Fernandes, foi a Alhandra voltar a explicar os prós e os contras da solução apresentada

A empresa pública Infraestruturas de Portugal foi arrasada em sessão pública em Alhandra.

População deslocou-se em peso a assembleia municipal extraordinária de Vila Franca de Xira e atacou sem rodeios os técnicos responsáveis pelo estudo de quadruplicação da ferrovia no concelho no âmbito do projecto da linha de alta velocidade entre Lisboa e Porto. Presidente da IP avisou a comunidade para se preparar: o comboio de alta velocidade não vai passar por VFX sem fazer sangue.


Projecto bárbaro, vergonhoso, ofensivo, triste, inaceitável e uma certidão de óbito para o concelho de Vila Franca de Xira. Estas foram algumas das acusações atiradas por autarcas, cidadãos e eleitos municipais ao vice-presidente da empresa pública Infraestruturas de Portugal (IP) na tarde de 27 de Junho, durante a apresentação em Alhandra do estudo de quadruplicação da Linha do Norte.
Durante quase sete horas, em assembleia municipal extraordinária, o vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, foi confrontado com o estado de espírito da comunidade sobre o projecto para modernizar a Linha do Norte no âmbito da criação da linha de alta velocidade entre Lisboa e Porto e admitiu que o projecto vai deixar marcas profundas na paisagem urbana.
O presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira, diz que já deram entrada 37 participações de cidadãos e movimentos cívicos no site do município sobre o projecto apresentado pela IP. Trinta moradores usaram da palavra para manifestar a sua preocupação com o projecto e os impactos que terá.
“A vida social e cultural destas localidades sofrerá um golpe irrepreensível. Nenhum projecto pode passar à margem da qualidade de vida das populações”, criticou Jorge Carvalho, líder da bancada da CDU. Também João Fernandes, do BE, avisou que se a Comboios de Portugal (CP) não se comprometer por escrito com o aumento dos comboios suburbanos então a ideia de que a capacidade da linha vai duplicar “não é mais do que uma forma de comprar o nosso silêncio”.
O presidente da Junta de Freguesia de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz, Mário Cantiga, diz-se triste por continuar a ver riscos associados ao projecto e não compreender as implicações. “Hoje ficou claro que estamos perante uma inevitabilidade. Falou-se em tempos de um plano B, uma linha dedicada a ligar o Oriente ao Carregado apenas para a alta velocidade. Mas esse era um plano brutal que afectaria a vida daquelas pessoas. O Badalinho era quase eclipsado se isso avançasse”, criticou o autarca exigindo contrapartidas.

“Porque estão a esconder as possíveis alternativas?”
Também o presidente da Assembleia de Freguesia de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz, Osvaldo Pires, avisou para um projecto “simplesmente bárbaro”, com Madalena Lage, presidente da Assembleia de Freguesia de VFX a avisar que a comunidade não pode assistir de braços cruzados à alteração dramática do seu modo de vida. “Ainda não conseguiram explicar, com dados, custos e estudos, porque é que o enterramento da linha é inviável. Não queremos um melhor serviço de comboios a todo o custo”, criticou.
Já o movimento de defesa de VFX e Alhandra, pela voz de Luís Capucha, considerou que o projecto tem tudo para correr mal. “Porque estão a esconder as possíveis alternativas? Que outros estudos fizeram para insistir num estudo tenebroso como este? Isto é uma caixa negra. O projecto é inaceitável. Vão trucidar duas terras que não serão as mesmas depois deste golpe”, criticou.
CDS, PAN, PS, Chega e as duas eleitas independentes da assembleia também manifestaram o seu desagrado pelo projecto proposto pela IP. Rui Rei, da Nova Geração (PSD/PPM/MPT), foi mais cáustico e convidou a comitiva da IP a ir à Póvoa de Santa Iria ver o que aconteceu quando foi quadruplicada a linha naquela cidade há duas décadas e que, no seu entender, fracturou para sempre o acesso da cidade ao rio. “Vá lá ver a obra magnífica que foi feita. São ambas uma aberração”, criticou, acusando a IP de assinar a certidão de óbito de Vila Franca de Xira.

Enterramento da linha seria “extraordinariamente perigoso”
Confrontado com o desagrado popular Carlos Fernandes disse compreender o desconforto da comunidade para com o projecto, afiançando que a equipa não quer enganar nem esconder qualquer informação ou alternativa. “Temos os melhores técnicos do mundo nesta área. Estamos aqui para vos ouvir e sabem que não é fácil estar aqui horas a ouvir os vossos comentários negativos. Estive numa assembleia destas em 2010 onde apresentámos uma ideia para um novo corredor onde íamos demolir dezenas de casas. O comboio de alta velocidade não passa sem sangue”, atirou.
O responsável admite que vão passar mais comboios com o estudo actual e que isso não será agradável, mas nota que se existirem quatro linhas o efeito barreira não piorará por causa disso. “Damos a cara pelos nossos projectos. Se fosse absurdo como foi aqui dito não estávamos aqui. Não temos vergonha do nosso projecto”, acusou. Carlos Fernandes explicou que, à semelhança da linha entre Algés e Belém, também o enterramento em Vila Franca de Xira em terrenos lodosos seria “extraordinariamente perigoso” e custaria “centenas de milhões de euros”.

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