Sociedade | 26-07-2023 21:00

Ladrões de cortiça continuam a destruir montado na região

Ladrões de cortiça continuam a destruir montado na região
Fernando Pereira junto a um dos seus sobreiros que foi alvo dos ladrões

O furto de cortiça está a verificar-se em toda a região. Os ladrões extraem a matéria-prima antes da sua maturação completa, causando danos significativos nas árvores que comprometem a sua produção futura. Um produtor do concelho de Santarém deixou mais um alerta para o fenómeno.

O furto de cortiça extraída pelos ladrões directamente das árvores está a preocupar alguns proprietários no concelho de Santarém, como é o caso de Fernando Pereira que recentemente viu um dos seus sobreiros ser despojado de boa parte da sua valiosa pele, basicamente até onde os ladrões conseguiram chegar sem o auxílio de escadas. Para agravar a situação, muita da cortiça roubada tem menos de oito anos de maturação e é extraída de forma atabalhoada. “Ao ser extraída antes desse período as árvores em causa ficam ‘feridas’, provocando danos irreversíveis, comprometendo a produção futura e prejudicando a regeneração da árvore, que é uma espécie protegida”, diz o produtor florestal do concelho de Santarém, que levou O MIRANTE até junto de alguns dos sobreiros alvos dos ladrões.
Ele e outros produtores de cortiça da zona de Quinta de Cabanos, Azoia de Baixo e Póvoa de Santarém, têm sido vítimas de furtos, que acontecem habitualmente durante a noite, nalguns casos em zonas afastadas de estradas com movimento, mas noutros casos em locais junto a vias e habitações, como aconteceu com um imponente sobreiro centenário localizado no Casal Barreto. Fernando Pereira presume que os larápios sejam pessoas que conhecem o território e que têm contactos para posteriormente colocarem a cortiça no mercado, presumivelmente “vendida ao desbarato”. Até porque a cortiça com menos de nove anos de maturação tem menos valor para a indústria corticeira.
Fernando Pereira refere que a tiragem de cortiça antes da sua maturação adequada coloca em risco todo o ciclo produtivo. A cortiça precisa de aproximadamente 9 anos para alcançar a qualidade ideal, momento em que pode ser extraída sem danificar a árvore, sublinha o proprietário, enfatizando que, além dos impactos ambientais, o roubo de cortiça está a causar prejuízos económicos significativos aos produtores. Calcula que, dos casos que conhece, tenham sido furtadas cerca de 100 arrobas de cortiça, matéria-prima que está avaliada entre 35 a 40 euros cada.
Os crimes foram reportados e os lesados consideram a situação preocupante, pedindo às autoridades uma maior atenção. Foi também contratada uma empresa de segurança para efectuar rondas de vigilância pela zona, de forma a dissuadir esse tipo de ocorrências. Como os furtos acontecem em pontos diversos e muitas vezes incidindo sobre árvores isoladas, Fernando Pereira admite que para lá dos casos que conhece desde Maio último, que envolvem quase duas dezenas de árvores, poderá haver mais. Por isso apela a outros produtores lesados que apresentem queixa às autoridades. “É urgente que as autoridades, os produtores e a comunidade trabalhem em conjunto para impedir este tipo de crime e proteger um recurso tão valioso como a cortiça”, sublinha.

Um fenómeno transversal à região
O MIRANTE contactou a GNR para saber se há registo de muitas ocorrências relacionadas com o furto de cortiça nos últimos tempos mas não chegou resposta até ao fecho desta edição. No entanto, em meados de Junho a GNR tinha divulgado a detenção em flagrante de dois homens por furto de cortiça no Couço, concelho de Coruche. Em Janeiro, a GNR tinha também anunciado a detenção em flagrante de três homens que andavam a furtar cortiça no concelho de Benavente, apreendendo-lhes 500 quilos de cortiça. E no final de Fevereiro, o presidente da Junta de Freguesia da Bemposta, Manuel Alves, deu conta, na Assembleia Municipal de Abrantes, da onda de furtos de cortiça na sua freguesia, nomeadamente em terrenos que integram a área do Campo Militar de Santa Margarida.

Casos aumentaram acentuadamente em 2022

Os últimos dados facultados pela GNR, em Novembro de 2022, indicavam que até 31 de Outubro do ano passado a GNR tinha registado 50 casos de furtos de cortiça no distrito de Santarém, mais 21 casos que durante todo o ano de 2021. Durante as investigações, a Guarda deteve um suspeito e identificou sete pessoas indiciadas do crime. Em 2021 foram detidos dois elementos e identificados cinco. Uma das zonas mais afectadas foi a freguesia de São José da Lamarosa, no concelho de Coruche, onde o presidente da junta, Hélder Silva, foi um dos lesados.
A GNR diz que tem estado “particularmente atenta a este fenómeno criminal, procurando dissuadir e reprimir o furto”, realçando que têm sido intensificadas as acções de patrulhamento junto das explorações agrícolas. O comando territorial de Santarém reconhece que o furto de produtos agrícolas, no qual se inclui a cortiça, “assume uma especial preocupação, devido à sua relevância económica, bem como pela importância em manter um clima de segurança entre os produtores”. A Guarda acrescenta que nesse ano os militares da GNR realizaram 33 acções de sensibilização sobre esta temática, garantindo estar “empenhada na prevenção e combate a este ilícito, apostando numa intervenção imediata que permita dissuadir e identificar os infractores”.

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