Luís Costa esteve agarrado à droga, foi preso por homicídio e quer uma oportunidade
Luís Costa vive numa tenda no parque de campismo de VFX e pede ajuda a quem lhe possa oferecer um trabalho que lhe permita dar uma volta à sua atribulada vida. Deixou-se vencer pela droga, esteve preso por homicídio, tentou a emigração e acabou deportado. Diz que já não tem família e sofre de doença crónica. Quis contar a história de vida, recheada de episódios trágicos, para que sirva de exemplo às novas gerações.
É numa tenda que lhe foi oferecida, montada no parque de campismo de Vila Franca de Xira, que Luís Costa, 65 anos, vive diariamente com 211 euros do Rendimento Social de Inserção. Está no parque de campismo para poder fazer a sua higiene, tomar banho e ter electricidade para carregar o telemóvel. Vive da caridade da comunidade que lhe vai oferecendo roupa, comida e algumas rendas diárias do parque. Luís Costa quis contar a sua história de vida a O MIRANTE para servir de exemplo às novas gerações e ao mesmo tempo para pedir trabalho a quem o possa dar. “Só peço a quem tenha um trabalho compatível com as minhas capacidades que me possa ajudar dando trabalho, se alguém precisar de um caseiro ou de alguém para tomar conta de um terreno ou algo do género”, apela.
Luís Costa tem 65 anos, é de Alhandra e fala quatro línguas. Teve uma infância boa do ponto de vista material mas do lado pessoal foi um pingue-pongue por os pais serem divorciados, o que o levou a várias escolas na região, entre Alhandra, Póvoa de Santa Iria e Torres Novas. Já toda a família morreu. “Não tenho quem me valha hoje em dia”, lamenta.
No final dos anos 70 do século passado afundou-se na droga. Ainda trabalhava mas nunca descontava. Trabalhou em sapatarias, em fotografia e até na fábrica da Cimpor em Alhandra. A mãe suicidou-se quando estava em casa com Luís e isso traumatizou-o até hoje. Descompensou mentalmente e ainda pediu ajuda no Hospital Júlio de Matos em Lisboa.
“A família do lado do meu pai viu que as coisas não estavam a correr bem comigo e, para me segurarem, arranjaram-me um casamento com uma pessoa com quem já tinha andado mas não correu bem”, lamenta Luís Costa. O que aconteceu depois, conta, mudou-lhe para sempre a vida, quando uma agressão à companheira acabou numa pena de prisão. “Houve um desentendimento de um dia e meio, ninguém se entendia e quando vou para lhe dar um pontapé dei o pontapé mal”, lamenta. Segundo Luís, a companheira morreu 28 dias e três operações depois no hospital. Foi condenado a 13 anos e meio de prisão por homicídio e cumpriu-os na prisão de Vale Judeus em Alcoentre.
A droga é um fantasma do passado
Saído da prisão, Luís Costa foi para o Reino Unido procurar trabalho mas acabou também a viver dos apoios do Governo britânico, que o deportou em 2018 para Portugal. Sofre de bronquite crónica e o RSI serve sobretudo para os medicamentos, comida e o parque de campismo onde vive. Há três semanas esteve internado nos cuidados intensivos do Hospital de Vila Franca de Xira com problemas respiratórios e baixo oxigénio no sangue.
A droga, diz, é um fantasma do passado. Conta já ter pedido ajuda ao município mas lamenta que ninguém lhe tenha valido. “Há aí pessoas sem abrigo que ainda têm as casas dos pais e estão a ter mais ajudas do que eu que não tenho nada”, lamenta.
Câmara tem acompanhado o caso
Contactada por O MIRANTE a Câmara de Vila Franca de Xira explica que Luís Costa tem sido acompanhado pelo Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social desde Abril deste ano. Questionada sobre a possibilidade de haver uma habitação para lhe disponibilizar, a autarquia diz que apenas foi proposta a integração numa resposta de acolhimento de emergência, por norma pensões ou unidades hoteleiras fora do concelho, “o que foi declinado pelo próprio”. Foi também concedido apoio económico para medicação, de acordo com a prescrição clínica e também a integração de Luís Costa na Cantina Social visando assegurar as necessidades alimentares. Explica o município que o homem pernoita no parque de campismo “por iniciativa própria” não tendo sido esta a resposta disponibilizada pela câmara. Os serviços sociais prometem manter o acompanhamento social da situação.