Corte de verba ameaça grupo de teatro Esteiros de Alhandra
Grupo de teatro Esteiros corre o risco de não assinalar os 50 anos em 2024. Corte de 50% no orçamento do Programa de Apoio ao Movimento Associativo coloca em causa a continuidade do grupo. O encenador João Santos Lopes lamenta a falta de comunicação quanto à alteração dos critérios do programa.
O grupo de teatro Esteiros, da Sociedade Euterpe Alhandrense, sofreu um corte de 50% na verba atribuída pela Câmara de Vila Franca de Xira ao abrigo do Programa de Apoio ao Movimento Associativo (PAMA). O grupo de Alhandra recebeu este ano cerca de cinco mil euros, e em 2022 tinha recebido perto de dez mil euros.
No próximo ano os Esteiros assinalam meio século de existência mas de acordo com o encenador e dramaturgo, João Santos Lopes, existem sérios riscos das comemorações não acontecerem. “Está em causa a nossa continuidade. O que mais me custa é que nos cortaram em virtude dos novos critérios de avaliação dos grupos de teatro, em que nunca fomos ouvidos. Trabalhámos o ano 2022 com base nos mesmos critérios dos últimos anos. Não fomos informados de nada”, lamenta João Santos Lopes.
À luz dos novos critérios é valorizado o facto dos grupos de teatro levarem as peças para fora do concelho de Vila Franca de Xira. Também têm mais pontuação os grupos que estreiam duas ou mais peças por ano. O encenador recusa pagar do próprio bolso para fazer teatro e considera que os Esteiros merecem mais respeito. “Na minha opinião acho que o teatro de amadores não é importante para esta gente. Se acabarem canalizam essa verba para o teatro profissional”, afirma.
Os Esteiros tem actualmente dez elementos, incluindo os técnicos. O elenco é sobretudo feminino por falta de interesse dos homens em fazer teatro. A intenção é em 2024 levar a palco uma peça com actores antigos, como forma de homenagem e realizar um documentário sobre os 50 anos do grupo.
Ideias que estão postas em causa por falta de verba
Actualmente a sala de ensaios, na Euterpe, é partilhada com os alunos do conservatório de teatro. Mas João Santos Lopes não concebe os Esteiros fora da colectividade, até porque foi ali que o colectivo nasceu.
Politiquice local tem matado Alhandra
João Santos Lopes sempre foi a favor de um teatro municipal, que ficaria no local do velho Teatro Salvador Marques, em Alhandra. Nunca percebeu porque motivo a ideia não avançou, nem mesmo no tempo em que a CDU geria a Câmara de Vila Franca de Xira. “As pessoas têm uma visão romântica do Salvador Marques mas eu sempre fui a favor de mandar o edifício abaixo e construir de novo. As vozes do passado querem aquilo tudo igual mas eu defendo mais valências, condições técnicas e salas estúdio. Mas a politiquice local tem matado esta terra. A população tem pago caro pelas guerras intermináveis entre partidos políticos”, lamenta o encenador.
A ideia ao reconstruir o Salvador Marques era a Euterpe Alhandrense ficar com a gestão do espaço. Mas João Santos Lopes teme que isso possa não acontecer e que se venha a dar aquilo que classifica como um golpe de teatro. “Parece-me claro que a Euterpe não está nas boas graças da câmara. Vamos ver se à última hora não entregam o Salvador Marques a um grupo profissional, após anos de discussão”, reitera.
Cegada tem solução
Para os grupos de teatro profissionais há sempre solução e dinheiro. João Santos Lopes não acredita por isso que o Cegada, Grupo de Teatro de Alverca, encerre a sua actividade. Neste momento são uma estrutura de programação, com o seu mérito, mas fazem espectáculos com pessoas de fora. Já ninguém é do concelho. “O Cegada matou o teatro amador. Muita gente que foi fundadora do Cegada foi pontapeada, foram afastadas, e não foi de modo simpático. Estas coisas não podem ficar esquecidas”, afirma.