Tomar deixou de ter barracas no Flecheiro
A Câmara de Tomar concluiu o processo de demolição de 60 barracas e reinstalação de 250 pessoas que levou uma década. O dia 1 de Agosto de 2023 fica para a história por excelentes razões.
A Câmara de Tomar concluiu o projecto social “histórico”, iniciado em 2013, com a demolição da última das 60 barracas existentes na zona ribeirinha do Flecheiro e instalação de 250 pessoas em habitações condignas. O plano de reintegração habitacional da comunidade cigana, instalada há décadas num acampamento na zona ribeirinha do Flecheiro, junto ao rio Nabão, numa das principais entradas da cidade de Tomar, foi delineado para ser concluído em oito anos (dois mandatos autárquicos). No dia 1 de Agosto, o processo de demolição total das barracas e instalação de cerca de 250 pessoas em casas e bairros sociais foi concluído, uma década depois, representando o “fechar de um gueto”. Maria Manuela Pascoal, a última residente do Flecheiro, foi despedir-se do que considerou ser a sua “casinha” durante meio século. O processo de demolição contou com a presença do vice-presidente da autarquia, Hugo Cristóvão, do presidente da União de Freguesias de São João Batista e Santa Maria dos Olivais, Augusto Barros, e de outras entidades.
O realojamento das famílias foi feito estrategicamente ao distribuir as famílias pela cidade, nomeadamente no Bairro 1º de Maio, Bairro Nossa Senhora dos Anjos, Bairro da Caixa, Centro Comunitário de Apoio Familiar de Tomar e na parte histórica da cidade, o que representa um investimento de centenas de milhares de euros na requalificação e aquisição de casas, tal como a construção do centro comunitário. “O nosso princípio sempre foi distribuir porque é o que entendemos que são as boas práticas a nível nacional e internacional. Levar estas famílias para outro local não resolvia nada, era apenas transferir de sítio”, explica a O MIRANTE Hugo Cristóvão, acrescentando que os problemas vão para além da habitação, sendo crucial a interacção das famílias e, principalmente das crianças, com outras famílias para que tenham outras perspectivas e não sejam prejudicadas pela pressão social.
O primeiro desafio foi fazer com que a comunidade de etnia cigana acreditasse que o problema ia ser resolvido e as mudanças iam acontecer, afirma o vice-presidente, exemplificando que já há pessoas empregadas, a concorrer a concursos de trabalho ou a terminar a escolaridade obrigatória. “Queremos chegar ao ponto em que nenhuma etnia em específico seja tema de conversa em Tomar”, acrescenta.
“Não concordo que alguma família tenha sido ultrapassada”, adianta o vice-presidente relativamente às críticas de que o município tem sido alvo, de privilegiarem as famílias de etnia cigana na entrega de habitação social, explicando que todas as famílias do Flecheiro fizeram parte das listas de concurso para o realojamento, apesar da legislação prever que um processo de demolição e reabilitação urbana tem prioridade. As casas vão continuar propriedade do município e os residentes vão ter a seu cargo o pagamento da renda, água, luz e gás, o que não acontecia no “acampamento do Flecheiro”, frisa.
“Nos últimos 50 anos esta zona marcou pela forma mais negativa a cidade de Tomar, quer no aspecto social, quer no aspecto urbanístico, e este é um momento histórico e um daqueles dias em sentimos que a nossa acção enquanto autarcas realmente muda a vida das pessoas e das populações”, disse.
O vereador lembrou igualmente que o futuro traçado para aquela zona ribeirinha assenta num projecto de fruição do rio e da natureza, com a construção de um parque urbano. A construção do parque, que representa um investimento de 2,8 milhões de euros, já se iniciou e prevê-se que a primeira fase esteja concluída até final do ano. “É uma zona de excelência da cidade, central e ribeirinha, mas que estava degradada e de onde as pessoas fugiam”, sublinha Hugo Cristóvão.