Na Serra de Santo António há mais turistas e cada vez menos população
Serra de Santo António fica no concelho de Alcanena, em pleno Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros.
O retrato da aldeia é o de uma população envelhecida, que vive sobretudo do turismo e dos emigrantes que regressaram para gozar a reforma. Habitantes consideram que a beleza e benefícios de viver na serra podiam ser melhor divulgados.
A Serra de Santo António, no concelho de Alcanena, tem vindo a perder cada vez mais população, principalmente jovens e famílias de meia-idade, que deixam a região em busca de melhores oportunidades. No entanto, a aldeia situada no Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, em pleno Maciço Calcário Estremenho, é um local privilegiado para o turismo e também para os emigrantes que querem gozar a reforma numa zona tranquila. Actualmente com cerca de 650 habitantes, a freguesia tem uma população bastante envelhecida, conforme comprova a reportagem de O MIRANTE realizada numa visita à aldeia.
Augusto Ferreira, 90 anos, é um dos residentes mais antigos da povoação e é conhecido e acarinhado por todos. Nascido e criado na Serra de Santo António, afirma que nunca quis ir viver para a confusão das cidades. Começou a trabalhar ainda jovem nas fazendas, ocupação que manteve até se casar e ingressar pela carreira de motorista de autocarros, em Mira De Aire e Torres Novas. Actualmente vive apenas com a esposa, uma vez que os filhos mudaram-se para Lisboa. As maiores diferenças dos seus tempos de juventude, refere, prendem-se com a mecanização, principalmente nos trabalhos agrícolas, com a introdução de máquinas ao invés das tradicionais ferramentas de trabalho. Na curta conversa que teve com o repórter, recordou os tempos em que existia na Serra de Santo António muitas pessoas que exerciam a profissão de apanhador de ervas. “Havia muita gente que ia para a serra apanhar ervas aromáticas para depois comercializar para fins industriais e farmacêuticos. Ainda há algumas pessoas que o fazem, mas já não se dá por elas”, conta.
Abílio Faria e Delfino Vieira também nasceram na serra, mas estiveram emigrados durante vários anos por nunca terem encontrado estabilidade financeira nas suas origens. Delfino Vieira vive no Canadá desde os 20 anos. Abílio Faria emigrou aos 25 anos para França, tendo regressado três anos depois e não voltou a sair da freguesia. Começaram a trabalhar desde novos na agricultura, ofício que exerceram até irem para o estrangeiro. Abílio Faria, reformado depois de ter trabalhado alguns anos numa fábrica de curtumes, em Alcanena, diz que a população da aldeia foi perdendo a união e espírito de entreajuda que existia. A culpa, referem os dois amigos, prende-se com o facto dos locais se irem embora e de serem substituídos por “estrangeiros ou pessoas de fora” que investem na aldeia para gozar férias ou aproveitar a reforma.
Turismo como factor de desenvolvimento
Sónia Ferreira, nascida no Canadá e com os pais naturais da serra, e o marido, Davi, oriundo de Espanha, estão a passar férias na freguesia. Sónia Ferreira visita a serra nas férias desde criança e apesar de nunca ter vivido na região, afirma que gosta de a visitar por lhe trazer memórias de infância. O casal aprecia, particularmente, o sossego e as paisagens da serra, destacando ainda a gastronomia local. Sónia Ferreira diz que é muito raro ver-se pessoas da sua faixa etária naquela zona, falando do caso dos primos que nasceram ali e acabaram por se mudar para as grandes cidades em busca de melhores condições de vida. Na serra, o casal costuma ficar com os dois filhos na casa dos pais de Sónia Ferreira.
À distância de 50 quilómetros, a freguesia tem praias fluviais e cidades maiores como é o caso de Alcanena, Minde, Mira de Aire e até mesmo a Nazaré, onde alguns turistas optam por ir à praia. Gilda Ferreira, proprietária do restaurante e alojamento local “A Gralha” falou com o nosso jornal sobre o turismo e desenvolvimento da região. Os pais nasceram na Serra de Santo António, mas estiveram emigrados em França e no Canadá, voltando à serra em 1973, altura em que Gilda Ferreira tinha cinco anos. Abriram “A Gralha” e, nas últimas décadas, tem sido uma das grandes referências e marcas da Serra de Santo António. A empresária acredita que o município de Alcanena podia contribuir mais para o desenvolvimento da freguesia que, mesmo assim, considera estar a evoluir ainda que a um ritmo lento. Gilda Ferreira vê no turismo um grande factor para o desenvolvimento do concelho e vinca que a Serra de Santo António tem muito potencial e devia ser melhor divulgada. “Podíamos atrair mais portugueses, principalmente jovens, porque há aqui paisagens muito bonitas e actividades ligadas ao campo, como a agricultura e a apicultura, e seria interessante ver os jovens a aprender mais sobre esse sector”, frisa.