Sociedade | 04-09-2023 10:00

Surto de sarna e infestação de percevejos em lar ilegal em Vila Franca de Xira

Surto de sarna e infestação de percevejos em lar ilegal em Vila Franca de Xira
Vários idosos resgatados de um lar ilegal, em Vila Franca de Xira, estavam infectados com sarna e apresentavam lesões na pele provocadas por percevejos

Maioria dos idosos resgatados de um lar ilegal em Vila Franca de Xira estavam infectados com sarna e apresentavam lesões na pele provocadas por percevejos. Autoridade de Saúde fala em “deficientes cuidados” de saúde e higiene. Caso seguiu para o Ministério Público.

Na Quinta Nossa Senhora da Conceição, que fica numa zona isolada próxima do Senhor da Boa Morte, em Vila Franca de Xira, funcionava há quatro anos um lar ilegal que acolhia actualmente 40 idosos e que teve “encerramento imediato”, decretado pelo Instituto da Segurança Social (ISS) após uma denúncia. Na sequência da intervenção, confirmou a Autoridade de Saúde Pública, veio a descobrir-se que 34 dos idosos resgatados e encaminhados para lares licenciados apresentavam “lesões na pele provocadas por infestação por escabiose - vulgarmente conhecida por sarna - e percevejos”, na sequência de “deficientes cuidados de saúde e higiossanitários”. O caso foi participado ao Ministério Público.
“Todos os utentes se encontravam clinicamente estáveis na observação realizada pela Autoridade de Saúde, com apoio de dois médicos. Após avaliação clínica dos idosos foram emitidas declarações médicas tanto para os utentes sintomáticos como para os utentes/contactos próximos assintomáticos, com recomendações terapêuticas e preventivas”, indicou esta entidade em resposta escrita enviada à Lusa, acrescentando que nenhum desses utentes teve “necessidade de encaminhamento para cuidados hospitalares”.
No primeiro dia da evacuação foram transportados em ambulâncias 32 idosos para instituições sinalizadas e os restantes oito, que passaram a noite naquela estrutura, foram levados pelas 15h30 numa acção que envolveu, uma vez mais, a participação de corporações de bombeiros do concelho de Vila Franca de Xira. O coordenador municipal da Protecção Civil de Vila Franca de Xira, António Carvalho, adiantou aos jornalistas no final da operação que os idosos foram encaminhados para lares de vários concelhos, nomeadamente Santarém, Cartaxo, Lisboa, Sintra e Montijo. Ao que foi possível apurar o proprietário do lar, que esteve no local a acompanhar parte da operação, é de origem chinesa, mas quem o geria era um casal de nacionalidade paquistanesa.

Famílias “em choque” com evacuação nocturna
O ISS garantiu que “a transferência dos idosos para outros locais foi assegurada em articulação com os seus familiares”, mas estes, por sua vez, receberam com indignação e surpresa a operação de resgate que no primeiro dia, a 22 de Agosto, se prolongou até às 24h00. “Mete-se polícia, bombeiros e arranca-se os velhinhos da cama não sei para onde. Estou em choque pela maneira como fizeram isto”, disse Teresa Soares, filha de um utente de 100 anos, em declarações a O MIRANTE enquanto aguardava, na tarde de quarta-feira, 23 de Agosto, por permissão para entrar no lar onde o seu pai estava há três meses. Teresa Soares lamentou não terem informado as famílias sobre os lares para onde foram transferidos os idosos, confessando que pelas 15h00 do segundo dia do resgate ainda nada sabia acerca do paradeiro do seu pai. Esta familiar, residente em Lisboa, disse ainda, tal como outros que o nosso jornal questionou, desconhecer que o lar, que dava pelo nome de Arco Íris, estava em situação ilegal. “Pagava 850 euros por mês e tinha recibo. Já tinha estado em cinco lares e era a primeira vez que estava satisfeito, era bem tratado, visitava-o todas as semanas”, sustentou.
Outros dois familiares de uma idosa de 84 anos, uma das que foi diagnosticada com sarna e apresentava escaras no corpo, também referiram a O MIRANTE que até ao momento em que receberam uma chamada a dar conta da operação nunca suspeitaram de que do lar fosse ilegal e que os seus utentes não fossem devidamente cuidados. A idosa era utente o lar há três anos e, afirmaram, transmitia-lhes que gostava de estar no lar, onde já tinha feito amizades. “Não havia razões de queixa”, vincou o familiar residente em Almada.

Dois idosos tiveram que receber assistência hospitalar

Dois dos 32 idosos que foram retirados do lar no primeiro dia de operações tiveram que receber assistência hospitalar. Segundo uma fonte ouvida por O MIRANTE, um dos utentes apresentava ferimento aberto na cabeça e outro no sobrolho, ambos com tempo superior a seis horas. As feridas foram, alegadamente, causadas por quedas que, segundo o coordenador da Protecção Civil nada tiveram a ver com a operação de evacuação do lar. Ambos os idosos tiveram alta no dia seguinte.

Sarna e percevejos são causas da falta de higiene

A sarna humana ou escabiose, doença cutânea infecciosa e contagiosa, é causada por um parasita que vive apenas na pele humana. Quando se fica infectado por sarna significa que a fêmea escavou um túnel na pele humana e lá depositou os seus ovos provocando uma reacção alérgica. No que toca aos percevejos, que habitualmente não têm mais de sete milímetros, sabe-se que a sua presença em contacto com a pele é suficiente para provocar borbulhas, comichão e desespero. Os percevejos, insectos resistentes, escondem-se em colchões e alimentam-se de sangue humano. Ambos proliferam mais facilmente onde há falta de condições de higiene.

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