Sociedade | 02-08-2023 12:00

O “trombão” gigante numa casa em Vales de Cima onde a família é o que mais importa

O “trombão” gigante numa casa em Vales de Cima onde a família é o que mais importa
Américo Lopes faz da agricultura o seu passatempo diário e na sua horta tem um “trombão” com cerca de 1,50 metros de comprimento

Américo Lopes trabalhou no campo, combateu na guerra e foi chefe da CP. Na sua horta, em Vales de Cima, no concelho de Torres Novas, tem um “trombão” com cerca de um metro e meio de comprimento que cuida com carinho. Uma conversa onde as palavras amor e família estiveram sempre presentes.

Em Vales de Cima, no concelho de Torres Novas, Américo Lopes trata com orgulho de uma plantação de “trombão”, sendo que o legume mais acarinhado tem cerca de um metro e meio de comprimento. O tamanho incomum serviu de motivo para O MIRANTE se juntar ao agricultor, de 83 anos, e à sua esposa, Lurdes Ferreira, e conversar sobre a sua história de vida. Começando pelo ex-libris, Américo Lopes conta que a semente lhe foi oferecida por um familiar e, embora exista tradição na família do cultivo do “trombão”, um legume também conhecido como calondro, muito utlizado em pastelaria, nunca nenhum atingiu esta dimensão.
Américo Lopes é natural e reside em Vales de Cima. Na conversa com o nosso jornal recuou até à infância, quando perdeu a mãe e o pai, e ficou a viver com a sua tia. Completou a terceira classe, aos 13 anos saiu da escola e foi trabalhar para a agricultura. Aos 17 anos decidiu voltar aos estudos e completou a antiga quarta classe com o objectivo de dar rumo à sua vida. Embarcou para a guerra em Moçambique a 30 de Janeiro de 1962, onde o maior ataque que sofreu foi de formigas, conta em jeito de brincadeira. Namorou durante seis anos com Lurdes Ferreira, sendo que dois deles foram através de cartas. “Ainda hoje sei o número dele na tropa de tanta vez que lhe escrevia. Mas já andava farta daquela vida”, desabafa Lurdes Ferreira. Todos os dias à noite, antes de adormecer, rezava pelo marido, revela, pedindo-lhe para contar a história de quando ia morrendo numa praia em Moçambique, perto do local onde estavam a proteger umas minas. Juntamente com os colegas fez uma canoa com paus onde só cabia uma pessoa e quando se apercebeu, depois de passar a agitação do mar, já seguia em direcção ao horizonte com o vento a empurrar. Desesperado e longe da terra, mandou-se para dentro de água e começou a nadar sem descanso. Depois de uma longa batalha, a corrente trouxe-o de volta à margem e sobreviveu.
Quando regressou a Portugal, em Maio de 1964, foi trabalhar para a fiação enquanto tentava arranjar uma casa para poder casar com a actual esposa. Aos 25 anos, e durante sete, trabalhou na Comboios de Portugal (CP) como servente de estação em Tomar. Acreditava que não tinha capacidade, mas concorreu para chefe de estação, e conseguiu o cargo, que manteve até aos 54 anos, quando se reformou. Durante toda a vida conciliou o trabalho com a agricultura. Actualmente a horta passou a ser o seu passatempo diário. Planta feijão, abóbora, couve, courgette, tomate, batatas e, recentemente, trombão. Habitualmente ia para o café durante a tarde conviver com os amigos, mas agora passa mais tempo em casa com a esposa. “Quando somos velhos ganhamos mais amor um pelo outro do que quando somos novos”, confessa. Lurdes acrescenta: “oxalá que as minhas filhas e netas tenham a sorte que tive”. O casal tem três filhas, oito netos e quatro bisnetos, e é na sua casa, na aldeia de Vales de Cima, que vivem felizes e com muito amor, sublinham.

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