Pôs fim a 45 anos de violência doméstica que a deixaram paraplégica
Ao fim de décadas de sofrimento às mãos do homem com quem teve uma filha, a vítima, residente na Póvoa de Santa Iria, chamou as autoridades perante mais uma ameaça de morte. Agressor de 67 anos está acusado de violência agravada e vai começar a ser julgado no Tribunal de Loures.
Os sinais de violência doméstica já lá estavam desde os tempos de namoro. Os ciúmes e os insultos eram uma constante na sua vida, mas a relação evoluiu para o matrimónio, celebrado em 1977. A partir daí, e com o passar dos anos, os maus-tratos foram-se intensificando e tornando-se cada vez piores até que, em Janeiro de 2022, a vítima, residente na Póvoa de Santa Iria, resolveu colocar um ponto final nos 45 anos de terror físico e psicológico que viveu às mãos do ex-companheiro. O agressor, de 67 anos, está acusado de violência agravada e vai começar a ser julgado em breve no Tribunal de Loures.
Segundo o Ministério Público (MP) de Vila Franca de Xira os primeiros episódios de violência doméstica começaram ainda antes do casamento, com humilhações, proibições e chapadas no rosto. “Na noite de núpcias, depois de ter regressado da Marinha Marcante, o arguido narrou-lhe as aventuras de natureza sexual que mantivera nos portos do México e dos Estados Unidos da América”, diz o MP, explicando que depois da filha do ex-casal nascer os maus-tratos físicos e psicológicos continuaram. Nem depois de a vítima ter ficado paraplégica, devido a um acidente rodoviário com o agressor alcoolizado ao volante, a violência cessou. Seguiram-se anos de agressões e ameaças de morte com uma pistola apontada à cabeça, até ao dia em que a vítima resolveu chamar a Polícia de Segurança Pública após o homem lhe ter apertado o pescoço e dito: “todos temos que morrer um dia”.
Depois de ter sido ouvido em primeiro interrogatório judicial o agressor foi obrigado a sair de casa e ficou proibido de contactar com a vítima.
Mais de 14.800 queixas e 12 homicídios no primeiro semestre
Segundo o portal da violência doméstica, disponível na página da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), entre Janeiro e Junho ocorreram 12 homicídios em contexto de violência doméstica, menos cinco do que no mesmo período do ano passado. Dos 12 mortos, dez eram mulheres, um era criança e outro era homem. Os dados indicam que a PSP e a GNR registaram 14.863 queixas relacionadas com violência doméstica nos primeiros seis meses do ano, mais 490 do que em igual período de 2022. O portal indica também que estavam detidos em Junho por este crime 1.310 pessoas, 324 das quais em prisão preventiva e 986 em prisão efectiva. 1.159 arguidos estavam a cumprir medidas de coacção no âmbito do crime de violência doméstica, 892 dos quais em vigilância electrónica, um aumento de 103 face a igual período de 2022. Um total de 2.438 pessoas estavam, no final do primeiro semestre, integradas em programas para agressores, 189 dos quais em meio prisional e 2.249 na comunidade.