Sociedade | 30-07-2023 07:00

Idosos do Couço combatem solidão na ARPIC

Idosos do Couço combatem solidão na ARPIC
A ARPIC é um ponto de encontro e de convívio

A Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos da Freguesia do Couço (ARPIC) é o ponto de encontro dos idosos da vila. As tardes são passadas a pintar, costurar, a jogar dominó e sobretudo a conversar. Além do combate ao isolamento social a associação é uma alternativa aos lares.

A Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos da Freguesia do Couço (ARPIC) é um verdadeiro refúgio de criatividade, convívio e aprendizagem para a terceira idade. Depois de uma vida de trabalho, os idosos combatem o isolamento na ARPIC, em vez de ficarem em casa, muitas vezes sozinhos. Na associação as senhoras entretêm-se a pintar e costurar e os homens jogam dominó e cartas. Entre conversas e gargalhadas não têm vagar para ficar tristes.
É o caso de Lino Augusto Rosa, 92 anos e meio, como gosta de dizer. Vai todos os dias à associação, desde há cinco anos. Mora a seis quilómetros, na Brejoeira, e até ao final de 2022 deslocava-se de mota. O viúvo é um dos 30 utentes que recebe apoio domiciliário através da associação. Todos os dias as funcionárias entregam-lhe o almoço em casa, com uma sopa reforçada para o jantar. Depois da refeição vai de boleia para a ARPIC onde fica ao serviço do bar até às 16h30. “Se não viesse para aqui já estava aleijado. De manhã acordo às 08h30, tomo banho, trato dos bichos, almoço e depois venho para cá. Isto é a minha família”, conta a O MIRANTE.
Ao seu lado, na mesa em frente ao balcão do bar, senta-se sempre na mesma cadeira para jogar dominó Joaquim Augusto Elias, de 79 anos, nascido e criado no Couço. Chega por volta das 13h00 e fica até às 16h30. Conta que as tardes são passadas a jogar mas também a falar da vida uns dos outros e das vivências da vila.
Aos 85 anos Joaquim prefere estar sentado no sofá. Não gosta de jogar mas de bisbilhotar. Tem uma veia de jornalista e interessa-se por travar conversa e saber as novidades fresquinhas. Na porta ao lado sentam-se as senhoras em torno da mesa, repleta de tecidos, linhas, pincéis e tesouras. As tardes de segunda-feira e quarta-feira são passadas a costurar e as terças-feiras e quintas-feiras a pintar. Os talegos (sacos), os panos bordados e as andorinhas são alguns dos trabalhos manuais feitos pelas seniores. Depois são vendidos a particulares ou vão para a quermesse das festas. A verba é canalizada para as actividades da ARPIC.
A mentora da costura é Joaquina Dias, 67 anos, que também faz parte da direcção. Rita Nunes, da mesma idade, é responsável pela pintura, desde que foi convidada para se dedicar ali ao seu passatempo. Tirou um curso de pintura e agora ensina o que sabe. Também cedeu ao convite das amigas Maria Gracinda Nunes, de 79 anos. Frequenta a ARPIC há ano e meio. Para além da costura gosta de jogar às cartas. “Aqui passamos momentos agradáveis e saímos satisfeitas com o que fazemos. Faço talegos, panos, aventais e preencho as sardinhas”, diz sorridente.
Para desanuviar a cabeça, Maria José Ribeiro, 64 anos, dedica-se ao crochet e conta piadas. Ao lado, Maria Custódia, 82 anos, diz divertir-se, e Maria Albertina, 73 anos, prefere estar ali do que em casa. Os cantares da ARPIC são da responsabilidade de Maria Augusta Agulha, 69 anos. Mas para o nosso jornal fez questão de coser um talego à mão.

Alternativa ao lar
Semanalmente, duas funcionárias da ARPIC asseguram a confecção das refeições na cozinha da associação. A entrega ao domicilio é feita em carrinhas por outras quatro trabalhadoras. São 30 utentes que têm apoio domiciliário, alguns já acamados. Com a Segurança Social existe acordo para 19 pessoas. As funcionárias dão banho aos idosos, limpam a casa e mudam a roupa das camas. Mas manter a cozinha a funcionar é terrível, segundo a direcção da ARPIC. O preço dos alimentos aumenta todas as semanas e ali não se faz a mesma comida que nos lares. Confeccionam-se receitas locais, com alimentos a que os idosos estão habituados e gostam de degustar.
As instalações da associação são cedidas pela Câmara Municipal de Coruche mas as despesas fixas são pagas pela ARPIC. Sem dívidas, a instituição tem 500 sócios que pagam quotas de um euro e meio por mês. O presidente da direcção, Rogério Justino, desabafa que o sonho é ter um lar residencial e um centro de dia. O lar privado mais próximo está lotado e a maioria dos habitantes do Couço é idosa. “Somos a ponte entre os idosos e a família. Os filhos vivem em Lisboa, estão fora daqui, e são os próprios a pedir para tomarmos conta dos pais. A alternativa era irem para um lar”, relata.
As excursões e os almoços-convívio, fora do Couço, são os momentos mais apreciados pelos utentes. É uma alegria conhecerem sítios que, por conta de uma vida de trabalho, não tiveram oportunidade de conhecer. Os momentos mais difíceis para quem trabalha na ARPIC é inevitavelmente a partida de um dos idosos.
Telma Loureto trabalha na instituição há 17 anos, quando começou o centro de convívio e o apoio domiciliário. Sublinha que o denominador comum nos utentes que acompanha é o combate à solidão através do convívio. “Por mais contrariedades que aconteçam ouvirmos os idosos dizerem para não lhes tirarem a ARPIC, porque é a casa deles, enche-nos a alma. Vemos que fazemos a diferença na vida destas pessoas e que elas precisam disto”, realça.

Joaquim Elias e Lino Rosa jogam dominó todas as tardes

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