Sociedade | 22-07-2023 21:00

Aldeia de Vales de Cima tem uma festa que une gerações e vive do espírito voluntário

Aldeia de Vales de Cima tem uma festa que une gerações e vive do espírito voluntário
Comunidade une-se em torno da festa e da preparação dos bolos, movimentando mais de duas dezenas de voluntários

Mais de duas dezenas de voluntários de Vales de Cima, aldeia do concelho de Torres Novas, juntam-se anualmente para manter a tradição de fazer os convencionais bolos de ferradura para a festa de Verão, que decorreu a 15 e 16 de Julho com um cartaz musical diferenciado.

A festa de Verão de Vales de Cima, aldeia do concelho de Torres Novas, decorreu a 15 e 16 de Julho e contou com muita animação, actuações musicais, quermesse e restauração. Desde 1990 que a comunidade se une para organizar um evento que se caracteriza por ser um ponto de encontro entre várias gerações. A tradição de vender bolos de ferradura na festa para angariar dinheiro é muito antiga. Os preparativos para fazer os bolos começam na semana anterior quando a população se reúne para estipular que ingredientes são necessários. Na quarta-feira anterior à festa, às 20h30, mais de duas dezenas de voluntários da aldeia encontraram-se na associação para preparar a massa dos bolos.
O MIRANTE esteve na cozinha com os voluntários e com Alda do Vale, de 72 anos, cozinheira desde a primeira edição da festa de Verão, em 1990. Ninguém começa a trabalhar sem as suas instruções. Após juntarem todos os ingredientes, num total de mais de uma centena de quilos de farinha, os grupos começam a levar os 10 alguidares para o salão de festas para começarem a amassar. Alda Vale verifica se a massa está pronta e faz uma cruz com a mão para a deixar a levedar à temperatura ambiente e sem pressas. Os bolos de ferradura gostam de “dormir”, sendo necessário amassá-los durante a noite e levedarem durante seis horas, explica a cozinheira. Na madrugada de quinta-feira, às 04h30, a população volta a reunir-se para tender os bolos e levá-los aos cinco fornos cedidos pelas pessoas da aldeia. Às 05h30 já se sente o cheiro da confecção e começam a sair as primeiras fornadas.
A cozinheira, nascida e criada em Vales de Cima, aprendeu a cozinhar no Hotel Ritz, em Lisboa, quando tinha 14 anos, conta. Aprendia apenas a ver os outros cozinheiros que tentavam esconder os segredos escritos num papel dentro do bolso enquanto cozinhavam. Alda estava atenta e explica que, quando os cozinheiros deitavam fora o papel, ia buscá-lo para aprender. Aos 18 anos tirou o curso de hotelaria e, desde então, nunca mais largou o ofício. Trabalhou em hotéis, casamentos e em muitas festas. Nem a dor forte que sente na perna a faz querer parar de cozinhar para cerca de duas mil pessoas que passam pelo recinto de Vales de Cima durante os dois dias da festa. “Tenho muito carinho e amor por esta festa e estou sempre ansiosa por este fim-de-semana, apesar de só gozar a partir das 4 ou 5 da manhã porque estou na cozinha”, afirma, acrescentando que sai do recinto às 7 da manhã e às 9 volta para preparar o último dia de festa. A cozinheira é quem prepara os pratos servidos na festa, nomeadamente frango assado com arroz árabe, ensopado de borrego, moelas, febras, sopa de peixe e as sobremesas, principalmente o famoso arroz-doce em que são utilizados seis quilos de arroz. Alda do Vale recorda os tempos em que António Santos, presidente da comissão de festas de 2023, a acompanhava na cozinha. “Quando ele era mais novo estava sempre aqui a ajudar-me, eu gostava muito”, confessa a cozinheira da festa.
Foi com António Santos, de 31 anos, que O MIRANTE falou por último. Natural de Vales de Cima participa na festa desde que se lembra, juntamente com a família e toda a comunidade voluntária. Depois de pertencer à comissão de festas noutras edições, este ano assumiu o cargo de presidente. Durante os dois dias cerca de uma centena de voluntários ajudaram à festa, incluindo pessoas de outras localidades que gostam da aldeia e a querem ver com dinâmica. António Santos diz que o segredo para o sucesso da festa é a qualidade da restauração e continuarem a apostar num bom cartaz musical, que este ano contou com os FH5, The Peorth e Brysas.

Bolos são um dos orgulhos de Vales de Cima

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