Rui Reis começou a produzir cerveja na garagem dos pais
Há nove anos Rui Reis embarcou na aventura de criar a sua própria cerveja, a Ermida. Apesar do sucesso, diz que a quer manter artesanal e focada num público diferenciado, sem aventuras nas grandes superfícies. Dia 4 de Agosto celebra-se o Dia Internacional da Cerveja e O MIRANTE foi conhecer a história do mestre cervejeiro de Abrantes.
Nascido e criado em Abrantes, Rui Reis sempre teve uma ligação especial com o mundo da alimentação e conseguiu concretizar o sonho de produzir a sua própria cerveja, a Ermida, já lá vão nove anos. Formado em Engenharia Zootécnica, é responsável por uma empresa de consultadoria e a cerveja é o seu passatempo e a grande paixão. A propósito do Dia Internacional da Cerveja, assinalado a 4 de Agosto, O MIRANTE foi ao bar Crispean’s, que Rui Reis abriu mesmo ao lado da Estrada Nacional 2, para conhecer o santuário da cerveja artesanal.
A inspiração surgiu durante as suas pesquisas na Internet por ideias para um novo produto alimentar. De forma inesperada, deparou-se com uma notícia sobre workshops promovendo a cerveja artesanal no Porto, ainda nos primórdios dessa tendência. O fascínio pela bebida, que sempre foi sua preferência, somado à curiosidade de provar cervejas locais nas suas viagens ao exterior, motivaram-no a explorar esse universo. Ainda realizou um curso intensivo em Barcelona para mestres cervejeiros e pouco depois já estava na garagem da casa dos pais a tentar criar a sua própria cerveja. Umas vezes seguindo receitas antigas outras vezes inovando e criando os seus próprios sabores.
As cervejas produzidas por Rui Reis eram, na sua essência, monásticas, inspiradas nas cervejas belgas, recorrendo a ingredientes simples: água, malte, lúpulo e cevada. Algumas receitas ganharam um toque especial com a adição de especiarias, mel e frutas. No início experimentou produzir cervejas com água de fontes locais, mas com o aumento da produção tornou-se inviável continuar essa prática e optou por usar água da rede pública que o próprio trata. Os amigos, diz, foram as suas primeiras cobaias para testar as cervejas. Uma cerveja, explica, demora entre um a três meses a produzir. O nome que deu à Ermida é alusivo ao local onde a cerveja começou a ser produzida, na garagem da casa dos pais. “Como estava a começar não a podia chamar de catedral, tinha de ser uma capelinha”, brinca.
O sucesso inicial abriu portas para as primeiras encomendas e em 2014 a demanda cresceu ao ponto de ser necessário legalizar a actividade. Com o tempo o portfólio de Rui Reis cresceu, contando agora com 16 cervejas diferentes. Todos os anos lança uma nova criação, variando desde inspirações belgas, alemãs e irlandesas até cervejas mais inovadoras e criativas, incluindo versões como abadia, imperial stout, strong scotch ou winter ale.
Um brinde a Abrantes
Entre as suas criações destaca-se uma cerveja especial dedicada a Abrantes, chamada Cidade Florida. Carrega aromas e sabores característicos da região, como a tília, casca de laranja, sementes de coentros e gengibre. “Quis homenagear a minha terra e quando a bebemos sentimos todos estes aromas e sabores”, conta o homem que bebeu a sua primeira cerveja aos 15 anos numa brincadeira de amigos. Anualmente a sua produção é de 2.500 litros e as vendas são sobretudo na zona de Abrantes e do Ribatejo.
Já no que toca a vender nas grandes superfícies, Rui Reis diz que não é o seu objectivo. “Elas estão associadas a estratégias de volume e a Ermida tem algumas limitações nos volumes de produção e por isso quer entrar em sítios onde se valorize a qualidade e a diferenciação. Queremos restaurantes com valor acrescentado, bares da especialidade e lojas gourmet”, explica.
Acredita que os festivais de cerveja são uma excelente oportunidade para as pessoas provarem algo diferente e defende que a cerveja artesanal ainda tem muito a oferecer. Diz que no seu coração há espaço para todo o tipo de cervejas, desde as lager mais correntes que se encontram nos supermercados às cervejas tradicionais. “Há cervejas boas para o Inverno e para o Verão. As mais graduadas e fortes são melhores no Inverno; as mais frescas, com menos álcool, são o ideal para o Verão”, explica.
Ribatejo e a produção de cereais
A cerveja artesanal de Rui Reis é vendida na Praça Ribatejo Interior, uma plataforma online que visa promover os negócios dos empreendedores locais, desenvolvida pela TAGUS - Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Interior. “Tem sido muito importante por dar oportunidade aos produtores mais pequenos de colocar os seus produtos no mercado. É espectacular”, elogia o responsável.
A sua cerveja é feita sobretudo com cereais importados, mesmo estando numa região do país que já foi forte, em tempos, na produção cerealífera. “A cerveja é feita a partir do trigo e cevada e a maior parte das zonas cerealíferas do Ribatejo está a ser aproveitada para fazer milho, hortícolas e até plantar amendoeiras. Estão a desvirtuar a imagem da lezíria ribatejana”, critica.
Com os avanços no conhecimento sobre segurança alimentar, higiene e aprimoramento dos cervejeiros, Rui Reis acredita que as cervejas artesanais só tendem a melhorar e diz que nunca como agora se bebeu tão boa cerveja. A proximidade da Estrada Nacional 2 é, para o empresário, um ponto a explorar por Abrantes. “A cerveja artesanal é uma oportunidade turística e empresarial. Estamos à beira da EN2, não tenho tantos turistas como desejaria mas vou tendo alguns estrangeiros. Sobretudo apreciadores de cerveja. Termos aqui a EN2 é um trunfo comercial e turístico que temos de aproveitar”, defende Rui Reis, acreditando que o futuro continua promissor a cada gole, como um brinde à eterna evolução do mundo cervejeiro.