Imigrantes podem ser solução para falta de trabalhadores nos lares
Paulo Horta está há 25 anos como dirigente no Centro Social Paroquial Casa de São José, em Castanheira do Ribatejo. O vice-presidente da instituição recebeu O MIRANTE nas instalações da instituição, na Vala do Carregado, e falou sobre os desafios diários que enfrentam.
Há cada vez mais dificuldade em recrutar auxiliares e trabalhadores para a área da terceira idade. A solução pode passar pela contratação de imigrantes ou valorizar a própria profissão através da formação e melhor remuneração. A opinião é de Paulo Horta, vice-presidente do Centro Social Paroquial Casa de São José na Castanheira do Ribatejo (CSJ). O dirigente afirma a O MIRANTE que a valência de infância é que sustenta a instituição e não a da terceira idade.
A instituição nasceu em 1949 e em 1985 actualizou os estatutos como Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS). Hoje tem valência de pré-escolar, creche e ATL. No caso dos idosos, tem acordo com a Segurança Social (SS) para apoiar dez utentes no domicílio, mais a Estrutura Residencial para Idosos (ERPI) que presta serviço a 20 utentes alojados em quatro apartamentos em prédios de habitação na Vala do Carregado. São 40 os funcionários da casa, distribuídos pelas várias funções. A confecção das refeições foi adjudicada a uma empresa.
A construção de um novo lar não está posta de parte. A CSJ goza de uma boa situação financeira, sem empréstimos bancários e com capacidade para realizar investimentos. A instituição optou por não se candidatar ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) apesar dos fundos próprios para cobrir parte do investimento. “Decidimos não avançar porque não tínhamos um terreno na freguesia que fosse do município de Vila Franca de Xira e que considerássemos como uma boa localização”, explica o dirigente.
A IPSS debate-se com casos de abandono de idosos que acabam por ficar afectados psicologicamente. Os utentes chegam ao lar cada vez mais dependentes de terceiros. A instituição dispõe de cinco camas cativas para pessoas sem família, em condições de saúde precárias e/ou com reformas muito baixas. “Discordo da Segurança Social, porque é atribuído um valor a estas vagas de 997 euros para o ano de 2023. Nós temos um custo relativamente baixo por idoso e a estrutura para a infância acaba por sustentar o lar”, diz.
Cristianismo sem fundamentalismos
Na valência para a infância, Paulo Horta não percebe o motivo pelo qual o acordo com a Segurança Social nunca foi estendido. A Casa de São José tem seis salas com capacidade para 25 crianças mas só existe acordo para uma parte. A instituição vai tentar reconverter alguns lugares de pré-escolar para creche, até porque há falta de vagas. Quanto à gratuitidade das creches, o dirigente mostra-se preocupado com o futuro da medida governamental. “Prevejo dificuldades. No futuro, o valor da comparticipação de cada criança não vai acompanhar o custo da mão-de-obra e alimentação. Esta situação aumenta a dependência das instituições face ao Estado; vão ficar subsídio-dependentes”, reitera.
O carácter religioso da instituição sente-se mais no lar, onde o padre celebra missa. No caso das crianças Paulo Horta sublinha uma mudança de visão por parte dos encarregados de educação em relação à religião. “Chegaram a perguntar por que tínhamos o símbolo da cruz nos edifícios ou a fotografia do Papa e do cardeal. Não as tirámos porque é a génese da instituição. As pessoas que não se sentirem confortáveis têm o direito de escolher não estar aqui”, diz. Paulo Horta garante que ninguém é obrigado a andar na catequese ou a usar símbolos religiosos. Mas no dia-a-dia da instituição as actividades têm em consideração a prática cristã e os princípios do cristianismo sem fundamentalismos.
Espírito de missão
Paulo Horta está desde 1998 na CSJ e orgulha-se de gerir a instituição como gere a sua casa. A licenciatura em Gestão de Empresas ajudou a equilibrar financeiramente a casa e até a elaborar os projectos internamente. Em várias fases da sua vida a família ficou para trás. Hoje está divorciado mas as duas filhas frequentaram a instituição até mudarem de ciclo. Nunca pensou em desistir assumindo a função com o espírito de missão. “Se me movesse pelo reconhecimento já me tinha ido embora há muito tempo. Estou aqui enquanto quiserem que aqui esteja e que considerem que faço a diferença”, diz.
Os momentos mais difíceis que viveu ao serviço da CSJ foram durante a pandemia, em que recebia telefonemas a qualquer hora do dia ou da noite. Outro dos episódios mais marcantes foi o falecimento de um bebé no berçário em 2010.
O vice-presidente tece elogios a Lurdes Silva, funcionária da casa desde 1985, como sendo o seu braço direito. Embora não tendo o cargo de directora-geral é como se fosse. Está atrás de uma secretária, com papéis, mas faz tudo. Cada vez que começa um novo ano lectivo faz questão de associar o nome das crianças e bebés aos rostos, assim como os dos pais. “O momento mais marcante para mim foi ter inaugurado esta casa depois de um grande esforço. O objectivo antes de me ir embora era construir um lar de raiz mas já tirei daí a ideia”, diz.