Sociedade | 23-08-2023 18:00

Aumentam maus tratos e abandono animal

Aumentam maus tratos e abandono animal
Ana Coutinho e Nuno Henrique Figueiredo trabalham diariamente no Centro de Recolha de Coruche

Nos primeiros sete meses deste ano 149 animais foram acolhidos no Centro de Recolha Oficial de Coruche mas a capacidade parece nunca ser suficiente.

As parcerias com a Associação dos Amigos dos Animais de Coruche e a câmara municipal têm sido cruciais para elevar as taxas de adopção. Contudo, a batalha está longe de estar ganha e a esperança reside na sensibilização pública. Dia 19 de Agosto assinala-se o Dia Internacional do Animal Abandonado.

Nos primeiros sete meses de 2023 entraram no Centro de Recolha Oficial (CRO) de Coruche 149 animais entre cães e gatos. Os animais chegam em todo o tipo de condições e a grande maioria é de raça indeterminada. Cerca de 80 estão em permanência no CRO e muitos já não voltam a sair. Os casos mais complicados são os de animais vítimas de maus tratos e cujos processos seguem para o Ministério Público. Até decisão do tribunal não podem ser adoptados.
O veterinário municipal, Nuno Henrique Figueiredo, recebeu O MIRANTE nas instalações do CRO, onde diz não haver nada a esconder. É veterinário há 40 anos e desempenha funções em Coruche há três décadas. Quando começou a trabalhar ali a capacidade era para albergar 25 cães mas tinha 50. Quando a capacidade aumentou para 50 tinha 100. Se a capacidade for para 200 animais ficam 400. O problema não tem resolução. De ano para ano o abandono de animais aumenta.
Todos os dias toca o telefone no CRO e do outro lado a pergunta é se podem deixar lá o animal. Nuno Henrique Figueiredo pôs um travão e existe uma lista de espera que tem de ser cumprida. Só entram no CRO se houver espaço, até para evitar as lutas de canil. O veterinário quer continuar a manter baixa a mortalidade por esse factor. Este ano só morreu um cão por doença e foram realizadas duas eutanásias por estado avançado de leishmaniose.
As adopções dos animais estão na casa dos 94% graças ao trabalho entre a câmara e a Associação dos Amigos dos Animais de Coruche (AAAC). Uma simbiose perfeita, diz o veterinário, pois apesar de não haver concordância em todas as matérias as duas entidades fazem o melhor pelos animais. Todos os animais doados entre os zero e os sete meses saem do CRO documentados e com data para a esterilização. Nos primeiros sete meses do ano foram realizadas 236 esterilizações e castrações.

Humanizar não é possível
“As pessoas associam o canil municipal à morte de cães mas as coisas não eram assim. Existiriam de certeza excepções à regra mas em Coruche o abate nunca aconteceu. A política da autarquia sempre foi de reter os animais até à sua adopção”, afirma o veterinário municipal.
Por muito trabalho que se tenha não é possível humanizar um animal. “Tenho o dever de tratá-lo bem, mas esse é o limite. Não o consigo levar à escola porque ele não vai aprender a ler. Algumas pessoas, por vicissitudes da vida, transferem esse modo de viver para os animais. Não é positivo, nem para as pessoas nem para os animais”, reitera.
A Câmara de Coruche tem feito um esforço para que não falte nada no CRO. O vereador Pedro Ferreira sublinha o elevado gasto mensal em ração, a melhoria das instalações para os animais, e o aumento das boxes. O autarca gostava ainda de conseguir adquirir uma viatura de recolha de animais durante este mandato. Para já vai ser feita uma conduta de saneamento no CRO que ainda está a trabalhar com fossa.

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