Sociedade | 22-08-2023 15:00

Plantação de oliveiras por motivos religiosos gera discórdia em Torres Novas

Plantação de oliveiras por motivos religiosos gera discórdia em Torres Novas
Município plantou três oliveiras no Parque da Liberdade para perpetuar a passagem da irmã Lúcia pelo concelho

Município de Torres Novas plantou três oliveiras no Parque da Liberdade para assinalar a passagem da irmã Lúcia pelo concelho na sua juventude.

A decisão não agradou ao Bloco de Esquerda nem ao movimento independente que defendem que não se deve misturar um espaço de louvor à democracia com matérias religiosas sem fundamento.

A Câmara de Torres Novas, liderada pelo socialista Pedro Ferreira, plantou três oliveiras no Parque da Liberdade, espaço de homenagem aos ex-combatentes torrejanos, para perpetuar a passagem da irmã Lúcia (um dos três pastorinhos de Fátima) por aquele concelho. Pelo menos é essa a justificação dada pelo presidente do município e que não agrada a alguns partidos da oposição por considerarem que o espaço em causa nasceu para enaltecer a liberdade e não para ser lugar de homenagens de ordem religiosa.
O primeiro a pronunciar-se foi o Bloco de Esquerda (BE) que, pela voz de Luís Miguel Fanha em assembleia municipal, considerou “anedótica” a justificação dada para a plantação das oliveiras, afirmando que “nada está escrito ou documentado”. Mas mesmo que estivesse, “não justificava esta habilidade manhosa de querer ocupar o espaço público e laico com manifestações de ordem religiosa, pior, ainda para mais bacoca”, afirmou. O eleito do BE sublinhou que “as oliveiras nunca fizeram parte do projecto daquele local cujo objectivo sempre foi enaltecer a Liberdade e homenagear os que lutaram antes do 25 de Abril pela mesma”.
“É no mínimo uma afronta, misturar os valores de Abril, que é de todos e todas, com a crença de cada um. Não lembrava ao diabo, mas lembrou ao presidente da câmara”, disse ainda Luís Miguel Fanha, que não ficou sem resposta. Para Pedro Ferreira, a plantação das três oliveiras no local trata-se de “uma questão de conceitos e de acreditar nas coisas”, defendendo que tal decisão não retirou “o real valor” ao Parque da Liberdade nem a “todos os nomes dos torrejanos que continuam a merecer o maior respeito”.
O assunto foi também abordado na última reunião pública do executivo camarário e acabou por virar discussão acesa entre o presidente do município e o vereador do movimento P’la Nossa Terra, António Rodrigues, que começou por apelidar a homenagem das oliveiras de “embuste”, considerando-as isentas de qualquer significado. “Mesmo que tivessem, como querem impor, não seriam colocadas no Parque da Liberdade que é um espaço memorial da luta pela democracia. São coisas totalmente opostas”, afirmou.
Na reunião, Pedro Ferreira leu o parecer dos serviços onde é referido que “consultadas as fontes documentais relacionadas com assunto e as memórias da irmã Lúcia compiladas pelo padre Luís Condor fica a saber-se que foi apenas Lúcia de Jesus, acompanhando as irmãs mais velhas num rancho de raparigas que veio a pé fazer a vindima do senhor Carlos Godinho”.
“Para mim isto chega. Há sítios em todo o país e em todo o mundo que não tiveram o privilégio, para quem entenda como privilégio, ter a irmã Lúcia no seu concelho quando jovem a trabalhar, e fazem estátuas, monumentos; e nós só para simbolizar a presença dela no campo pusemos três oliveiras onde achávamos que devíamos pôr”, rematou Pedro Ferreira.

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