Plantação de oliveiras por motivos religiosos gera discórdia em Torres Novas
Município de Torres Novas plantou três oliveiras no Parque da Liberdade para assinalar a passagem da irmã Lúcia pelo concelho na sua juventude.
A decisão não agradou ao Bloco de Esquerda nem ao movimento independente que defendem que não se deve misturar um espaço de louvor à democracia com matérias religiosas sem fundamento.
A Câmara de Torres Novas, liderada pelo socialista Pedro Ferreira, plantou três oliveiras no Parque da Liberdade, espaço de homenagem aos ex-combatentes torrejanos, para perpetuar a passagem da irmã Lúcia (um dos três pastorinhos de Fátima) por aquele concelho. Pelo menos é essa a justificação dada pelo presidente do município e que não agrada a alguns partidos da oposição por considerarem que o espaço em causa nasceu para enaltecer a liberdade e não para ser lugar de homenagens de ordem religiosa.
O primeiro a pronunciar-se foi o Bloco de Esquerda (BE) que, pela voz de Luís Miguel Fanha em assembleia municipal, considerou “anedótica” a justificação dada para a plantação das oliveiras, afirmando que “nada está escrito ou documentado”. Mas mesmo que estivesse, “não justificava esta habilidade manhosa de querer ocupar o espaço público e laico com manifestações de ordem religiosa, pior, ainda para mais bacoca”, afirmou. O eleito do BE sublinhou que “as oliveiras nunca fizeram parte do projecto daquele local cujo objectivo sempre foi enaltecer a Liberdade e homenagear os que lutaram antes do 25 de Abril pela mesma”.
“É no mínimo uma afronta, misturar os valores de Abril, que é de todos e todas, com a crença de cada um. Não lembrava ao diabo, mas lembrou ao presidente da câmara”, disse ainda Luís Miguel Fanha, que não ficou sem resposta. Para Pedro Ferreira, a plantação das três oliveiras no local trata-se de “uma questão de conceitos e de acreditar nas coisas”, defendendo que tal decisão não retirou “o real valor” ao Parque da Liberdade nem a “todos os nomes dos torrejanos que continuam a merecer o maior respeito”.
O assunto foi também abordado na última reunião pública do executivo camarário e acabou por virar discussão acesa entre o presidente do município e o vereador do movimento P’la Nossa Terra, António Rodrigues, que começou por apelidar a homenagem das oliveiras de “embuste”, considerando-as isentas de qualquer significado. “Mesmo que tivessem, como querem impor, não seriam colocadas no Parque da Liberdade que é um espaço memorial da luta pela democracia. São coisas totalmente opostas”, afirmou.
Na reunião, Pedro Ferreira leu o parecer dos serviços onde é referido que “consultadas as fontes documentais relacionadas com assunto e as memórias da irmã Lúcia compiladas pelo padre Luís Condor fica a saber-se que foi apenas Lúcia de Jesus, acompanhando as irmãs mais velhas num rancho de raparigas que veio a pé fazer a vindima do senhor Carlos Godinho”.
“Para mim isto chega. Há sítios em todo o país e em todo o mundo que não tiveram o privilégio, para quem entenda como privilégio, ter a irmã Lúcia no seu concelho quando jovem a trabalhar, e fazem estátuas, monumentos; e nós só para simbolizar a presença dela no campo pusemos três oliveiras onde achávamos que devíamos pôr”, rematou Pedro Ferreira.