Nas Virtudes ainda sentem injustiça por passe de comboio custar mais 288 euros por ano
Utilizadores do comboio mostram-se indignados por terem que pagar mais 24 euros de passe mensal para andar mais dois quilómetros que os de Azambuja, no mesmo concelho. Junta de Aveiras de Baixo apurou o número total de utilizadores para que a câmara municipal possa decidir se vai suportar o custo excedente ou deixar “a injustiça tremenda” continuar.
O sentimento de revolta e injustiça continua presente nos moradores das Virtudes que apanham diariamente o comboio na estação daquela localidade da freguesia de Aveiras de Baixo para se deslocarem para o trabalho. E para se perceber porquê basta fazer as contas: por um percurso de pouco mais de dois quilómetros até à estação ferroviária seguinte, que fica no mesmo concelho, estes utilizadores pagam mais 24 euros do que os de Azambuja ou de Vila Nova da Rainha. Ou seja, mais 288 euros ao final de um ano. Fazendo a soma completa quem é das Virtudes tem que despender de 780 euros ao final de um ano, ao passo que quem é de Azambuja ou de Vila Nova da Rainha paga 486 euros por 12 meses de passe mensal.
Uma diferença “significativa”, na opinião do presidente da Junta de Aveiras de Baixo, José Martins (PSD/CDS-PP), e que se coloca porque o alargamento do passe Navegante Metropolitano - medida implementada em 2019 que permitiu que os utilizadores passassem a pagar 40,50 euros mensais - cortou ao meio o concelho de Azambuja deixando de fora a estação das Virtudes. “Terem de pagar mais por uma diferença de dois quilómetros é inconcebível e torna-se numa injustiça tremenda quando estamos a falar de munícipes do mesmo concelho”, refere o autarca a O MIRANTE.
No apeadeiro das Virtudes, a pressa de Duarte Jasmins contrasta com a calmaria da localidade que sobressai no mês de Agosto. Prepara-se para apanhar o comboio que parte às 07h29 das Virtudes para Santa Apolónia, em Lisboa, e que o leva até mais próximo do local de trabalho, mas não foge à pergunta. Na sua opinião é injusto que os moradores das Virtudes tenham de pagar mais 24 euros todos os meses por uma viagem de três minutos até Azambuja. Mas, como diz, em tom resignado, “não há alternativa. Temos de trabalhar e quem não tiver passe tem de pagar o bilhete”. Uma passageira que ouve a conversa, mas que pede para não ser identificada, acrescenta que há habitantes do Alto de Azambuja (Alcoentre, Manique do Intendente e Vila Nova de São Pedro) a escolher a estação e que o número de habitantes da aldeia, cerca de 300, não é desculpa para não serem abrangidos. “Alguns já optam por apanhar o comboio directamente em Azambuja. Depois há quem viaje sem bilhete para fugir a estes valores”, atira.
Segundo o resultado do inquérito lançado nos últimos dois meses pela Junta de Freguesia de Aveiras de Baixo, a pedido da Câmara de Azambuja, há entre 65 e 70 pessoas a utilizar o comboio como meio de transporte diário e que têm passe mensal. Destes, apenas uma minoria (entre três e cinco) é que apanha o comboio na estação de Azambuja, sendo que os restantes o fazem no apeadeiro das Virtudes. Estes dados, explica José Martins, já foram enviados para o presidente do município, Silvino Lúcio, para que possam ser analisados. “Entreguei este relatório sob forte expectativa de que a câmara possa subsidiar a diferença a estas pessoas”, sublinha o autarca, que considera que “este processo já devia ter sido fechado há muito”. Agora, a expectativa é que com estes dados o município possa fazer as contas e decidir se tem ou não condições para financiar o excedente, o que equivale a ter de investir aproximadamente 1.560 euros mensais (24 euros para 65 utilizadores).
O assunto tem sido abordado em várias assembleias municipais e reuniões do executivo camarário ao longo dos últimos quatro anos. Na primeira reunião deste ano, o executivo PS que governa o município em acordo com a CDU chumbou uma proposta apresentada pelo Chega para compensar financeiramente os utilizadores da estação ferroviária das Virtudes. Na altura, Silvino Lúcio justificou o sentido de voto dizendo que ia continuar a dialogar com o Governo e a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo no sentido de permitir que os utilizadores das Virtudes passem a pagar o mesmo que os restantes do mesmo concelho. Desde o mandato anterior, liderado por Luís de Sousa, que a autarquia tem levado este assunto junto do Governo que até agora não se mostrou disponível para alargar o Navegante até à estação mais a norte do concelho de Azambuja.