Sociedade | 01-08-2023 10:00

Cuidar dos netos é um acto de amor que dá novo sentido à vida

Cuidar dos netos é um acto de amor que dá novo sentido à vida
Maria Nazaré cultivou com a neta Eva, agora com 15 anos, uma ligação muito forte

Figuras de amor, de partilha de valores e conhecimento, os avós assumem em muitas famílias um papel de destaque ao cuidarem dos netos a tempo inteiro ou enquanto as mães e pais estão a trabalhar. Maria Nazaré, Laura Leal e Carla Silva são três avós de Samora Correia que não abdicam da companhia das netas ao mesmo tempo que apoiam a rede familiar. A 26 de Julho assinalou-se o Dia dos Avós.

São vários os estudos que apontam benefícios para a saúde física e psicológica e também ao nível da redução da solidão para os avós que cuidam e mantêm uma ligação afectiva com os netos. Mas não é esse o motivo que os leva a assumir um papel activo na rede familiar, geralmente numa fase da vida livre de obrigações laborais. Cuidar a tempo inteiro ou em alguns momentos do dia é uma forma de ajudar os filhos na gestão familiar ao mesmo tempo que se dá e se recebe amor. “O papel dos avós é esse: facilitar a vida dos filhos quando se pode. Sempre o fiz de bom grado, nunca senti que cuidar da minha neta era uma obrigação, nem deve ser”, diz Maria Nazaré, uma das três avós de Samora Correia que conversaram com O MIRANTE a propósito do Dia Mundial dos Avós assinalado na quarta-feira, 26 de Julho.
Aos 65 anos esta avó, que está aposentada mas mantém a sua actividade como ceramista, começou a ficar com a neta, Eva, sempre que os horários da sua filha se prolongavam no trabalho. Hoje a ligação entre as duas é “muito forte” e continuam a estar muito presentes na vida uma da outra. “Vou levá-la e buscá-la à escola e às vezes fica em minha casa onde tem um quarto só dela. Vamos ao cinema, às compras, ver exposições e fazemos workshops juntas - no último aprenderam a fazer grafites. Gosto de estar com ela e ela comigo”, refere.
Apesar de sempre ter tido uma grande contribuição na educação e transmissão de valores à neta, Maria Nazaré entende que há barreiras que não devem ser ultrapassadas. “Nunca tentei educar de forma diferente, a minha filha é que é a mãe e nunca pus em causa a sua autoridade”. O que não significa que concorde sempre com a forma de educar, mas nesse caso, explica, tem-se uma conversa fora da presença de Eva.

Laura Leal com as netas Laura e Luísa que passam parte do dia ao seu cuidado

“Acho que se tem mais paciência para os netos”
Laura Leal adoptou a mesma postura, mas admite que enquanto avó é mais permissiva do que como mãe. “Se resolverem abrir uma gaveta e despejar tudo o que está lá dentro despejam que depois eu arrumo. Acho que se tem mais paciência para os netos, talvez porque temos mais disponibilidade”, atira de olhos postos na neta Luísa, de um ano, que começou há dias a dar os primeiros passos. Além de tomar conta de Luísa a tempo inteiro, que não foi para o jardim-de-infância por falta de vaga, esta avó de 70 anos é responsável por levar e ir buscar ao infantário a neta de três anos, que herdou o seu nome próprio. Tarefas que são revezadas à semana com a avó materna das crianças.
O tempo que passa com ambas, assegura Maura Leal, traz-lhe mais vitalidade e “enche o coração”. E o amor que lhes tem “é diferente, inexplicável e ultrapassa o que se tem pelos filhos”; talvez por ser mais maduro, tenta explicar. Por esta altura do ano a maior parte das brincadeiras com as netas dá-se no quintal de casa onde, tal como no interior, os brinquedos já fazem parte do cenário. “Podem andar à vontade, estão ao ar livre e acho que isso é muito bom para as crianças”, defende a avó de quatro netos, que espera que “nunca se esqueçam que tiveram alguém que ajudou a cuidar e deu amor”.

Carla e Fernando Silva continuam a ser um apoio de retaguarda para os pais da neta Laura Sofia

“Os valores da família estão-se a perder”
Também na casa dos avós Carla e Fernando Silva abundam os brinquedos de Laura Sofia, a neta de seis anos da qual começaram a cuidar quando tinha apenas três meses. “A mãe teve que ir trabalhar e nós ficámos com ela. O amor que lhe dou é igual ao que dei aos meus filhos. Esta menina é a minha vida”, diz-nos Carla Silva, de 54 anos, que devido a um problema de saúde teve que deixar de trabalhar antes da idade legal para a reforma.
Apesar de Laura Sofia frequentar o jardim-de-infância, os seus avós continuam a ser um apoio importante na rede familiar. Vão buscá-la à escola e há dias na semana em que fica lá em casa. Por vezes, contam, nem é por necessidade mas porque se afeiçoaram à neta e gostam de a ver crescer de perto. “Fazemos bolos juntas, deixamos que participe nalgumas tarefas de casa, vemos filmes, lemos para ela e o avô leva-a a andar de bicicleta”, partilha Carla Silva, que acredita que os avós têm um papel importante a desempenhar na educação dos membros mais novos da família.
“Os valores das famílias estão-se a perder porque cada vez há mais crianças que não têm ligação familiar com outras pessoas que não os pais. Antigamente tínhamos muito isso e felizmente a Laura tem a sorte de também ter esses laços”, afirma esta avó de mais um menino de ano e meio que está ao cuidado dos bisavós - os pais de Carla - que têm 76 e 78 anos. Carla Silva não sabe ao certo qual o papel que irá ter na vida da neta quando esta crescer, mas não duvida que o tempo que passam juntas a ajuda a viver melhor. “Espero poder estar por perto toda a vida”, remata.

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