Antigo mecânico do Cartaxo assassinado só foi sepultado ao fim de um mês
Cadáver de João Ramos esteve um mês para ser reclamado pela família.
Sensibilizado com o caso, um antigo amigo do Cartaxo está a fazer os possíveis para dar um final digno ao mecânico que foi brutalmente assassinado.
João Ramos, o mecânico de motos que durante vários anos trabalhou e viveu no Cartaxo, foi assassinado de forma violenta a 19 de Julho, ao que tudo indica a mando da mulher com quem manteria uma relação extra-conjugal, mas o seu corpo levou um mês para ser enterrado porque ninguém o reclamou. Incrédulo com a situação, José Caria, amigo da vítima, contou a O MIRANTE que assim que teve conhecimento que o cadáver continuava por enterrar disponibilizou-se para fazer o reconhecimento e tratar de lhe dar um destino digno.
“Disponibilizei-me de imediato para ir reconhecer o corpo, mas as autoridades [GNR] disseram-me que não valia a pena ir, que tinha que ser a Polícia Judiciária e o Ministério Público a dar autorização. Já os contactei”, disse o membro do Moto Clube Tubarões Portugal, dias antes de uma tia e primos de João Ramos terem, finalmente, reclamado o corpo. As cerimónias fúnebres realizaram-se 34 dias após a morte, a 22 de Agosto, na Igreja de Santa Eufémia, em Penela.
Segundo José Caria, populares e antigos amigos do mecânico, que teve oficina própria no Cartaxo e trabalhou numa outra em Casais das Comeiras, chegaram a mobilizar-se para angariar dinheiro para suportar os custos das cerimónias fúnebres. Na sua opinião, o melhor destino a dar ao corpo de João Ramos seria doá-lo à ciência. “Ele já me tinha falado nisso, que quando morresse gostava que o corpo fosse doado para a medicina”, sublinha.
João Ramos, de 58 anos, mudou-se do Cartaxo para Penela, distrito de Coimbra, há cerca de cinco anos para ajudar a cuidar da mãe e um tio que adoeceram e que entretanto já faleceram. Quem o conhece garante que tem um filho, que nunca reconheceu, e que vive fora do país.
Ex-amante em prisão preventiva
O cadáver de João Ramos foi encontrado num estaleiro junto ao nó da A13, à entrada de Miranda do Corvo. Apresentava evidentes sinais de violência consistentes com agressões de arma branca. A Polícia Judiciária foi accionada e, de imediato, foram desencadeadas diligências que levaram à detenção de Joana Batista, mulher com quem a vítima manteria uma relação extra-conjugal. Tanto Joana Batista como um outro homem, suspeito de envolvimento no crime, encontram-se em prisão preventiva. Há ainda um terceiro suspeito que continua a monte.
O que acontece aos mortos que ninguém reclama
Todos os anos há mortos que ficam por reclamar nos gabinetes medico-legais do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML), sendo a maioria pessoas sem família, em situação de sem-abrigo ou imigrantes. Apesar de as cerimónias fúnebres serem possíveis de realizar após 30 dias sem o corpo ser reclamado, o INML tenta, por uma questão de dignidade, prolongar esse prazo à espera que alguém apareça. Caso não aconteça compete depois às câmaras municipais, onde há delegações do INML, proceder ao enterramento do corpo, que tem a sua campa identificada com um número atribuído pelo cemitério para o caso de aparecer posteriormente algum familiar.