Segurança leva ao abate de quase 500 árvores na EN114 em Rio Maior
O corte de árvores de grande porte junto à Estrada Nacional 114 no concelho de Rio Maior não passa despercebido a quem por ali circula com regularidade.
Uma intervenção radical que a Infraestruturas de Portugal justifica em nome da segurança rodoviária e da prevenção de incêndios.
A empresa pública Infraestruturas de Portugal (IP) já mandou abater este ano 429 árvores no troço da Estrada Nacional 114 que atravessa o concelho de Rio Maior, com maior incidência na zona entre Azambujeira e São João da Ribeira, e prevê-se ainda mais 60 abates de árvores até à conclusão da intervenção, que começou em Fevereiro.
Em resposta a questões colocadas por O MIRANTE, a IP informou que os trabalhos ainda se encontram em curso, envolvendo podas, abates e remoção de resíduos. “No que respeita aos abates, foram até à data (4 de Agosto) executados 429, dos quais 55% respeitam a espécies invasoras, nomeadamente acácias e ailantos”, informa a IP, salientando que “o abate e controle destas espécies reveste-se, actualmente, da maior importância, pois estas, dada a sua enorme capacidade de proliferação, constituem um grave e crescente problema para a segurança rodoviária”, vinca a Infraestruturas de Portugal.
Mas nem só árvores invasoras estão na lista negra da IP. Também exemplares de espécies como o carvalho, o cipreste ou o freixo foram cortados pela base. Quanto aos exemplares dessas espécies, “os trabalhos de poda e abate resultam também da análise realizada por técnicos da IP, onde são identificadas situações, que muitas vezes não são visíveis para quem circula na via, como deficiências estruturais que potenciam a queda de ramos ou mesmo das árvores para a via, problemas fitossanitários, como pragas ou doenças, interferência com os equipamentos da via, entre outros”.
A IP diz também que os materiais resultantes da poda ou abate são encaminhados para destino final adequado de acordo com o previsto na legislação de resíduos e disposições ambientais em vigor, conforme estabelecido com a entidade executante. No entanto são muitas as ramagens secas amontoadas nas bermas da estrada, que serão pasto fácil das chamas em caso de fogo.
IP escuda-se na lei
A IP refere que é sua obrigação dar cumprimento ao estabelecido no Decreto-Lei n.° 82/2021, no que respeita à gestão da rede secundária de faixa de gestão de combustível, que obriga ao abate de árvores, de modo a garantir afastamentos mínimos entre copas. Destaca ainda que as actividades de poda e abate de árvores na EN114 foram precedidas do respectivo parecer técnico da especialidade para avaliação das necessidades de intervenção, na sequência das inspecções realizadas em Janeiro e Fevereiro de 2023.
Actualmente não decorrem intervenções de poda e abate de árvores noutras estradas do distrito de Santarém, embora estejam previstas intervenções ainda no corrente ano. A IP conclui informando que está prevista a plantação de árvores em vários concelhos do distrito de Santarém, de modo a compensar, ainda que parcialmente, os abates efectuados. Na sua implantação “será garantido o necessário afastamento à faixa de rodagem, de modo a assegurar que não venham a representar risco futuro para a circulação rodoviária e pedonal”.
“Será que não se banalizou o corte de árvores?”
O abate de árvores tem suscitado algumas críticas e reacções. Um leitor de O MIRANTE, João Correia, deu-nos conta da sua indignação: “Fiquei em estado de choque perante o abate de grande parte destas árvores, pois resido nesta zona praticamente desde que nasci (há 50 anos) e nunca pensei assistir a um grau de insensibilidade e desconsideração desta ordem, a pretexto da aplicação de uma lei que nos deverá proteger do flagelo dos incêndios”.
E questiona: “Por exemplo, qual o contributo de um carvalho-cerquinho isolado, com 80 cm de diâmetro no pé, a cerca de três metros da estrada, para o agravamento de um incêndio? Ou qual o racional de remover um renque completo de árvores (freixos) que ajuda a evitar movimento de massa num talude inclinado junto à estrada, numa zona sem contínuo florestal?”. O cidadão residente em Ribeira de São João, que documentou fotograficamente muitos dos abates ocorridos, considera que estes cortes são um rude e decisivo golpe na beleza paisagística, do sombreamento das estradas e da biodiversidade. “Será que não se banalizou o corte de árvores de grande porte, algumas centenárias, como se fossem simples ervas que voltam a crescer passado alguns meses, com efeitos muito duvidosos na almejada prevenção de incêndios?”, interroga.