Novos episódios de poluição no rio Maior durante campanha do tomate
Todos os anos na altura da campanha do tomate, o leito do rio Maior enche-se de lamas alaranjadas e detritos provenientes de descargas poluentes que se suspeita terem origem numa fábrica de tomate. Ambientalistas denunciaram novas ocorrências coincidentes com o início da campanha.
O leito do rio Maior, na zona de São João da Ribeira, voltou a encher-se de lamas alaranjadas e detritos, segundo denuncia de quatro movimentos ecologistas, que referem ser coincidente com o início da campanha do tomate, pedindo a intervenção da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e da Inspecção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território.
Em comunicado, o proTEJO - Movimento pelo Tejo, o Movimento Cívico Ar Puro (de Rio Maior), o EcoCartaxo – Movimento Alternativo e Ecologista (do Cartaxo) e o Movimento Ecologista do Vale de Santarém, afirmam que a poluição do rio Maior ocorre desde 1965, no início da campanha do tomate, afectando em particular S. João da Ribeira, no concelho de Rio Maior, onde se situa uma unidade de transformação de tomate. Os movimentos afirmam que, “desde que se iniciou a campanha do tomate, se verificam descargas de águas residuais para o leito do rio Maior, eventualmente sem o tratamento adequado, conforme se depreende do cheiro nauseabundo e da cor vermelha e pastosa”. O comunicado refere que, uma vez que o rio tem pouco caudal neste período de seca extrema, as descargas “têm um severo impacto na qualidade da água que corre pelo seu leito, sendo que as licenças de descarga de águas residuais emitidas pela APA deveriam impor limitações para que as descargas de efluentes apenas pudessem ser efectuadas após um adequado tratamento que evite uma maior degradação da qualidade das massas de água do rio Maior”.
O MIRANTE esteve no local
Em Setembro do ano passado (2022) O MIRANTE foi guiado pelo caminho entre mato cerrado e canaviais até chegar às margens do rio Maior, em São João da Ribeira, por um habitante das redondezas, que pediu para manter o anonimato, e que vive nas imediações da unidade industrial, que quis mostrar o cenário que se repete todos os anos: o leito do rio enche-se de lamas alaranjadas e detritos provenientes da estação de tratamento de águas residuais (ETAR) da fábrica. No entanto, a Tomatagro, fábrica em causa, declina responsabilidades. Contactada por O MIRANTE, a empresa referiu que tem licença de descarga de água e que a sua ETAR funciona em pleno. “Esta campanha já fomos alvo de duas auditorias, elaboradas por organismos oficiais, das quais nada negativo ficou registado e nenhuma acção de melhoria foi indicada”, respondeu na altura a empresa.
De acordo com a denúncia que O MIRANTE recebeu, tanques da fábrica são lavados com mangueiras de alta pressão “directamente para o rio” e há quem tenha visto concentrado de tomate, já podre, ser lançado no rio Maior. O vice-presidente da Câmara de Rio Maior, João Lopes Candoso, disse na altura a O MIRANTE que solicitou uma inspecção aos serviços da câmara na sequência do nosso contacto, os quais garantiram “não ter encontrado vestígio de quaisquer descargas poluentes”. No entanto, o autarca frisou que vai continuar a ser feito um “acompanhamento regular” da situação pelas autoridades competentes.